“O Brasil está à beira do abismo e a saída é o socialismo”, defende Geraldo Carvalho

Por Cândido Gomes e Marcelo Costa
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O PSTU, tendo como aliado o Polo Socialista e Revolucionário, colocou mais uma vez o nome do professor Geraldo Carvalho à frente da disputado pelo Governo do Piauí. Desta vez, segundo conta, com um programa de governo melhor elaborado, “com definições para enfrentar os problemas do Piauí”. Em entrevista ao SERTAO.ONLINE, o candidato condena, principalmente, a forma como grandes empresas estão explorando as riquezas locais sem se preocupar com o básico, que é matar a fome do trabalhador. “E a gente opta pela independência de classe, com um programa que possa efetivamente enfrentar os problemas reais da classe trabalhadora”, conta. Confira a entrevista:

Assim como temos questionado os demais candidato ao governo do Estado, gostaria que nos dissesse quais suas características e desejos que o credenciam a ser o próximo governador do nosso Piauí?

A primeira coisa que a nossa candidatura não é exatamente ter uma vontade pessoal. A nossa candidatura expressa uma vontade coletiva e uma vontade do PSTU. O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado e também do polo socialista e revolucionário. Então, são essas organizações políticas que decidem pelo lançamento, pela participação ou não nas campanhas eleitorais. Ao decidir pela participação, então decide também sobre as candidaturas, não só a candidatura majoritária, mas também as candidaturas proporcionais.

O PSTU vai seguir solitário nesta caminhada ou vai se unir a algum outro partido? Não existe mais um movimento de esquerda, cada partido segue os seus próprios pensamentos?

 Não, o PSTU está junto com o Polo Socialista e Revolucionário. É interessante porque o Polo é uma organização política que surge no ano passado e busca juntar exatamente os setores que ainda reivindicam o socialismo, que reivindicam a ação direta, que reivindicam a independência de classe. Então é um polo, como o próprio nome diz, que aglutina organizações políticas, ativistas, militantes da esquerda socialista e revolucionário, então o PSTU está junto. É uma das organizações políticas que participa dessa organização maior, que é o polo socialista e revolucionário. Então, a gente vai para a campanha e nós estamos na campanha com a vanguarda da classe trabalhadora, a vanguarda do socialismo no nosso Estado, no nosso país, porque no país nós temos uma candidatura à Presidência da República, que é a Vera Lúcia, uma mulher negra, nordestina, operária, socialista. A sua vice é a Raquel Tremembé, que é uma líder indígena da região do Maranhão e do Amazonas. É uma chapa, como a gente diz, afro-indígena e que, portanto, expressa a origem da nossa sociedade brasileira. O negro e o índio como base dos elementos da base da nossa sociedade. Então, nós estamos com os movimentos sociais. Além dessas organizações políticas que constituem o polo, nós estamos com os movimentos sociais para preservar a independência de classe, porque hoje é muito difícil você ter os partidos, eles se juntam com ideologias diferentes, programas diferentes, e aí essas alianças acabam servindo mais aos interesses das empresas, dos ricos, tanto do país como do Estado. E a gente opta pela independência de classe, com um programa que possa efetivamente enfrentar os problemas reais da classe trabalhadora. O nosso programa busca uma solução para os problemas do desemprego, da fome, da falta de moradia, da falta de transporte, enfim, para superação dos problemas que hoje nós caracterizamos como uma catástrofe social no Brasil e no Piauí. Então, um programa com unidade dos trabalhadores e os patrões quem perde são os trabalhadores. Por isso a gente mantém a independência de classe. Um programa construído pelos trabalhadores e voltado para o atendimento das necessidades da classe trabalhadora.

O PSTU é um partido que sempre foi visto nos movimentos grevistas, nas manifestações de rua. No entanto, não existe um retorno equivalente a uma dessas mesmas classes que o partido defende. Porque eu só acho que isso acontece dessa forma?

Olha, nós temos o retorno que a gente tem tido progressivamente ao longo da história do partido. Ele corresponde à nossa expectativa ao nosso tamanho, o caráter do programa que a gente defende. Então, ele em parte corresponde, digamos assim, às nossas expectativas. Agora, precisamos considerar também que as eleições são antidemocráticas, as eleições no Brasil são determinadas pelo poder econômico, por quem tem dinheiro, pelas grandes empresas, pelos bancos. É o capital que acaba determinando a eleição. A gente tem visto agora no Piauí essa campanha presente, um verdadeiro leilão de prefeitos, de compra de prefeitos aqui no Estado do Piauí. Você acompanha na imprensa, um candidato chega no município numa semana e aí assume o compromisso lá com o prefeito, na semana seguinte veio outro candidato e aí o prefeito já muda de lado. Seguramente aí tem muito dinheiro envolvido. E a outra coisa são as promessas, os candidatos, as grandes máquinas eleitorais acabam criando um cenário que parece um paraíso. Está tudo bem, o Piauí está bem e o Brasil está bem, está sem problemas. E os problemas que não foram resolvidos serão resolvidos depois da eleição. E a gente sabe que quando termina a eleição, o paraíso fica para eles e os trabalhadores são jogados na Caverna do Dragão. Então, a eleição é muito desigual, basta ver essa campanha. Ela começou desde o ano passado que as grandes máquinas eleitorais estão fazendo campanha, e nós não. Nós estamos na luta dos trabalhadores, na defesa do salário, na defesa da moradia, contra o feminicídio, contra o racismo, contra LGBT fobia. Nós estamos na luta permanente cotidiana da nossa classe, porque é isso, em primeiro lugar, que assegura as condições de vida da classe. Em segundo lugar, nós estamos também construindo um programa político consequente, que possa não vender ilusão para os trabalhadores nesse momento da eleição, mas que possa, de fato resolver os problemas que são centrais no dia a dia da classe trabalhadora.

Da mesma forma, acontece com a classe estudantil, especialmente com o povo universitário, que historicamente sempre esteve ligado às esquerdas. O que mudou?

Na verdade, tem um processo de reorganização política no Brasil, que ainda é, digamos, inicial, mas que ele vai crescer, sobretudo no contexto. A gente vive hoje uma catástrofe social no Brasil, é uma crise econômica, sanitária, atravessada por uma crise política, uma crise ambiental terrível. Então, como dizem os movimentos sociais nas ruas, hoje o Brasil está à beira do abismo e a saída é o socialismo. Então, nós estamos, PSTU e Polo Socialista Revolucionário, juntos com os movimentos sociais, construindo um programa e, a partir desse programa, construindo uma unidade para que a gente possa, através dessa unidade e desse programa, encontrar a solução para o problema do desemprego, que atinge 90 milhões de pessoas no Brasil, 90 milhões ou estão desempregados ou estão subempregados, 33 milhões passam fome, 60 milhões sofrem algum tipo de insegurança alimentar. No Piauí a metade da população passa fome. Vive com até 436 reais por mês. E você sabe, todo mundo sabe que 400 reais não dá para alimentar uma pessoa. Imagine uma família. Então, é uma catástrofe social. Então, quem tem a responsabilidade e a disposição de enfrentar esse problema? Os ricos vão buscar a solução a partir dos seus interesses. Então, a classe trabalhadora é quem sofre com o desemprego, quem sofre com a falta de moradia? Nós estamos aqui a nossa candidata a deputada federal, a Fran de Jesus, que é uma estudante da Universidade Estadual do Piauí, da Uespi lá em Piripiri, e que é líder também do movimento de moradia, que mora numa ocupação, a Ocupação Esperança Garcia, na cidade de Piripiri. Então, essa unidade ela é fundamental para resolver o problema da moradia, para resolver o problema de estrada que não tem no Piauí, é insuficiente para o desenvolvimento do Estado, para enfrentar o problema do sucateamento da educação. A nossa universidade estadual está sucateada, estão matando a Uespi à míngua. Sabe, a cada dia morre um pedaço. Então como é que nós vamos enfrentar isso? Com unidade, com um programa e com muita determinação. A partir da independência de classe e tendo como objetivo estratégico a construção de uma sociedade socialista no Brasil e no Piauí, porque é isso que vai resolver de forma mais permanente os problemas que a classe trabalhadora e a juventude enfrentam hoje no Brasil.

Caso o senhor não chegue a um possível segundo turno, acredita em uma possível aliança com o Partido dos Trabalhadores? Ou isso está fora de cogitação desde já? E isso vale também para a eleição presidencial?

Olhe só, para a Presidência da República foi feito um movimento e uma unidade que se chama de unidade ampla, o PT, com PSDB, com vários partidos do Centrão, com vários partidos que ajudaram a tirar Dilma do governo através do impeachment em 2016 e inclui parte da esquerda daqueles setores que historicamente estão no campo da esquerda ou centro esquerda, como PSOL. A direção do PSOL, lamentavelmente aderiu a essa frente. Nós, do PSTU e do Polo Socialista e Revolucionário, nós decidimos manter a independência de classe. Nós temos consciência de que o Bolsonaro precisa sair de onde está agora. Bolsonaro é o que tem de pior para esse país nesse momento, porque, além do seu programa de morte, de desemprego e de destruição da educação, das universidades federais, dos institutos federais, além disso, ele tem um programa, um projeto de ditadura para esse país. E nós estamos dizendo: ditadura nunca mais. O Brasil não precisa de uma ditadura, muito menos de uma ditadura do capital, de uma ditadura militar e dos banqueiros, dos empresários que vão esfolar mais ainda os trabalhadores. Por que ele quer implantar uma ditadura? Exatamente para poder fazer o rapa, digamos assim, no fundo do poço, do tacho, para tirar todos os direitos que ainda tem a classe trabalhadora e o povo pobre desse país. E se alguém reclamar, ele mandar matar uma ditadura? Ele que é para isso, para aumentar a espoliação, a expropriação da classe trabalhadora, do povo trabalhador do nosso país. Então, nós temos o nosso objetivo número 1 derrotar Bolsonaro. Por isso, inclusive, nós estamos nas ruas com a campanha pelo Fora Bolsonaro. Mas também nós temos clareza, consciência de que os problemas, esses mesmos problemas citados, eles não serão resolvidos numa aliança entre o PT e o PSDB e o centrão. Porque essa forma política de colaboração de classes é prejudicial aos trabalhadores. Ela favorece em primeiro lugar, os direitos dos banqueiros, dos grandes empresários, do agronegócio, da indústria, das grandes empresas não é dos trabalhadores. Então, por isso, nós não aderimos à Frente Ampla. Por isso, nós lançamos uma chapa própria para a Presidência da República e para o Governo do Estado do Piauí. Vera Lúcia Raquel Tremembé, lá no Planalto, Geraldo Carvalho e professora Gera, aqui no Estado do Piauí. Independência de classe. Esse é o critério que nós estamos defendendo com muita força, com muita energia junto aos trabalhadores em geral, junto à população, os estudantes. É preciso que a gente recupere uma característica que a gente tinha nos movimentos sociais na década de 80, que é a independência de classe. Tudo o que nós conquistamos, que os trabalhadores conquistaram na década de 80, na transição da ditadura militar para até 88, quando foi promulgada a Constituição, a nova Constituição brasileira. Inclusive, muitas conquistas foram lá para a Constituição. Nós, tudo o que a gente conquistou ali foi na ação direta. Foi na luta, foi na unidade, inclusive o próprio PT. Quando o PT nasceu, em 80, o PT foi fundado em 1980. Eu fiz parte do PT aqui no Piauí, fui da direção do PT aqui no Piauí. Mas em 82, as candidaturas do PT diziam o trabalhador vota em trabalhador, o que é isso? É exatamente o critério de independência de classe. É preciso dizer, então nós do PSTU e do Polo estamos construindo um programa de independência de classe, um programa que possa dizer, convencer os trabalhadores e a juventude. Vamos nos unificar aqui e vamos buscar a solução dos nossos problemas por aqui, com independência, sem andar de braços dados com os patrões. Então, o PSOL cometeu esse erro e a direção está apoiando o Lula no primeiro turno. E aqui no Estado eles têm candidatos, mas fica muito difícil fazer uma campanha séria, com independência de classe aqui no Estado estando na aliança com o PSDB, em nível nacional e mais numa federação nacional com a Rede, que é um partido da direita, a Rede é o partido do pessoal do Itaú, do pessoal da Natura, grandes empresários, não tem condições.

O PSTU é um partido que tem a defesa da classe trabalhadora como um de suas principais bandeiras. Por conta disso, algumas pessoas temem que a classe empresarial sofra represálias caso o seu partido chegue ao poder. Existe algum fundamento nesse receio?

Acho que não. Porque o que é que a classe trabalhadora quer? A classe trabalhadora quer ter o direito de usufruir aquilo que ela produz. Quem é que produz a riqueza nesse país e nesse estado? A classe trabalhadora. Se é a classe trabalhadora, a produção da riqueza social. Agora, quem é que se apropria dessa riqueza produzida socialmente? A apropriação é privada. Então, o socialismo quer é exatamente isso, que aqueles que produzem a riqueza possam usufruir dela, se resgatando uma máxima do Marx: A produção é social, mas a apropriação é privada. E essa é a causa de todas as desigualdades sociais do país, do mundo, do mundo moderno, do mundo capitalista. Então, para resolver esse problema, das desigualdades sociais que crescem, não estão diminuindo, elas estão crescendo, é preciso socializar riqueza produzida. Então, nós vamos, por exemplo, no Brasil o nosso programa nacional está dito: nós vamos expropriar as 100 maiores empresas do país. As 100 maiores empresas são empresas estrangeiras, maioria que vem para cá, se apropriam do trabalho, se apropriam dos recursos naturais, se apropriam e instalam uma produção, um processo de produção, com isenção fiscal. Ou seja, tem um custo muito pequeno de investimento e depois, no final do processo de produção, você tem uma riqueza imensa produzida, essa riqueza imensa produzida vai para o exterior e aqui não fica. Eu vou dar o exemplo local. Nós temos aqui no Cerrado um dos grandes produtores de soja, dos maiores produtores de soja de grãos do Brasil está no Piauí, ele tem oito fazendas, tem sete estão no Piauí. Então, essas fazendas de grandes fazendas de soja vêm para cá e ele começou fora daqui e ele veio para cá e aí aqui ele já está. Já acumulou sete fazendas. Ele se apropria das terras e expulsas as comunidades da agricultura familiar, quilombolas, os indígenas, usa a terra, joga os o veneno na terra. O Cerrado está morrendo, estou dizendo o Cerrado porque é uma das áreas mais exploradas aí pela soja. Então, eles vêm aqui se apropriam da terra, produzem toneladas e toneladas de grãos. Vai tudo para o exterior. E a população aqui fica passando fome. Por isso que nós estamos dizendo, nós vamos ter que pôr um fim nisso. Com? Nós vamos priorizar a produção de alimentos. Então, primeiro lugar, a primeira medida é produzir alimentos para matar a fome das pessoas. Depois disso, você vai exportar sobrou, tem excedente. Ou então dá para produzir alguma coisa aqui, porque tem muita terra, dá para produzir, para poder exportar, para melhorar a balança comercial, para ter dinheiro, para comprar outras coisas. Tudo bem. Mas a primeira coisa, em primeiro lugar, está a fome das pessoas, a necessidade de alimento para as pessoas. Então, eu quero o que eu acho que os empresários vão ter, inclusive, que nos ajudar a fazer isso. Eu vou os trabalhadores e quem tem a tarefa. Quem vai botar, porque historicamente eles não fazem isso. Historicamente, o que é feito aqui é a expropriação dos trabalhadores, são os empresários, as empresas se instalando com isenção fiscal. Rafael Fonteles, como secretário de Fazenda de 2015 a 2018 renunciou dois bilhões de receita tributária, dois bilhões que poderiam estar sendo investidos em saúde, educação, agricultura familiar, produção de alimentos. Não. Abriu mão. Então, esses setores já ganharam muito dinheiro. Os empresários já ganharam muito dinheiro, tanto é que estão acumulados. Tem candidato nessa eleição que em suas declarações, podem olhar quem quiser, pode olhar, são milhões. Muitos candidatos só milhões. Cento e tantos milhões. Durante a pandemia, enquanto as pessoas estavam morrendo no Brasil, dados oficiais, cerca de 700 mil pessoas morreram, mas dizem que é muito mais isso do que isso aí. Alguns empresários estavam lucrando, ganhando muito dinheiro com isso. A lista dos bilionários do Brasil cresceu. Aumentou 42 durante a pandemia. Como é que pode uma crise como a pandemia muita gente morrendo de fome, de doença e tudo mais, e gente se aproveitando e ficando mais rico com isso. Aqui no Piauí tem dois bilionários. Como é que nós vamos resolver o problema da escassez se a gente não socializar essa riqueza que está acumulada. Engraçado, aqui nos rodoviários, sindicato dos rodoviários, numa campanha salarial deles, e o Setut resistente, no atendimento da pauta de reivindicações eles estavam pedindo vale alimentação de não sei quanto. E aí os empresários do Setut botou a proposta do vale alimentação do motorista de X e dos cobradores de metade disso. Aí o sindicato dizia é barriga do motorista, não é maior do que a do cobrador. Então, digo a mesma coisa: a barriga do plantador de soja não é maior do que a barriga do trabalhador. Então, tem que encher a barriga do trabalhador.

Com relação ao setor de segurança, uma dos mais criticado atualmente. Como o senhor pretende gerar melhorias nessa área? O senhor acha que o policial do nosso Estado está bem preparado para a atuar?

Olha, a segurança está abandonada em nosso Estado. Abandono, assim como está abandonada a educação, as políticas sociais estão abandonadas, e isso é desde 2014, 2015. Se você pegar todos os índices do PIB e dos investimentos nas áreas sociais, você vai ver que há uma queda de 2015 para cá, sobretudo a partir de 2017. E porque a partir de 2017, quando é aprovada a PEC 95, que é o teto dos gastos. Então, todos os investimentos nas áreas sociais, os salários dos trabalhadores, tudo vai por água abaixo. Tudo vai em queda. Só os lucros das grandes empresas e dos bancos, principalmente, que seguirão crescendo. Então, o Estado abandonou e o Estado do Piauí abandonou a segurança, não tem controle nenhum. O Estado não tem controle nenhum sobre a segurança, sobre a violência. Você tem, em primeiro lugar que você tem aqui a violência do próprio Estado, porque um Estado só consegue sustentar um nível de desigualdade social como a que nós temos no Piauí e no Brasil, se o Estado for muito violento. O Estado é violento. Segundo, o crime organizado, as organizações criminosas estão lá, tem várias, e estão se espalhando pelo estado do Piauí, pelas cidades maiores, pelo litoral, por Teresina. Então, não tem controle nenhum. A saída é mais armamento? É mais policiais? É mais armas? Não acreditamos nessa saída. Essa é a saída que os ricos e os seus governos têm prometido e têm implementado ao longo do tempo. E a situação vai se acumulando e se agravando. Então qual é a solução? A solução é gerar emprego para a população, é fazer políticas públicas voltadas para a juventude, é matar a fome da população. Construir casas para as pessoas morarem adequadamente, é ter transporte. Criar as condições para que a classe trabalhadora tenha uma vida com bem estar, uma vida digna. E com isso ela fica mais resistente e mais protegida, porque o crime organizado, a droga e o tráfico agem justamente sobre setores mais vulneráveis da sociedade. Então, se você vai eliminando essa questão da vulnerabilidade, vai resolvendo, superando isso, você vai dificultando também o acesso e a cooptação da juventude, sobretudo para o crime organizado. A juventude negra e pobre nesse estado está sofrendo um verdadeiro extermínio, é um o genocídio que está acontecendo com a população negra, em especial a juventude, o feminicídio crescente. O Estado do Piauí é um dos estados com maior índice de feminicídio. Tudo isso é produto dessa desigualdade social. Não é brincadeira. Dois milhões e 600 mil pessoas na condição de trabalho, mas 1 milhão trabalha, efetivamente trabalha. O restante não trabalha, não tem emprego, vive de bico, vive de bolsa. Então, isso não é possível. Não é possível resolver desenvolver um estado desse dessa forma. Produzindo alimento, produzindo, investindo em infraestrutura, mas infraestrutura não para o desenvolvimento do capital, porque o modelo de desenvolvimento que tem sido adotado no Estado nos últimos tempos é um modelo de desenvolvimento é esse de atrair investimentos pela isenção fiscal. Isso não resolve. Qual é a nossa vocação? Setenta por cento da alimentação produzida no Brasil vem da agricultura familiar. Apenas vinte cinco por cento é produzido pelo agronegócio. Então, nós vamos ter que inverter isso. Nós vamos ter que investir na produção de alimentos na agricultura familiar. Nós vamos ter que criar a estrada, investindo na estrada para interligar os municípios e interligar as comunidades rurais entre elas. Nós vamos ter que investir em energia elétrica, em água, em tecnologia e em ciência, em educação. Meu Deus, nós temos a Universidade Estadual que pode ajudar muito no desenvolvimento econômico, social e humano no Estado do Piauí, mas não faz isso porque o governo abandona, o governo não investe em educação. O orçamento da educação caiu, caiu tanto na educação básica como na Uespi. A Uespi, na LOA de 2021 tinha um orçamento 265 milhões, o que foi efetivamente gasto foi 217 milhões. Na Assembleia Legislativa você tem um orçamento de 460 milhões, é o dobro do da Uespi. A Assembleia Legislativa tem 30 deputados e gasta 460 milhões. A Uespi tem 18 mil pessoas para atender.  Estudantes, 16 mil, mil professores e mil servidores. E só tem 200 milhões para atender. Então é preciso investir na Uespi, melhorar os prédios, construir laboratórios, investir em ciência e tecnologia. Me diga, eu quero que alguém diga que país se desenvolveu, mesmo do ponto de vista capitalista, sem investimento em educação, em ciência e tecnologia? Nenhum. Então, nós temos que acabar com esse discurso mirabolante de atrair investimentos estrangeiros ou nacionais pela isenção fiscal, porque isso nunca aconteceu no Piauí. Nós temos que investir no nosso Estado a partir da vocação e a partir do potencial dos territórios, produzir alimentos. Qual é a produção? Qual é a capacidade do território aqui, dos vários territórios que tem para produzir? É fruta, caju? E o que a acerola? Enfim, os vários produtos que nos alimentam e que o excedente pode ser vendido. A gente vai ter no mercado qualquer mercado de Teresina, você pergunta lá de onde vêm aquelas frutas, aquelas verduras, aqueles cereais, que não vêm aqui do Ceará, vem do Rio Grande do Norte, vem de Pernambuco, vem da Bahia, do Piauí não vem nada. Não vem nada. Bem aqui na beirada de Teresina, é a capital do estado, não tem energia que preste. A energia nessas estradas, primeiro que as estradas muito ruins aqui na zona rural de Teresina, é muito ruim e a energia é só um fio, não segura. Não tem água, as pessoas não têm água para beber. Como é que pode? E tem barco. Eu estive em São Raimundo Nonato agora e lá as mineradoras estão a todo vapor. Você sabe o que é que está acontecendo lá? Estão extraindo minério com bombas, poluindoas águas que tem lá, e a água lá não é fácil. A água é subterrânea. Então estão poluindo, estão distribuindo poeira, tanto a poluição da água no solo como a poluição do ar, e maltratando a população daquela região de São Raimundo Nonato, que é outro problema. Dos três setores econômicos principais do nosso estado, a indústria, agropecuária e serviços, a indústria tem participação de 12 por cento no PIB, agora, 2019. A agropecuária a participação em 9%, e serviço e 80%. Qual foi o desenvolvimento que teve esse estado? E a indústria só cresceu esse tantinho aí, porque? Por causa da energia eólica e por causa das mineradoras, que estão arrebentando com o solo e com as populações originárias do interior do Estado. E a agricultura só cresceu esse pouquinho também saiu de 6, 7 para 9 por cento por conta, do agro negócio das toneladas e toneladas de soja que são produzidas para engordar vacas e bois na Europa, nos Estados Unidos e que não resolve a nossa fome.

O senhor já esteve à frente de outros pleitos eleitorais no Piauí. O que o senhor acredita que a eleição deste ano tem diferente? Deve manter o mesmo comportamento das outras vezes ou pensa em apresentar algo de novo?

Nós estamos apresentando um programa acredito que agora com mais substância, um programa melhor definido para enfrentar num plano imediato esses problemas que eu tenho elencado na campanha, como o problema do desemprego, o problema da fome e da falta de moradia, do sucateamento da educação pública, da saúde. Esses problemas nós temos que enfrentar agora, e somos nós trabalhadores, aqueles que lucram com isso não vão meter a mão na massa para resolver esse problema, não. Nós é quem temos que resolver, mas é um programa que ao mesmo tempo, busca solucionar esse problema, busca construir também, a médio longo prazo, uma sociedade mais permanente, um processo de socialização da riqueza produzida pelos próprios trabalhadores, para que a gente possa alcançar um futuro digno e seguro para todos nós e para a juventude e para os nossos filhos e netos.

Outro setor que merece uma atenção urgente gente, é a saúde, principalmente por conta dos efeitos provocado pela pandemia. Como o senhor pensa em trabalhar nessa área?

Pois é, a saúde no Estado do Piauí, como eu disse, é abandono completo, a saúde pública, e é proposital porque isso tem um sentido. Qual é o sentido? O Estado se desobriga com a oferta dos serviços públicos de saúde e de educação. E ele agora faz isso porque antes ele tinha as estatais, mas já vendeu todas, não tem mais nada pra vender. Então, agora o Estado, os ricos vão se apropriando dos setores que ainda existem, que é saúde, educação e outras áreas. Então, por isso a saúde está abandonada, assim como a educação. Tudo bem, você tem uma estrutura de baixa complexidade que são as UBS, porta de entrada no sistema. Você tem os hospitais regionais de média complexidade e você tem os hospitais de alta complexidade aqui na cidade de Teresina. Essa estrutura ela é insuficiente, ela não atende a demanda. Então, a primeira coisa que nós temos que fazer é reforçar essa estrutura. O Hospital Regional de Floriano, ele precisa ser dotado de capacidade de atendimento da população da sua jurisdição. A mesma coisa o Hospital Regional de Picos, de Parnaíba, etc e tal. Se essa, junto com o melhoramento, reforçamento dessa estrutura que já existe, é preciso abrir novas UBS, abrir novos hospitais regionais e abrir novos hospitais de alta complexidade. O crescimento dessa rede não acompanha o crescimento da população. Então, para isso nós vamos precisar de mais investimentos. Então, nós defendemos a aplicação de 10 por cento do PIB em saúde pública. Nós defendemos a realização de concurso público, o fim das terceirizações, o fim das organizações sociais, o fim das parcerias público privadas. Nós queremos um sistema público de saúde totalmente público, reforçado e em condições de atender às necessidades da população sem precisar de alguém que quebra a perna, que adoece lá no sudoeste do Piauí tenha que se desloca para Teresina para buscar atendimento no setor privado, porque o setor público lá foi incapaz de atender.

A divulgação do seu nome como candidato ao Governo do Estado foi o Sindicato dos Rodoviários. Os sindicatos de um modo geral têm manifestado apoio à sua candidatura?

Não, os sindicatos, de um modo geral, eles estão mais contidos na questão de apoio explícito à candidatura A ou B. Eu digo a instituição, sindicato. A agora os dirigentes sindicais, os militantes, uma boa parte, sim, está envolvido na nossa campanha, e em especial os militantes, os ativistas, os dirigentes das entidades, dos movimentos, nase estruturas em que a gente atua e que a militância do partido atua, sobretudo no setor público. Setor privado também. O Sindicato dos rodoviários e um sindicato é uma referência importante para os trabalhadores, para a luta dos trabalhadores aqui no Piauí. O sindicato não tem apoio explícito a nenhuma candidatura. Acharam o melhor dessa forma. A gente respeita. O que é importante é manter a independência de classe, seja na luta sindical, seja na luta política. Isso é fundamental para que a gente alcance as vitórias. O sistema de transporte em Teresina está sucateado, não existe na verdade. Qual é a nossa proposta? Fortalecer o metrô, a malha do metrô, a capacidade de atendimento do metrô e expandir o metrô de Teresina. E criar uma empresa pública de transporte coletivo. A Prefeitura de Teresina, se tivesse prefeito, hoje, ela já teria criado há dois anos atrás, há três anos atrás, quando começou a guerra, o cabo de guerra e com o Setut, ela deveria ter criado uma empresa pública municipal de transporte coletivo, porque isso o obrigava, forçava o Setut a ter uma postura mais respeitosa com a população trabalhadora de Teresina. Infelizmente, o prefeito não fez isso, mas nós vamos criar uma empresa metropolitana de transporte coletivo, uma empresa que possa atuar tanto em Teresina, na sua relação com as cidades da chamada área grande Teresina.

O senhor tem dito que o PSTU não tem apoio financeiro. Como pretende desenvolver sua campanha?

Com a militância voluntária. Você sabe que lá no interior, lá a gente diz o seguinte: quem paga a banda escolhe a música? Então, nós não aceitamos financiamento de empresas. Nós não aceitamos financiamento que não seja dos trabalhadores. Então, os trabalhadores que são simpáticos a nossa campanha, que acham que é importante apoiar e votar com a gente porque vai reforçar, pelo menos, no mínimo, vai reforçar, vai fortalecer a luta dos trabalhadores. É o mínimo que pode acontecer, esses trabalhadores, essas trabalhadoras, vão nos ajudam, dão contribuições financeiras, ajudam a gente na coleta. E a gente faz a campanha de acordo com aquilo que a gente tem em mãos, de acordo com a nossa capacidade financeira também. Então, a gente também não sai de campanha endividado. Então, a gente não tem problema em ter pouco voto. Se esses votos tiverem que ser comprados.

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