Testemunhas são intimadas a prestar depoimento sobre a morte de Henry Borel

A polícia investiga a morte do menino Henry Borel, de 4 anos

Agentes da delegacia da Barra intimaram, neste sábado (20), as testemunhas que vão prestar depoimento na próxima semana sobre a morte do menino Henry Borel, de 4 anos.

Foram intimadas a empregada, uma babá de Henry, os médicos que fizeram o primeiro atendimento e o legista que assinou o laudo de necrópsia.

A Polícia Civil identificou informações distintas nas versões sobre a morte. As contradições foram observadas nos relatos da mãe da criança, Monique Medeiros, e o padrasto, vereador Doutor Jairinho.

Para a equipe médica, que tentou socorrer o menino, Monique contou ter acordado com um barulho no quarto e encontrou o menino caído. Nesta primeira versão, que consta no Boletim de Atendimento Médico (BAM), eles encontraram o garoto gelado, pálido e sem poder de resposta.

O padrasto chegou a pensar que a criança estava em parada cardiorrespiratória e foram para o Hospital Barra Dor, na Zona Oeste do Rio. A equipe média relata ter observado pequenos hematomas nos membros superiores, abdômen e escoriação no nariz.

Na última quarta-feira (17), em depoimento à polícia que durou 12 horas, Monique Medeiros e Doutor Jairinho, narraram como tudo aconteceu de forma muito parecida, mas diferente da versão anterior.

Mãe e padrasto não mencionam barulho em depoimento na delegacia

Se no hospital a mãe cita que um barulho no quarto do menino a acordou, no segundo relato nem Monique nem Jairinho mencionam o suposto barulho emitido pela criança em depoimento na delegacia.

Monique afirmou que acordou por volta das 3h30 com o barulho da TV ligada e foi ver o filho — quando o encontrou desacordado.

O padrasto de Henry, o vereador Dr. Jairinho, contou para a polícia que ele e a mulher estavam assistindo a uma série no quarto de hóspedes para não incomodar o sono do enteado. O casal pegou no sono.

Segundo Jairinho, ele estava dormindo profundamente, à base de remédios, quando a namorada foi até o quarto do casal e encontrou Henry já caído, com os “olhos revirados e mãos e pés gelados”.

Durante o trajeto até o hospital, o socorro a Henry foi feito pela mãe, Monique. Jairinho, que dirigiu até o Barra D’Or contou que, apesar de ser médico, a última vez que tinha feito massagem cardíaca tinha sido em um boneco, ainda na faculdade.

Monique acrescentou que fez uma manobra de respiração boca a boca, apesar de não saber realizar o procedimento, nos 10 minutos que separavam sua casa do hospital para onde Henry foi levado.

Pai do menino também ouviu versão sobre barulho no quarto

Além dos médicos, o pai de Henry, Leniel Borel, disse ter ouvido deles a versão que teriam ouvido um barulho. A mesma versão apresentada aos médicos.

“Cheguei no hospital e vi o médico em cima do coração do menino perguntando para mãe o que tinha acontecido. Falaram que o menino estava, houve um barulho, foi ver lá o que estava acontecendo e quando chegou lá o menino estava revirando o olho com dificuldade de respirar”, contou o pai de Henry.

Peritos discordam de versão apresentada pela mãe

Questionada sobre o laudo com a causa da morte de Henry, Monique afirmou acreditar que ele possa ter acordado, ficado em pé sobre a cama, se desequilibrado ou até tropeçado no encosto da poltrona e caído no chão.

A versão da mãe é considerada pouco provável por peritos, diante da gravidade das lesões reveladas no laudo da necropsia. São elas: hemorragia interna, laceração hepática, lesões nos rins, no fígado, pulmão e na cabeça.

“A lesão está em áreas diversas do corpo. Uma queda não proporcionaria e não há outras lesões. Acho difícil colidir cabeça, fígado, pulmão, rim, abdômen. A não ser que fosse numa queda de grande altura, aí sim você encontraria isso, mas você está relatando que as informações falam em queda em casa, na cama, acho muito improvável”, afirmou Talvane de Moraes, perito legista aposentado.

Contradição sobre relatos para empregada

Monique disse também que, no hospital, um policial civil falou que ela deveria ir pra casa, já que iriam fotografar o local. Ela afirmou que não contou à empregada sobre o que tinha acontecido.

Na tarde da segunda-feira em que Henry morreu, foi feita uma perícia no apartamento do casal. Quando os peritos chegaram, a funcionária do casal já tinha feito a limpeza do lugar.

O RJ2 ligou para Rosângela, a empregada que limpou a casa. Ela deu a mesma versão contada por Monique.

“Eu tenho a chave da porta da cozinha. Eu entro, trabalho e vou embora (…) Em momento algum ela falou comigo”, disse a empregada. Perguntada sobre ter deixado a casa sem saber do episódio, Rosângela afirmou: “Sim. Eu cheguei, fiz meu trabalho normal e fui embora”, disse.

Apesar disso, a versão apresentada por Doutor Jairinho no depoimento sobre a funcionária é diferente. Ele disse que, ao chegar em casa por volta de 10h, ele se deparou com Monique, Rosângela e Cristiane, assessora do vereador.

Perguntado se Monique comentou algo com Rosângela, o padrasto de Henry respondeu que sim, que ela contou o que havia acontecido.

Rosângela não quis revelar o sobrenome dela e disse que vai prestar depoimento na próxima terça-feira (23).

O que dizem os citados

A defesa do vereador Doutor Jairinho afirmou que a versão que eles teriam ouvido barulho pe relatada pelo médico do hospital. Segundo ele, o que vale é o depoimento do casal na delegacia. A defesa reafirmou que Monique e Jairinho não ouviram barulho da criança.

O que se sabe do caso
1 – Com quem Henry estava no dia da morte?
2 – O que a mãe e o padrasto alegaram?
3 – Como Henry estava quando chegou ao hospital?
4 – Qual foi a causa da morte de Henry?
5 – Henry pode ter se machucado assim ao cair da cama?
6 – As lesões em Henry podem ter sido causadas numa tentativa de reanimá-lo?
7 – O que a polícia disse?

  1. Com quem Henry estava no dia da morte?
    Depois de passar o fim de semana com o pai, o engenheiro Leniel Borel de Almeida Jr., Henry foi deixado na casa da mãe, Monique Medeiros da Costa Almeida, na Barra da Tijuca, na noite do dia 7, um domingo.

Monique estava com o namorado, Jairo Souza Santos, o vereador do Rio Dr. Jairinho (Solidariedade).

  1. O que a mãe e o padrasto alegaram?
    Monique contou acordou com o barulho da TV às 3h30 e que encontrou o menino desacordado no quarto do casal.

O pai do menino relatou que, segundo a ex-mulher, a criança estava com os olhos revirados e já com dificuldade de respirar.

O casal levou Henry para o Hospital Barra D’Or. Monique ligou para o ex-marido, avisando do incidente.

  1. Como Henry estava quando chegou ao hospital?
    Segundo o laudo do Instituto Médico-Legal, a que a TV Globo teve acesso, a criança já deu entrada no hospital sem vida e apresentava lesões no crânio, no estômago, no fígado e nos rins, além de várias manchas roxas.
  2. Qual foi a causa da morte de Henry?
    O laudo do Instituto Médico-Legal aponta “hemorragia interna e laceração hepática [danos no fígado] causada por uma ação contundente [violenta]”.
  3. Henry pode ter se machucado ao cair da cama?
    Não, segundo peritos ouvidos pela TV Globo.

“Uma queda de uma altura baixa é pouco provável que esteja na origem dessas lesões traumáticas”, afirmou perito legista Carlos Durão.

“Nós observamos esses tipos de lesões em acidentes de trânsito, com muito mais energia”, emendou Durão.

Talvane de Moraes acrescenta que há lesões em áreas diversas do corpo, “o que uma queda não proporcionaria”.

“Pode haver equimoses [manchas], mas em regiões onde o corpo colidiu com o chão. Acho difícil colidir cabeça, fígado, pulmão, rim e abdômen [de uma vez só], explicou Moraes.

  1. As lesões em Henry podem ter sido causadas numa tentativa de reanimá-lo?
    Não, segundo peritos. “Numa reanimação, às vezes a força aplicada pode fraturar o tórax ou a costela, dependendo da estrutura esquelética da vitima. No Henry não tem nada disso”, disse Moraes.
  2. O que a polícia disse?
    Até a última atualização desta reportagem, a polícia se limitou a informar que está investigando o caso.

O pai de Henry depôs no próprio dia 8.

Monique e Dr. Jairinho passaram 12 horas depondo em salas separadas na 16ª DP (Barra da Tijuca) e deixaram a delegacia às 2h30 desta quinta-feira (18) sem falar com a imprensa.

Ao jornal “Extra”, Dr. Jairinho enviou uma nota não qual disse “estar triste”, “sem chão” e “suportando a dor graças ao apoio da família e dos amigos”.

“As autoridades apuram os fatos, e vamos ajudar a entender o que aconteceu. Toda informação será relevante. Por isso, acho prudente primeiro dizer na delegacia a dinâmica dos fatos, até mesmo para não atrapalhar os trabalhos desenvolvidos”, informou o vereador na nota.

Por Leslie Leitão e Paulo Renato Soares, RJ2




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