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Parte traseira do avião foi a mais destruída e dificulta busca de corpos

As equipes que trabalham na retirada de corpos e escombros da tragédia aérea que matou 62 pessoas em Vinhedo (SP) encontraram “um desenho da aeronave no chão”. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o avião da Voepass “caiu chapado” no terreno de uma casa, apresentando a área da cabine mais preservada e com grande destruição por conta do incêndio da metade para a cauda.

Segundo o capião Michael Cristo, porta-voz do Corpo de Bombeiros, as características de destruição da aeronave e o espaço do terreno direcionam os trabalhos para retirada das vítimas.

“A gente está com o desenho da aeronave no chão. Consegue identificar por fileiras. Estamos fazendo isso de propósito, da cabine para a cauda, e seguindo conforme são localizados os corpos daquela fileira e parte para a próxima. Todos os corpos estão como se estivessem sentados nos seus respectivos assentos”, descreve.

O bombeiro explica que pela dinâmica do terreno, a parte da frente apresenta dano menor, fazendo com que a retirada dos primeiros corpos não fosse tão difícil, mas que conforme o trabalho vai avançando, há uma dinâmica mais traumática. “[A aeronave] está mais destruída, o incêndio pegou mais da metade para o final”, diz.

A operação mobiliza pelo menos 80 bombeiros, que após o fim do trabalho externo da perícia, ainda na madrugada, começaram a “recortar partes da aeronave” para acessar os corpos.

“Algumas partes são pequenas, o próprio bombeiro consegue, com a força dele, movimentar. Algumas são mais pesadas, e temos equipamentos para isso, para fazer a movimentação. Quando identificamos nos destroços um possível corpo, as equipes de identificação entram, catalogam e colhem o máximo de evidências”, explica Cristo.

Um fator que tem auxiliado nos trabalhos é o terreno onde o avião caiu. O quintal da residência possui um gramado amplo, que favorece a movimentação de peças pesadas, permitindo o acesso aos corpos.

“O avião caiu no quintal dessa residência, é um gramado amplo. A gente consegue tirar as peças mais pesadas, aquilo que tá obstruindo para chegar a vítima, consegue movimentar desse terreno, tem espaço para isso. Tira do lugar que caiu e movimenta. Criamos uma área de depósito. O terreno plano e gramado, de certo modo, facilitou nosso trabalho”, completou o capitão.

Equipes especializadas em tragédias
Os trabalhos nos escombros do avião com 58 passageiros e quatro tripulantes que caiu em Vinhedo (SP) contam com equipes que já atuaram em tragédias como as enchentes do Rio Grande do Sul, o terremoto na Turquia e no temporal de São Sebastião (SP).

De acordo com o coronel Cássio Araújo de Freitas, comandante geral da Policia Militar de São Paulo, pelo menos 200 policiais, integrantes do Corpo de Bombeiros, do Instituto de Criminalística e do IML atuam no local da queda, e “a presença de homens e mulheres que já atuaram em outras tragédias garante a organização desse trabalho difícil”.

Até a tarde deste sábado (10), 43 corpos foram retirados dos escombros da aeronave. As caixas-pretas recolhidas na noite de sexta (9) já estão em Brasília (DF), e equipes do Cenipa trabalham na extração dos dados, primeiro no equipamento de voz, e posteriormente no que registra dados.

“Neste momento os investigadores estão num importante trabalho de extração desses dados, que poderão nos contar o que aconteceu nesse trágico evento. Não existe previsão de término do trabalho. Estamos priorizando a qualidade”, pontuou o brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa.

A tenente-coronel Claudia Andrea Beni, diretora da Defesa Civil de São Paulo, destacou os esforços no acolhimento de familiares e trabalho para auxiliar na identificação dos corpos.

Os parentes estão sendo levados para dois hotéis na cidade de São Paulo, e de lá passam por entrevistas e coleta de informações e materiais no Instuto Oscar Freire.

“Há apoio de médico, psicólogos, auxílio funeral, tudo feito pelo governo do estado com apoio da empresa Voepass. Ficaremos até o final desse processo, para apoiar todos os parentes das vítimas.”

Investigação
A Polícia Civil informou que o inquérito será instaurado na delegacia de Vinhedo para apurar todos os fatos relativos ao acidente. Delegado titular da 1ª Seccional de Campinas, José Antônio Carlos de Souza ressaltou o trabalho de compartilhamento de informações entre todas as instituições envolvidas para minimizar o sofrimento dos familiares.

Já o superintendente da Polícia Federal, Rodrigo Sanfurgo, destacou que a PF trouxe de Brasília seus melhores equipamentos e profissionais, que só sairão de Vinhedo “quanto os trabalhos forem finalizados”.

“Difícil falar em prazo, mas nós podemos afirmar que estamos trabalhando incansavelmente para finalizar esse trabalho e confortar todoas as famílias. Estamos entregando todo nosso esforço”, disse Sanfurgo.

Cronologia da tragédia
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.

Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu edifício em São Paulo ao tentar pousar.

Inicialmente, a Voepass noticiou que 61 pessoas tinham morrido após a queda do avião. Na manhã de sábado (10), o número de mortes subiu para 62.

A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 13h20.
O avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar.
Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o ‘Salvaero’ foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio.

A Prefeitura de Vinhedo confirmou, por volta de 15h30, que não havia sobreviventes. O governo do Paraná lamentou a morte de pelo menos oito servidores e profissionais ligados diretamente ao estado. São docentes e médicos da Unioeste, um professor da rede estadual e um funcionário da Sanepar.

O programador de 41 anos Rafael Fernando dos Santos, de Florianópolis, e a filha dele, Liz Ibba dos Santos, de 3 anos, estavam na aeronave. Segundo familiares, Rafael tinha ido a Cascavel para buscar a menina, que passaria o dia dos pais na capital de Santa Catarina.

Dentre as vítimas também estão o árbitro de judô Edilson Hobold, de 52 anos; o representante comercial Ronaldo Cavaliere, de 43 anos; além do casal formado pelo policial rodoviário federal Hiales Carpine Fodra, de 33 anos, e a fisiculturista Daniela Schulz Fodra.

As médicas residentes de oncologia clínica Arianne Albuquerque Estevan Risso e Mariana Comiran Belim também faleceram.

A comissária de bordo Rubia Silva de Lima, que morava em Bonfim Paulista, também faleceu no acidente.

Quais as hipóteses?
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.

O estol é uma situação na qual a asa perde completamente a sustentação útil, o que causa a queda brusca do avião. A depender da altitude e da condição, é possível recuperar a altitude em voo.

O estol pode acontecer, por exemplo, por formação de gelo sobre as asas — e na rota dessa aeronave havia essa formação, segundo pilotos ouvidos pelo g1 e pela Globonews.

Em entrevista na noite desta sexta, a VOEPASS afirmou que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem em Cascavel.

Os especialistas avaliam que a formação de gelo sobre as asas pode ser uma das hipóteses. Apesar disso, todos são unânimes em afirmar que não existe um único fator que cause um acidente e que é prematuro tirar conclusões a partir dos vídeos ou das informações divulgadas.

Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o modelo que caiu em Vinhedo, ATR-72-500 da VOEPASS, é turboélice com 74 assentos. A aeronave é fabricada pela ATR, com sede na França, que é uma das maiores fabricantes de aviação do mundo. Ela estava com a documentação em dia e todos os tripulantes tinham habilitação válida.

De acordo com a fabricante, o ATR-72-500 pode voar com velocidade máxima de 511 km/h. O modelo tem 27 metros de comprimento e de envergadura, além de uma autonomia de voo de 1.324 quilômetros. O peso máximo que o avião pode carregar em serviço é de 7 mil quilos.

O avião tinha 14 anos de fabricação e era de um modelo conhecido no mundo da aviação por sua capacidade de operar em aeroportos de pista curta e de difícil acesso no Brasil e em outras partes do mundo, especialmente na Ásia, onde houve outros acidentes.

Ficha técnica do ATR-72-500 (segundo a fabricante):

Número de assentos: 74
Velocidade de cruzeiro: 511 km/h
Comprimento: 27 metros
Envergadura: 27 metros
Altura: 7,65 metros
Autonomia de voo: 1.324 km
Como estava o tempo no momento da queda?
Meteorologistas apontaram “áreas de instabilidade” e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde o avião caiu.

De acordo com o Climatempo, no momento exato em que a aeronave estava fazendo a aproximação havia um “forte vento” de cauda – o que aumenta a velocidade do avião em relação ao solo.

“Estimativas de modelos meteorológicos indicam temperaturas entre -9° a -11° C na altura correspondente a 500hPa na região de Vinhedo por volta das 13h local”, disse o órgão.

O que diz a VOEPASS?
O CEO da Voepass Linhas Aéreas, Eduardo Busch, concedeu entrevista coletiva na noite desta sexta e afirmou que os pilotos eram experientes e que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem.

Mais cedo, a companhia aérea comunicou em nota que prioriza prestar irrestrita assistência às famílias das vítimas e colabora efetivamente com as autoridades para apuração das causas do acidente.

“A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição de voo, com todos os seus sistemas aptos para a realização da operação”.

Investigação
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que oficiais do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) estão em posse das duas caixas-pretas do avião.

Militares do Seripa 4, órgão regional do Cenipa em São Paulo, chegaram em Vinhedo no final da tarde e, além de recuperar as caixas pretas, iniciaram os trabalhos de investigação do acidente.

Segundo a FAB, o modelo ATR-72 possui duas caixas-pretas: uma que era responsável por gravar o áudio da cabine dos pilotos e uma segunda gravava dados da aeronave. Elas serão levadas para Brasília.

Em nota, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) lamentou o acidente e disse que vai monitorar “a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa, bem como adotando as providências necessárias para averiguação da situação da aeronave e dos tripulantes”.

“A Aaeronave operada pela Voepass acidentada em Vinhedo (SP) nesta sexta-feira, 9 de agosto, um ATR-72, foi fabricada em 2010 e se encontrava em condição regular para operar, com certificados de matrícula e de aeronavegabilidade válidos. O voo contava com quatro tripulantes a bordo no momento do acidente e todos estavam devidamente licenciados e com as habilitações válidas.

A Anac continua monitorando a prestação do atendimento às vítimas e seus familiares pela empresa. Além disso, a Agência segue no acompanhamento dos desdobramentos das investigações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)”, disse a Anac.

Já a Polícia Federal instaurou inquérito para investigar o acidente. Um ‘gabinete de crise’ foi montado pela corporação na casa de um morador dentro do condomínio onde houve a tragédia.

Nota FAB
A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que, por meio do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), foi acionada para atuar na ocorrência da queda da aeronave da Passaredo, de matrícula PTB 2283, registrada na tarde desta sexta-feira (09/08), em Vinhedo (SP).

Investigadores do CENIPA e do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA IV), órgão regional do Centro, localizados em São Paulo, já estão a caminho para realizar a Ação Inicial da ocorrência.

Nota companhia aérea
A VOEPASS Linhas Aéreas informa a ocorrência de um acidente envolvendo o voo 2283- avião PS – VPB, nesta terça-feira, dia 09 de agosto, na região de Vinhedo/SP. A aeronave decolou de Cascavel/PR com destino ao Aeroporto de Guarulhos, com 57 passageiros e 4 tripulantes a bordo.

A VOEPASS acionou todos os meios para apoiar os envolvidos. Não há ainda confirmação de como ocorreu o acidente e nem da situação atual das pessoas que estavam a bordo.

A Companhia está prestando, pelo telefone 0800 9419712, disponível 24h, informações a todos os seus passageiros, familiares e colaboradores.

A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição operacional, com todos os seus sistemas aptos para a realização do voo.

Nota aeroporto de Cascavel
A gestão do Aeroporto Regional de Cascavel informa que aguarda informações da companhia aérea Passaredo que, no momento, é o único órgão que detém informações oficiais.

Uma operação padrão de emergência regida pela equipe do Aeroporto está em curso para entrar em contato com as famílias de possíveis vítimas.

A aeronave que saiu do Aeroporto Regional de Cascavel com destino a Guarulhos, caiu cidade de Vinhedo, São Paulo, na tarde desta sexta-feira (9).

Nota Ministério Portos e Aeroportos
O Ministério de Portos e Aeroportos (MPor) lamenta profundamente o acidente envolvendo a aeronave com passageiros, ocorrida em Vinhedo-SP, no início da tarde desta sexta-feira (9), e manifesta solidariedade aos familiares e amigos das vítimas.

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) está acompanhando a prestação do atendimento aos familiares pela empresa aérea, bem como adota as providências necessárias para averiguação da situação regulamentar da aeronave e dos tripulantes, no âmbito de suas atribuições.

O Governo Federal acompanha ainda os desdobramentos das investigações oficiais sob competência do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).

Por João Gabriel Alvarenga, Fernando Evans, Marcello Carvalho, Gabriella Ramos, Arthur Menicucci, Arthur Stabile, g1 Campinas e Região

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