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Em casa, o Milwaukee Bucks busca conquistar seu segundo título de NBA

O time liderado Giannis Antetokounmpo tem a chance fazer históroa hoje se vencer o Phoenix Suns

Em abril de 1971, o dominante Milwaukee Bucks liderado por Kareem Abdul-Jabbar (então chamado Lew Alcindor) conquistou o primeiro e único título da história da franquia ao vencer o Baltimore Bullets (hoje Washington Wizards) por 4-0. E agora, cinquenta anos depois, o time liderado Giannis Antetokounmpo tem a chance de igualar esse feito e escrever sua própria história.

No Jogo 5, os Bucks finalmente se tornaram o primeiro time na série a vencer uma partida fora de casa, e agora voltam para Milwaukee com a chance de fechar a série diante de sua torcida – o que é ainda mais importante no caso dos Bucks, já que nenhum time nesses playoffs tem sido mais dependente do fator casa que Milwauikee. Jogando nos seus domínios, os Bucks estão 9-1 nessa pós-temporada com saldo de pontos de +13,5 a cada cem posses de bola; fora de casa, no entanto, são 6 vitórias e 6 derrotas e saldo negativo de -1,5 por 100 posses. É normal times jogarem melhor dentro de casa do que fora, mas os Bucks são um caso extremo.

Por esse motivo em especial que a vantagem de mando de quadra dos Suns aparecia como variável chave nas Finais, e por isso que a vitória dos Bucks no Jogo 5 foi tão gigantesca – um Jogo 5, aliás, que novamente gerou algumas linhas esquisitíssimas, com Phoenix perdendo apesar de arremessar 55% de quadra, 68% (!!!) da linha dos três pontos e 91% nos lances livres. Ao invés de defesa, foi um jogo no qual Milwaukee venceu pelo puro volume ofensivo, com seus próprios números absurdos (57% de quadra e 50% de três, 53% nos lances livres) e o seu Big Three combinando para 88 pontos, 20 rebotes e 24 assistências em quadra.

E a verdade é que, apesar das vitórias bastante apertadas nos Jogos 3 e 4, os Bucks tem estado em controle dessa série desde o Jogo 2. Depois dos Suns terem massacrado a defesa de trocas dos Bucks no primeiro confronto, Milwaukee buscou um equilíbrio maior entre sua defesa tradicional de recuar o pivô no garrafão, mas sem dar totalmente espaço para os chutes médios. Brook Lopez tem ficado um pouco mais alto do que o normal no corta-luz, mais bem posicionado para contestar bolas de meia distância, e apostando que armadores dos Suns não tem a pura velocidade e explosão para ultrapassar Lopez e chegar até o aro.

Enquanto isso, o segundo defensor é bastante agressivo recuperando e contestando o chute por trás, e os demais defensores espalhados pela quadra fazem pequenos movimentos na direção da bola para quebrar o ritmo da infiltração mas sem deixar o seu marcador livre para um chute de longe. Parece fácil, mas não é – a execução é difícil e exige enorme coordenação e comunicação para funcionar.

No Jogo 2, os Bucks foram um pouco agressivos demais com esses ataques à bola vindos da ajuda, o que permitiu aos Suns passes rápidos para o perímetro em busca de chutes fáceis de três pontos – e, mesmo assim, isso só foi um problema porque Phoenix acertou insustentáveis 50% das suas bolas longas. Desde o Jogo 3, no entanto, os Bucks encontraram o equilíbrio perfeito entre ajudar e manter a marcação no perímetro, a defesa de PnR continuou ótima, e o resto é história.

O resultado foi que os Suns de repente não conseguiam mais achar bons chutes de três nem chegar perto do aro para arremessos fáceis, ao invés disso optando por uma dieta extrema de chutes de meia distância que coloca toda a matemática da série agindo contra você. Depois de arremessar 66 bolas de três nas vitórias dos Jogos 1 e 2, Phoenix arremessou apenas 38 nos Jogos 4 e 5 enquanto seus chutes perto da cesta estão mais escassos que de qualquer time da NBA na temporada.

Existe um risco nessa estratégia, é claro; Phoenix é talvez o melhor time da NBA arremessando da meia distância, com dois verdadeiros mestres nessa arte em Paul e Booker. Essa qualidade, na verdade, foi parte do que fez Phoenix tão mortal nessa pós-temporada, se aproveitando de defesas que eram desenhadas para ceder exatamente esses chutes ineficientes do meio e fazendo chover com Paul e Booker, forçando por sua vez novos ajustes e abrindo espaço para todo o resto do ataque. E nós vimos nos últimos jogos como Booker se aproveitou dessa marcação e da falta de ajuda para atacar individualmente, achar seus lugares favoritos dentro do arco e anotar 82 pontos nos Jogos 4 e 5.

Ainda assim, por melhor que os Suns sejam dessa região da quadra e estejam confortáveis com as bolas médias, eles ficaram extremos demais nesse tipo de lance, e isso não é uma coisa boa. Esses chutes não geram rebotes de ataque, nem muitos lances livres – dois problemas para os Suns na série – e geralmente envolvem um jogador só segurando a bola e arremessando, o que acaba por alienar e esfriar o resto dos companheiros.

Os Bucks inclusive merecem bastante crédito por não entrar em pânico diante de Booker pegando fogo e manter a estratégia pensando no longo prazo, sabendo que quando Booker cansasse, começasse a errar ou fosse para o banco, o resto do time estaria completamente fora do jogo e o ataque dos Suns iria estagnar – que foi exatamente o que acabou acontecendo.

É excelente para os Suns que eles tenham a opção de simplesmente dar a bola nas mãos de Booker (ou Paul) quando o ataque emperra e esperar a magia acontecer, mas tem que ser usado como tal: uma opção. Phoenix está no seu melhor quando roda a bola e acha cestas fáceis para todos os jogadores ao redor da quadra, e contra Milwaukee o time está caindo fácil demais na armadilha de viver das jogadas de isolação, tirando seus coadjuvantes do jogo e comprometendo o ataque como consequência. E um exemplo perfeito disso foi a jogada decisiva do Jogo 5, o roubo de Holiday sobre Booker: observe como Booker mergulha para a cesta sem prestar atenção ao resto do time, sem saber onde estão os companheiros, e acaba ficando preso entre três defensores sem um plano, expondo demais a bola no ar e deixando fácil demais para Holiday conseguir o roubo.

Do outro lado da quadra, os Bucks não são nem de longe tão bons quanto na defesa, especialmente quando forçados a jogar na meia quadra, mas estão compensando o suficiente com os pontos fáceis que conseguem nos rebotes de ataque e em transição. Ajuda muito também que Pat Connaughton e Bobby Portis estão pegando fogo dos três pontos e oferecendo defesa e versatilidade suficientes para serem armas legítimas em quadra, ao invés de jogadores a serem escondidos. E, é claro, os Suns ainda não tem resposta para Giannis.

E os Bucks também parecem ter encontrado algo especial no jogo a dois entre Middleton e Giannis. Eu já escrevi sobre como usar mais Giannis no corta-luz foi fundamental para destravar todo seu potencial, mas a combinação com Midleton em particular tem sido devastadora. Defesas sabem que não podem trocar a marcação e deixar Giannis dominar alguém menor, mas Giannis puxa tanta atenção como ameaça no garrafão que obriga os pivôs a defenderem ele mais de perto – abrindo todo o espaço do mundo para Middleton chutar de meia distância ou castigar pobres coitados com pontes-aéreas.

Ao longo da série, os Suns tem tentado seus ajustes para responder desse lado da quadra, e no Jogo 5 o claro ponto de ênfase foram os rebotes ofensivos; em especial, os Suns tiraram Paul de Tucker – onde ele se escondia defensivamente – a fim de minimizar seu impacto nos rebotes ofensivos. E deu certo: os Bucks pegaram apenas 11 rebotes de ataque, pior marca desde o Jogo 1, e Tucker em especial teve zero. Mas, por outro lado, isso colocou Paul defendendo Holiday e facilitou demais para que os Bucks o envolvessem nas ações e caçassem defensivamente o armador em busca de pontos fáceis o jogo todo.

E, conforme os Suns corriam para tentar fazer ajustes e minimizar esse impacto, você podia ver que a defesa da equipe começou a quebrar nesse Jogo 5 – presa entre diferentes alternativas, ou então demorando um pouco a mais para tomar decisões.

Então se você quer entender como os Suns perderam o Jogo 5 mesmo sem ceder rebotes ofenviso e chutando 55-68-91, é por tudo isso: eles não geraram chutes de três nem lances livres suficientes para esses percentuais terem um impacto tão grande quanto poderiam, enquanto sua defesa simplesmente entrou em colapso e permitiu aos Bucks chutarem surreais 58% de quadra.

A capacidade insana de acertar chutes difíceis de Paul e Booker e o aproveitamento nas bolas longas foram as únicas coisas que sequer mantiveram os Suns no jogo, mas ainda assim não foi suficiente. Tirando o primeiro quarto – quando Milwaukee cometeu 6 TOs e permitiu aos Suns sair em transição e conseguir bons arremessos – os Bucks novamente ditaram o tom do jogo, fizeram os Suns jogarem o jogo nos seus termos, e mais uma vez controlaram a partida rumo a uma vitória crucial.

E, se conseguirem repetir isso no Jogo 6, eles têm tudo para conquistar o título em casa. E não se engane, o Jogo 6 É o jogo para os Bucks fecharem as Finais; a última coisa que querem é entregar essa chance em casa e serem obrigados a vencer um Jogo 7 fora de casa. Os Suns, é claro, não vão oferecer vida fácil para os Bucks; é seu primeiro jogo eliminatório na pós-temporada, e nós já vimos que os Suns tem qualidade e poder de fogo para bater de frente com qualquer um nos seus melhores dias.

Mas Milwaukee está a um passo da história, e sabe que o Jogo 6 é a sua grande chance – uma chance que não podem deixar escapar sob hipótese alguma.

Vitor Camargo
Colunista do UOL Esporte

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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