“As eleições não são democráticas”, reclama a candidato Lourdes Melo, do PCO

Por Cândido Gomes e Marcelo Costa
Editores

A professora aposentada e candidata ao cargo de governadora do Estado do Piauí, Lourdes Melo, disse que não cria a ilusão de ser eleita. Para ela, as eleições da forma que são realizadas não são democráticas, com a consonância de leis criadas, apenas beneficiam quem tem recursos financeiros, “apenas passando de pais para filhos, de poderosos para poderosos”. “Não sou candidata de mim mesma, defendo a causa do PCO – Partido da Causa Operária, que luta pelos trabalhadores, pelo jovens, pelos índios, enfim, pelos menos favorecidos”, disse. Na entrevista, Lourdes Melo fala de temos polêmicos como o fim da Polícia Militar, estatização dos bancos e o direto de armamento ao homem do campo. Confira:

Candidata Lourdes Melo, essa pergunta nós temos feito a todos os candidatos que nós temos entrevistado. Porque a senhora deveria ser a próxima governadora do Piauí? Porque os eleitores deveriam votar na senhora?

Olhe. Na verdade, eu não represento a mim mesma como candidata, represento um programa do Partido da Causa Operária. O programa de um partido, e um partido é uma organização forte. Uma pessoa sozinha, ela é vulnerável. Então, eu me integro ao PCO, ao Partido da Causa Operária, e estou aqui para representar o PCO como candidata a governadora no Estado do Piauí. E também tenho um plano de luta, um plano de luta que não é só para as eleições, mas também para fora das eleições, dando continuidade, independente de eleição, nossa luta cotidiana ela é a mesma. Nós lutamos em defesa da classe trabalhadora, das mulheres, dos oprimidos, como a questão dos negros e dos índios. E, de uma forma geral, o conjunto da classe trabalhadora.

Professora, a senhora já esteve participando de outros pleitos, disputou o Governo do Estado e a Prefeitura de Teresina, sempre ficando em último lugar. A senhora acredita que desta vez vai ser diferente?

Nós não criamos essa ilusão porque a eleição não é democrática. A eleição ela é para aqueles que tiveram dinheiro e têm para comprar voto, as oligarquias, os coronéis, mudando de pai para filhos. E nós não temos recursos para fazer essa campanha. Tem agora também o governo Bolsonaro, que criou o orçamento secreto, que é mais uma forma de possibilitar a injeção de dinheiro sem precisar prestar contas. Então, é uma eleição milionária, bilionária, e nós não vamos criar essa ilusão que poderemos atingir o contingente de votantes. Eu, aproximadamente dois milhões e quinhentas pessoas que venham votar na nossa candidatura, um percentual a ponto de ser eleita. E nós não criamos essa expectativa. Nós que nós colocamos que a eleição é um jogo de carta marcada para quem tem dinheiro para comprar voto e também para constituir os seus marqueteiros, seus advogados, seus apoiadores ricaços também.

No primeiro debate na televisão, a senhora falou que estavam querendo calar a senhora. Por que a senhora acha que isso acontece? Diria que existe uma censura às suas ideias?

Não é assim. Nós já somos oficialmente alijado do processo eleitoral por uma lei que foi aprovada, da cláusula de barreira. Os pequenos partidos que não têm representação, não têm parlamentares, eles não participam dos debates. As emissoras não são obrigadas a chamar, convocar a nossa participação. Isso já é um desfalque, um atentado à democracia. Ao mesmo tempo nós não temos o programa eleitoral gratuito e é o recurso. Não se ganha eleição sem poder viajar. Gostaria muito de estar em Corrente, de estar em Parnaíba, de uma ponta a outra do Piauí. Nós não vamos viajar. Nós vamos ter a internet para se comunicar. E as rádios e também as TVs, quando convocada.

É verdade que a senhora defende a dissolução da Polícia Militar? A senhora não acredita que a PM preste um serviço importante para a sociedade? Como, então, deve ser feito a segurança da população?

Como eu disse, nós não estamos aqui representando a nós mesma. Essa é uma proposta do PCO de que nós entendemos que a Polícia Militar, ela hoje não é uma polícia que dá sustentação a proteção aos indivíduos e também não dá segurança, digamos, aos agrupamentos, aos trabalhadores rurais, aos indígenas. E também aos negros, à juventude. E esses segmentos, todos eles são marginalizados e são o segmento que mais morre. As cadeias estão cheias, é um inferno de gente jovem, pobre e negro. E a Polícia Militar está fortemente armada. Você olha para um policial, dá um receio! Ele tem arma no braço, arma na perna, arma no coldre. E pra que tanta arma? Então, a polícia é o braço armado do estado capitalista. Ela não é para servir à segurança da população. Dito que eu já falei. Então, a gente defende que, por exemplo…  não é aquilo que falam por aí, de autodefesa para degladiar contra os pobres. Nós somos uma classe. Nós defendemos a nossa classe e os pobres fazem parte dos oprimidos da classe trabalhadora. E nós defendemos aqui, por exemplo, os trabalhadores rurais sem terra. Eles têm uma autodefesa, eles têm a arma contra os jagunços latifundiários. Nós defendemos também que os índios das suas aldeias, que são mortos, são atacados. Eles também tenham como autodefesa o direito de se armar. E assim também todos os movimentos que são oprimidos pela Polícia Militar nesse momento. Como seria? Seria que dentro do capitalismo eles não vão baixar a guarda para que a sociedade, repetindo, é uma sociedade dividida em classe. Eles não querem os trabalhadores no poder. Então, esse poder ele só será possível com uma rebelião popular, onde os próprios trabalhadores possam estar evoluindo numa revolução operária, num estado comunista. E assim nós defendemos uma sociedade dos trabalhadores, que é uma sociedade organizada pelos próprios trabalhadores, até mesmo no seu enfrentamento.

A senhora trabalhou como professora até se aposentar. Como a senhora vê o tratamento aos professores por parte do governo estadual? E o que precisa mudar na história, na sua opinião?

Eu sou aposentada também, né. E o que foi que o governo Bolsonaro fez? Ele estipulou uma medida e os governos estaduais e municipais seguiram, que é o desconto para nós que passamos a nossa vida contribuindo para a Previdência. Agora somos obrigados a contribuir novamente. Isso é um recurso que é tirado dos contracheques dos aposentadas e dos aposentados, de 14%. Então, nós precisamos lutar para revogar essa medida. E se foi uma medida criada pelo próprio Bolsonaro, nós não vamos ter nenhuma expectativa que ele possa reverter. Muito pelo contrário. A nossa possibilidade é de que, passadas as eleições, e elegendo o Lula presidente, nós possamos estar fazendo uma pressão e uma exigência que o próximo governo Lula, que a gente espera que seja eleito, possa estar derrubando essa medida para nós, aposentados, que nós já contribuímos a vida inteira, como contribuir mais uma vez?

Outro ponto polêmico defendido pela senhora seria a estatização dos bancos. E isto está correto? A senhora acredita que os recursos da população seriam melhor administrado nas mãos do Estado?

Sim, o dinheiro, o dinheiro é dos trabalhadores, foram eles que produziram a riqueza. Por que eles vão dar para os empresários? Porque que o Banco Central hoje não tem um controle do próprio governo, que não é socialista ainda. Então, nós defendemos, sim, a estatização dos bancos.

Também está correto que a senhora defende o direito à autodefesa e o armamento do homem do campo? Isso não seria algo muito parecido com o que o atual presidente Jair Bolsonaro defende, ou seja, armar a população?

É muito diferente, o que o Bolsonaro defende e que tenha mais armas para atacar cada vez mais o que ele chama de pessoas que no caso são as pessoas vulneráveis, que são jovens, que precisam os próprios indivíduos se defenderem contra a situação que vive de insegurança no Brasil, causada pelo desemprego, causado pela educação de péssima qualidade. E também isso leva a crer que cada vez mais, mais o Estado armado mais vai morrer pobres, jovens e negros. Assim como, repito, numa situação de inferno, é um inferno. A situação das cadeias que estão cheio de pobres hoje no Brasil.

Qual a sua opinião sobre o papel desempenhado pelo STF – Supremo Tribunal Federal? Também acredita que deveria acabar ou existir de outra forma?

O poder do Estado, ele é dividido em três segmentos: tem os parlamentares, tem o Executivo e o Judiciário. Os parlamentares são eleitos através do voto. Também o executivo é eleito através do voto. E porque os juízes têm poder de decisão sobre a população e não são eleitos. É o caso hoje do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o Alexandre de Moraes. Ele é quem vai organizar a eleição. Pode? Ele quem vai determinar as normas, as regras e a função de um juiz não é legislar.  A função de um juiz é julgar. E ele vai controlar as eleições. E já começou de forma que ele está perseguindo o nosso partido, o PCO, o Partido da Causa Operária, no momento em que ele cortou todos os canais da internet, cerca de meio milhão de seguidores, também está perseguindo o presidente do PCO Nacional, Rui Costa Pimenta, que está com o inquérito feito pelo próprio Alexandre de Moraes, e o que a defende? Defendemos que os juízes sejam eleitos porque todo poder emana do povo. Alexandre de Moraes não tem nenhum poder porque ninguém votou nele. Esse daí é um impostor que está lá e nós defendemos a eleição, conforme diz a própria Constituição, que todo poder emana do povo. Portanto, ele não tem nenhum voto, mas mesmo assim ele continua, inclusive perseguindo nosso partido, e queremos a liberdade de expressão, a liberdade de opinião irrestrita.

O que a senhora acha do atual sistema de votação? Acredita que tem qualidade e deve continuar como está ou também prefere a forma antiga?

Na verdade, as eleições, elas todas são passíveis de fraude. Tanto a no papel, antigamente chamava-se emprenhar as urnas. Era um abismo, e o apuração era no papel e era transportado a urna e tinha toda a corrupção, quer dizer, a fraude eleitoral. Mas essa questão da urna eletrônica, quem é que garante que os lacres não possam interferir? Então, na parte dos meios de comunicação, é passível de não ter uma ingerência de ser hackeado, de ser adulterado. Então, nós não podemos botar inteira confiança nas urnas eletrônicas. Tudo é possível.

Porque a senhora nunca fez aliança com outras candidatos, correto? Pretende continuar assim caso tenha o segundo turno esse ano?

Não. Essa é uma decisão do próprio PCO, nós não fazemos aliança porque a aliança é o seguinte: é o grande engolindo o pequeno. E quem sai com vitória é justamente o pequeno que favorece os chamados os partidos laranjas, que estão lá para receber uma merreca e fortalecer os grandes e, no caso para nós, não, é uma questão ideológica, é uma questão da classe. Nós não nos juntamos nem com o próprio PT. Nós estamos apoiando o Lula, mas fazemos a diferença. Nós seguimos o programa do PT e nem muito pior do Alckmin, e nem também das federações. Nós corremos lateralmente com o voto pedindo voto crítico ao governo Lula, mas com nossa programação.

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