O leilão para a exploração e oferta de internet 5G no Brasil já tem os seus vencedores. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) concluiu o processo de análise de propostas de empresas e consórcios interessados nesta sexta-feira (5). Segundo o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o valor total do leilão rendeu R$ 46,790 bilhões.
“Superou todas as nossas expectativas. Grande parte desse valor será para investimentos”, afirmou Faria, durante coletiva de imprensa sobre o leilão.
Ao todo, quatro faixas de frequência (como se fossem rodovias para o funcionamento do 5G) foram leiloadas, em nível nacional e regional. Dentro de algumas delas, foram divididos os chamados lotes de frequência:
- 700 MHz: usada para distribuir o 5G e melhorar a cobertura do 4G; 2,3 GHz: igual o acima;
- 3,5 GHz: a mais concorrida por ser 5G “puro”, voltado para o consumidor final;
- 26 GHz: 5G “puro” para banda larga fixa.
A internet 5G, que permite internet 20 vezes mais rápida do que o 4G, está prevista para funcionar comercialmente a partir de 2022.
A internet 5G
A internet 5G, que permite internet 20 vezes mais rápida do que o 4G, está prevista para funcionar comercialmente a partir de 2022.
O leilão do 5G
Frequências são como estradas no céu, por onde trafegam voz e dados
Faixa de maior cobertura no Brasil
O primeiro lote do leilão (veja ao final da reportagem uma lista com todos os lotes) foi arrematado ontem (4) por R$ 1,4 bilhão pela startup paulista Winity II, que trabalha com conexões sem fio entre máquinas para empresas. Ela levou a faixa de 700 MHz, que já é parcialmente ocupada pelo 4G, tem abrangência nacional e permite levar o 5G para áreas mais isoladas.
Com isso, se tornará uma nova operadora de abrangência nacional usando uma rede que também opera 4G, mas tendo como principal contrapartida a obrigatoriedade de levar internet a 31 mil km de rodovias e 625 localidades que ainda não contam com a quarta geração de telefonia.
5G para os consumidores
A faixa de 3,5 GHz foi a mais concorrida porque é a mais usada no mundo e oferece internet de quinta geração diretamente para o consumidor final. Foram leiloados quatro lotes dentro dessa frequência.
A Claro venceu o primeiro — chamado de B1 — com uma oferta de R$ 338 milhões. Em seguida, a Vivo levou o segundo (B2), por R$ 420 milhões. No terceiro lote, apenas a Tim apresentou proposta, de R$ 351 milhões. O lote B4 não recebeu nenhuma proposta.
5G regional
As propostas para os lotes do tipo C também envolvem a faixa de 3,5 GHz, mas são para serviços e infraestrutura de alcance regional.
O primeiro lote leiloado (C1), da região Norte do Brasil, não foi arrematado. Por conta disso, o lote C3, segundo as regras do edital, não entrou como parte da disputa.
O segundo (C2) é igual ao primeiro, mas para a região Norte e para o Estado de São Paulo (salvo exceções). A Sercomtel apresentou uma contraproposta de R$ 82 milhões e venceu a disputa.
A empresa Brisanet saiu vencedora do lote C4 por R$ 1,25 bilhão, e com isso, poderá oferecer 5G na região Nordeste do país. O lote C5, referente à região Centro-Oeste, para municípios com menos de 30 mil habitantes foi arrematado também pela Brisanet, que ofereceu R$ 105 milhões.
Depois de 15 lances no total, o lote C6, referente à região Sul, foi arrematado por R$ 73,6 milhões pela Conexão 5G Sul.
O lote C7 foi vencido por R$ 405,1 milhões da empresa Cloud2You. Ela poderá oferecer o 5G em municípios com menos de 30 mil habitantes nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais.
O lote C8 envolve a região do sul de Minas, um pedaço do estado do Mato Grosso e uma parte do estado de São Paulo. A vencedora foi Algar Telecom, que apresentou proposta de R$ 2,35 milhões. Ela deverá levar fibra óptica para os municípios abrangentes em sua faixa.
Faixa de 2,3 GHz
Nesse “caminho” do 5G, a infraestrutura deverá ser focada em ampliar a tecnologia 4G e, futuramente, ser usada para a internet de quinta geração.
Isso precisará ser realizado em áreas urbanas de cidades com menos de 30 mil habitantes — e regiões específicas, como prevê o edital.
Uma parte dessa faixa ainda foi destinada para a oferta de serviços regionais em áreas isoladas. As grandes vencedoras dessa parte foram: Vivo, Tim e Algar.
Faixa de 26 GHz
Entre os lotes nacionais das faixas de 26 GHz, definidos nesta sexta, Vivo e Claro arremataram. Já os lotes regionais foram levados pela Tim (Sul e parte do Sudeste), Algar Telecom, Flylink e Neko (parte de SP).
Boa parte dos lotes restantes não foram levados, seja porque os anteriores haviam sido vendidos ou porque não receberam propostas. Segundo Abraão Balbino, presidente da Comissão de Licitação do Leilão das frequências do 5G, isso aconteceu porque a faixa se refere a uma iniciativa exploratória. Com isso, existe incertezas por parte das empresas de como a tecnologia poderá ser implementada.
“A gente disponibilizou muito espectro para ver até onde ia. Obviamente há incertezas e eu entendo que isso faz com que haja um desejo um pouco menor nessa faixa do que em outras. Mas isso é esperado. Todo leilão tem sobras de espectro”, explicou durante entrevista coletiva após o leilão.
Ainda dentro desse “caminho” do 5G, a Claro ofereceu R$ 105,65 milhões para ter permissão de explorá-lo em nível nacional, ao arrematar dois lotes no leilão.
A Vivo levou outros quatro lotes por R$ 211,3 milhões. Já a Tim destinou R$ 77 milhões para arrematar sete lotes.
A Algar Telecom levou cinco lotes por R$ 5,9 milhões. A empresa Neko levou apenas um por R$ 8,49 milhões, referente a parte do estado de SP, e a Flylink mais um por R$ 900 mil.
De acordo com o ministro das Comunicações, a expectativa é ainda leiloar mais lotes para oferta de 5G a partir de 2022. “Nós temos autorizado pela Anatel e TCU alguns lotes com modelos de negócio ainda não muito bem definidos e que podem ser comercializados em breve.”
Escolas arrecadaram a maior contrapartida
Das obrigações impostas pelo edital às empresas que arremataram os lotes, a contrapartida de levar internet 5G às escolas de educação básica pelo país foi a que conseguiu a maior garantia de investimentos.
Segundo o presidente da CEL da Anatel, o MEC (Ministério da Educação) será o responsável por elaborar a política pública para investir o dinheiro e concretizar essa obrigação.
Às escolas, o leilão arrecadou R$ 3,1 bilhões. A obrigação de levar internet aos 31 mil quilômetros de estradas ainda sem sinal, por exemplo, garantiu um valor menor, de R$ 2,8 bilhões.
“Para termos noção o que é isso, a cobertura de uma localidade de 10 mil pessoas custa R$ 1 milhão. Então se estamos falando de 1 mil localidades, estamos falando de R$ 1 bilhão. Digo isso para dimensionarmos a noção do quanto que esses R$ 3,1 bilhões representam nas escolas. De todas as obrigações, é a com maior valor garantido”, afirmou.
Apesar da garantia, Anatel informou que não sabe se o valor será suficiente para levar internet às escolas porque esse traçado financeiro será realizado pelo Ministério da Educação.
“Nunca soubemos de fato quanto é necessário para a conexão das escolas porque isso ainda será uma política pública que o MEC ainda traçará. O que estamos dizendo é que o edital já garante R$ 3,1 bilhões para as escolas. (…) Pelo meu conhecimento de telecomunicações, é o suficiente para levar a banda larga 5G às escolas brasileiras”, analisou.
Abinoan Santiago e Letícia Naísa
Colaboração para Tilt, em Florianópolis; de Tilt em São Paulo