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Lino Arruda lança livro autobiográfico em quadrinhos

“Lino Arruda criou algo magnífico com pinturas e histórias que não dá para deixar de lado”, diz a ativista americana Sunaura Taylor

No dia 28 de junho, o doutor em Literatura, ilustrador e quadrinista transmasculino Lino Arruda inicia a pré-venda de Monstrans: experimentando horrormônios, livro autobiográfico em quadrinhos, que ficcionaliza experiências pessoais tecendo pontes entre deficiência, lesbianidade e transmasculinidade. Para marcar o momento, nesse dia, às 20h, o autor realiza uma live no Instagram do projeto @monstrans_hq, selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018, a fim de debater a composição da obra e sortear um exemplar ao público.

Durante a pré-venda, a HQ pode ser adquirida com 10% de desconto no site do artista https://linoarruda.com/loja/. Vinte por cento do valor arrecadado será doado para casas de apoios às pessoas trans de sete estados. A obra também conta com versões em inglês e espanhol.

Monstrans é composto por três histórias que têm como fio condutor a figura do que é tido como monstruoso. Animalidades híbridas, seres fantasmagóricos e monstruosidades amorfas fazem parte de uma corporalidade dissidente, que tenciona os limites da inteligibilidade, do compreensível, e questiona o anseio por visibilidade.

“Lino Arruda criou algo magnífico com pinturas e histórias que não dá para deixar de lado: uma porta de entrada à exuberância, ao terror, à alegria e à paixão de viver em um corpo considerado anormal”, afirma a americana Sunaura Taylor, artista, ativista de direitos dos animais e das pessoas com deficiência, autora de Beasts of Burden.

Segundo ela, é uma exploração sombria, vulnerável e, por vezes, tanto aterrorizante quanto hilária de corporalidade, sexualidade, gênero e deficiência. “Monstrans mapeia um caminho para nós, que existimos como monstros, vivermos, amarmos e, nesse processo, transformarmos o mundo.”

Susan Stryker, editora executiva da TSQ: Transgender Studies Quarterly, fala que com as palavras e imagens viscerais e afetivas de monstruosidade trans, Lino ajuda a entender como as feridas do gênero, sejam físicas ou emocionais, podem se tornar a base para formas novas e melhores de sociabilidade, precisamente quando se mantêm abertas enquanto oportunidades de conexão, enquanto espaços de transformação criativa. “Em uma palavra: sublime”, define.

As HQs de Monstrans

A primeira divisão do livro é a HQ Terapia de Conversão, na qual o autor reconta o que seria a história de origem de sua deficiência congênita nas pernas, supostamente relacionada a um acidente de carro que sua mãe sofreu quando estava grávida. 

Recombinando diagnósticos médicos e inventando outros – como hiperflexibilidade de sexualidade e disforia de espécie –, Arruda aborda a deformação física do próprio corpo nas tramas de masculinidade feminina e de lesbianidade que coloriam suas primeiras experiências. As memórias ilustradas recontam, com humor e ironia, como os tratamentos para desentortar as pernas, as ansiedades familiares, as aulas de balé e as desventuras românticas compõem o seu corpo monstruoso.

Segunda Natureza, a história seguinte, imagina a criação de pontes entre as experiências lésbicas e as transmasculinas, muitas vezes narradas como antagônicas nas biografias de pessoas trans. A narrativa se desenvolve com um tom surrealista, a partir da perspectiva de um personagem transmasculino que, ao se deparar com os privilégios da própria passabilidade cis-heterossexual, colapsa em uma alucinação de memórias assombradas pela lésbica que ele já não é.

Na terceira HQ, intitulada Eu ainda fui, o autor ilustra a ocasião em que viu o avô pela última vez, em seu leito de morte no hospital. Surpreendido pelo fato de que o parente não era capaz de reconhecê-lo – devido as alterações provocadas pela testosterona –, e na contracorrente de seu desejo pela masculinidade, o personagem transmasculino evoca as memórias da infância e da adolescência, o histórico da filiação familiar e até mesmo seu documento de identidade antigo, com a esperança de poder se despedir do avô como neta que ele “ainda tinha sido”.

Ações de lançamento

O lançamento de Monstrans, acontece um mês depois do início da pré-venda do livro, no dia 28 de julho, também pelo Instagram do projeto @monstrans_hq, desta vez com um bate-papo de Lino Arruda com o produtor Lui Castanho.

A proposta é que, a partir do lançamento, Arruda e Castanho compartilhem o processo de criação da publicação em uma série de lives marcadas para agosto, sempre às 20h, com convidados especiais. Para a primeira, no dia 4, a participante é Amara Moira, travesti e autora de E se eu fosse puta (hoo editora, 2016). Com o tema Autobriografias trans, ela e Arruda conversam sobre linguagens e temporalidades dissidentes, baseados na parte três do livro, Eu ainda fui.

No dia 12, a convidada é a escritora, compositora, cantora e dramaturga Tatiana Nascimento, com o assunto Intersecções e limites de lesbianidade e transmasculinidade. Desta vez, o debate tem a história de Segunda Natureza como base. Cosmovisões da dissidência, tema inspirado na introdução de Monstrans, conta com as ideias de Geni Nuñez, ativista indígena guarani, na live do dia 19. Encerrando o ciclo de ações, no dia 25, Lino Arruda e a artista, escritora, designer e publicadora Diana Salu falam sobre Tecendo narrativas e desenhando personagens trans, com foco na primeira HQ, Terapias de conversão.

Sobre o Rumos Itaú Cultural

Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 75,8 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior. Destes, foram contempladas 1,5 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.

Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 7 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.

Na edição de 2019-2020, os 11.246 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 23 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 92 projetos.

SERVIÇO:

Rumos Itaú Cultural 2017-2018
Monstrans:
experimentando horrormônios
De Lino Arruda

Pré-venda

De 28 de junho a 28 de julho
Em https://linoarruda.com/loja/
Preço do livro: R$39,90
Live, às 20h, em @monstrans_hq

Lançamento
Dia 28 de julho
Live com Lui Castanho, às 20h
Em @monstrans_hq
Preço do livro: 44,90

Programação de lives com convidados
Dia 4 de agosto, às 20h, com Amara Moira
Tema: Autobiografias trans: linguagens e temporalidades dissidentes
Dia 12 de agosto, às 20h, com Tatiana Nascimento

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