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7 a 1: Assim se Passaram Dez Anos…

Para muitos brasileiros, o futebol é mais do que um esporte; é uma parte intrínseca da identidade nacional. A paixão pelo futebol corre nas veias da nação, alimentada por histórias de glórias passadas e derrotas inesquecíveis. Como consultor especializado em branding, acredito que essas histórias trazem lições valiosas sobre resiliência, identidade e gestão de crises.

Paixão Adolescente e Memórias Amargas

Minha infância foi embebida pela ufanização da seleção brasileira devido à conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970. Nasci dois anos depois, mas cada história que eu ouvia, cada fotografia do Pelé erguendo a taça Jules Rimet, contribuía para fortalecer essa mística. O futebol era mais do que um jogo; era uma expressão de identidade nacional, uma prova de que, apesar de todas as dificuldades, o Brasil podia ser o melhor do mundo. Assim, fui crescendo com essas narrativas.

Quando cheguei à adolescência, a paixão pelo futebol foi revigorada de maneira espetacular com o time de 1982. A trupe brasileira da Copa da Espanha encantava não só pelo talento, mas pela beleza do jogo. O futebol-arte, liderado por Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e companhia, era um Cirque du Soleil em campo, onde cada passe, drible e chute ao gol eram executados com uma precisão quase artística. Mas a mão erguida do goleiro Valdir Perez sinalizando, para Deus sabe quem, que o escanteio italiano havia saído, nos custou a súbita eliminação da competição. Esse momento deixou um gosto amargo, mas não apagou o brilho da equipe.

Os Momentos de Glória

Resumindo minha trajetória como torcedor, vi o Brasil ser campeão mundial de futebol duas vezes. A primeira, em 1994, nos Estados Unidos, foi um momento de redenção após 24 anos de espera. A final contra a Itália, decidida nos pênaltis, foi um teste para os corações brasileiros até o grito de “é tetra!” ecoar por todo o país quando Roberto Baggio errou o último pênalti. A expressão imortalizada por Galvão Bueno, que dispensa apresentações e comentários, foi acompanhada de um abraço caloroso em nada menos do que Pelé, uma figura cuja importância para o futebol transcende qualquer descrição possível. Esse título trouxe uma alegria indescritível e uma sensação de alívio, como se um peso tivesse sido tirado dos nossos ombros.

O segundo título que testemunhei foi na Copa da Coreia-Japão, em 2002. A seleção de Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho jogou com uma maestria que revigorou a alma do torcedor brasileiro. A final contra a Alemanha, vencida por 2 a 0 com dois gols de Ronaldo, foi um espetáculo de habilidade e determinação. Nessa Copa, os jogos eram transmitidos de madrugada por conta do fuso horário, o que tornava a experiência diferente. Foi também nessa Copa que Zagallo, em resposta às severas críticas da imprensa, proferiu seu famoso desabafo: “Vocês vão ter que me engolir”. Essa frase se tornou um símbolo de resiliência e confiança.

A Grande Derrota e Seu Impacto

Mas nem todas as memórias são doces. Infelizmente, também vi a seleção canarinho sofrer uma amarga derrota, que marcou profundamente a história e o meu inconsciente, também. Há exatos dez anos, na Copa do Mundo do Brasil, para atormentar ainda mais meu juízo, o plantel brasileiro perdeu por 7 a 1 para a Alemanha. Até hoje, nada para mim explica ou justifica o ocorrido. Nem a previsão dos Simpsons, muito menos a CPI do Congresso Nacional. Só consigo associar que o Brasil sediar copas traz mal agouro: vide a decepção da final da Copa de 1950, no Maracanã.

Lições para o Marketing

Os gatilhos estão por toda a parte

A verdade é que o “7 a 1” tornou-se símbolo de uma grande derrota, não apenas no futebol, mas também em outros contextos, como na política. Dez anos depois, exatamente no dia 29 de maio de 2024, ouvi a metáfora ser usada por uma comentarista da rádio CBN, que associou as últimas derrotas do Governo Lula no Congresso ao 7 a 1. Bastou essa analogia para os ouvintes entenderem a extensão do revés político de forma imediata e visceral, provando a profundidade do impacto que o evento de 2014 teve na psique coletiva brasileira.

O Efeito de Halo Negativo

Agora, para os empresários e os profissionais de comunicação mais atentos que chegaram até aqui, perceberam que o tema principal deste artigo é sobre o Efeito de Halo Negativo em situações de crise. Em marketing, uma crise pode desencadear um evento negativo que pode prejudicar a percepção geral de uma personalidade, marca ou produto. Assim como o 7 a 1 impactou a visão do futebol brasileiro e virou um bordão, um erro de marketing pode afetar significativamente a reputação de uma empresa ou pessoa. É crucial aprender com essas lições e estar preparado para gerenciar crises de maneira eficaz, protegendo a integridade e a imagem da marca.

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