Alcolumbre criticou a falta de diálogo do governo com o Congresso sobre o tema. Em contrapartida, Wagner reclamou da falta de compromisso do Legislativo em cumprir acordos feitos com o Executivo, especialmente ao pautar um assunto que havia sido amplamente discutido em reuniões com os presidentes das Casas.
A medida representa uma derrota significativa para o governo, forçando a equipe econômica a buscar alternativas para compensar uma perda de arrecadação estimada em R$ 10 bilhões para este ano. Com a rejeição dos decretos, o Congresso reverte um aumento de imposto implementado por decreto presidencial.
Segundo o Ministério da Fazenda, a não cobrança do IOF mais elevado exigirá um aumento no bloqueio de gastos do Orçamento de 2025 para garantir o cumprimento da meta fiscal.
Interlocutores indicaram ao g1 que a mudança de postura de Alcolumbre e do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em relação ao IOF, decorre de desentendimentos acumulados entre o Executivo e o Legislativo.
Durante a sessão, Alcolumbre também expressou insatisfação com outro assunto: um projeto de lei sobre a geração de energia eólica offshore. Ele argumentou que o Congresso tem sido alvo de críticas injustas quanto ao aumento das contas de energia após a derrubada de vetos presidenciais.
Outra fonte de insatisfação, compartilhada por Motta, envolve as cobranças do ministro do STF Flávio Dino sobre emendas parlamentares e o atraso no pagamento de emendas de 2025.
A crise se aprofundou com a demora dos líderes governistas em definir a pauta de votações da semana anterior, em 17 de junho, uma estratégia que visava impedir a criação de uma CPMI do INSS.
A ausência de consulta prévia sobre o decreto do IOF também foi um fator relevante. Alcolumbre reconheceu o direito do governo de implementar medidas para sua agenda, mas ressaltou a falta de consulta ao Congresso neste caso específico.
Wagner, por sua vez, descreveu a revisão do decreto do IOF como uma tentativa do governo de admitir a falta de diálogo prévio. Ele esperava, com isso, maior comprometimento do Congresso.
“O governo, conforme o combinado, retirou o decreto anterior e fez um [novo] decreto, que é o que está sendo questionado com esse PDL, muito mais, eu diria, suave do que o primeiro. Numa demonstração que o governo não estava numa posição de intransigência”, afirmou o líder do governo.
Em resposta, Alcolumbre reiterou que o Congresso tem apoiado a agenda governamental. “Nós não podemos separar o dia de hoje [quarta] como se a novela fosse apenas um capítulo. O que este parlamento fez ao longo dos últimos dois anos e meio, apoiando a agenda do governo, não pode, não deve ser reconhecido para chegarmos até aqui?”, questionou.
Apesar das divergências, Wagner assegurou que nem ele nem o presidente Lula guardam ressentimentos pela derrubada do IOF, mas anunciou que o presidente convocará Alcolumbre e Motta para uma reunião. “O presidente gostará de ter uma conversa tanto com Vossa Excelência como com o presidente da Câmara, Hugo Motta”, disse Wagner.
“Derrotas e vitórias fazem parte da caminhada. Então, não tem estresse. Se perguntar se eu gostei, claro que eu não gostei. […] Mas, pra mim é um dia atrás do outro, vamos deixar a poeira abaixar. Eu não acho que vai dificultar pra votar outras matérias”, complementou o líder do governo no Senado.
Ao final da sessão, Alcolumbre expressou uma posição semelhante à do líder do governo, afirmando que as divergências foram resolvidas e enfatizando a necessidade de mais diálogo por parte do governo. “Agora é, a partir de amanhã [quinta], construir a agenda do Brasil e dos brasileiros sem açodamento e, se possível, conversando um pouco mais com o Congresso brasileiro, com a Câmara e com o Senado”, concluiu.