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Cortes de ajuda humanitária dos EUA ameaçam fechar ONGs no Brasil em 2026

Organizações como a Cáritas-RJ e a Casa 1 enfrentam incertezas sobre suas atividades em 2026 devido a cortes significativos na ajuda humanitária proveniente dos Estados Unidos.

Cáritas-RJ em risco

A Cáritas-RJ, que existe há quase 50 anos, pode ter suas atividades encerradas em 2026. Aline Thuller, coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da Cáritas-RJ, relatou que a organização nunca enfrentou uma situação semelhante. O impacto dos cortes na ajuda humanitária dos Estados Unidos foi severo, levando inclusive ao atraso no pagamento de salários de funcionários, como o de Aline, que está na Cáritas há 18 anos.

A organização recebia recursos do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) e de outros financiamentos menores. Embora os repasses para 2025 estivessem negociados, em fevereiro a Cáritas foi informada sobre os cortes, que ocorreriam ainda neste ano, como consequência da nova gestão nos Estados Unidos. Recentemente, a organização precisou suspender um auxílio de subsistência para imigrantes, que ajudava em alimentação, aluguel e cuidados médicos emergenciais.

Houve também atraso no início do curso de português gratuito oferecido pela instituição e demissões de parte dos funcionários.

Redução do orçamento da ONU

Segundo Pablo Mattos, oficial de Relações Governamentais da Acnur Brasil, os cortes em organizações parceiras como a Cáritas foram necessários devido a uma redução de quase 25% no orçamento anual global da própria agência da ONU. Essa redução é atribuída aos cortes americanos e também a outros países europeus.

Mattos informou que a última vez que a agência operou com um orçamento inferior a US$ 4 bilhões (aproximadamente R$ 21,8 bilhões) foi há cerca de 10 anos. Na época, o número de pessoas deslocadas globalmente era aproximadamente metade dos 120 milhões atuais.

O mundo tem registrado um número crescente de pessoas forçadas a deixar suas casas devido a conflitos, desrespeito aos direitos humanos e consequências das mudanças climáticas. Somente neste ano, a Cáritas atendeu mais de 78 nacionalidades.

“O impacto é considerável e bastante negativo. Eu diria até que devastador”, afirmou Mattos.

Impacto da nova gestão americana

A nova administração dos Estados Unidos, sob Donald Trump, implementou cortes que afetaram o braço humanitário do país, a USAid. Elon Musk, que chefiou o Departamento de Eficiência Governamental (Doge), teve como missão cortar gastos públicos. Com a virada do ano fiscal americano em outubro, os contratos da USAid foram finalizados, reduzindo drasticamente sua atuação.

Em resposta, países como França, Reino Unido e Alemanha também cortaram parte de seus apoios à ajuda humanitária global, direcionando mais recursos para Defesa, em meio ao envolvimento na guerra da Ucrânia.

Casa 1 também afetada

A Casa 1, um centro cultural e de acolhida para pessoas LGBTQIA+ localizado em São Paulo, também foi atingida pelos cortes. O projeto, fundado em 2017, anunciou que fechará as portas em abril de 2026.

Iran Giusti, diretor institucional da Casa 1, explicou que o centro oferece acolhimento e garante a sobrevivência de pessoas expulsas de casa por sua orientação sexual e identidade de gênero, que sofrem violências nas ruas. Além disso, o espaço atende idosos da comunidade local com atividades sobre socioeducação, saúde mental e segurança alimentar.

Giusti ressaltou a dificuldade geral de financiamento para projetos de diversidade, agravada pela eleição de Donald Trump, que ele descreve como o “primeiro baque”. A instituição enfrenta não apenas cortes financeiros, mas também o desafio de justificar sua existência diante de discursos de ódio e ataques em redes sociais.

A Casa 1 busca manter suas atividades com doações particulares para concluir o atendimento aos assistidos, com Giusti lamentando que o fechamento representará um “vazio” e o fim de uma “trincheira” em uma luta ainda em andamento.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/12/06/cortes-de-trump-ameacam-fechar-organizacoes-humanitarias-no-brasil-em-2026.ghtml

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