Itaú Cultural dedica sua 60ª Ocupação ao crítico de arte Mario Pedrosa

Nascido em 1900, ele teve uma vida de intensa atuação ao longo do século XX, até a sua morte em 1981/ Foto: Luciano Martins - arquivo da da família

Ocupação Mario Pedrosa abre às 20h do dia 25 de outubro (quarta-feira) e permanece em cartaz até 18 de fevereiro na Sala Multiuso do Itaú Cultural. Ela exibe cerca de 300 peças, entre documentos, fotografias, trocas de cartas com personalidades diversas do mundo das artes – como Hélio Oiticica, Picasso, Miró, Calder, Lygia Clark –, reproduções de obras de arte, matérias de jornais, livros, vídeos, depoimentos de pesquisadores e conhecidos dele, entre outros.

Em um giro completo pelos 170m2 do segundo andar, onde está situada, a exposição permite ao público conhecer em profundidade o percurso deste singular crítico de arte pernambucano de Timbaúba. Nascido em 1900, ele teve uma vida de intensa atuação ao longo do século XX, até a sua morte em 1981, construída a partir dos variados lugares onde morou ou por onde passou: Rio de Janeiro e São Paulo, além da Alemanha, Chile, Estados Unidos, França, Peru e outros países.

A curadoria é da equipe Itaú Cultural – formada pelos núcleos de Artes Visuais e Acervos e de Enciclopédia e Memória –, ao lado do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, com consultoria de Quito, neto de Pedrosa. O grupo realizou ampla pesquisa para chegar a esse conjunto. Entre os acervos mais importantes, foram consultados os arquivos da família, o pessoal de Nise da Silveira na Sociedade Amigos do Museu de Imagens do Inconsciente, da Bienal das Artes e do Centro de Estudos do Movimento Operário Mario Pedrosa (CEMAP) no Acervo Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual Paulista (Cedem/Unesp). O resultado é um amplo panorama da vida e, acima de tudo, da constituição e essência do pensamento e atuações do homenageado.

Formando uma espécie de combo sobre Mario Pedrosa, no dia da abertura da mostra a editora Companhia das Letras lança na instituição OBRA CRÍTICA, VOL. 1 – Das tendências sociais da arte à natureza afetiva da forma (1927 a 1951), organizado por Quito Pedrosa. Ainda, esta Ocupação dialoga com a mostra Ensaios para o Museu das Origens, em cartaz até 28 de janeiro de 2024 nos três andares do espaço expositivo do IC, inspirada em proposta dele para a reconstrução do MAM-Rio depois de atingido por um incêndio em 1978. Uma publicação realizada pelo Núcleo de Audiovisual e Produtos Culturais do IC, programação paralela organizada pelo Núcleo de Formação e recursos de acessibilidade alargam o alcance da Ocupação Mario Pedrosa.

A exposição
Passa de 100 o número de fotos de Mario Pedrosa exibidas nesta mostra nas mais diversas situações, desde pequeno até seus últimos anos de vida. Outros 10 vídeos dão suporte à narração expositiva sobre a formação do crítico ao longo de sua vida e luta pela arte brasileira, o fortalecimento de suas instituições culturais, atuação política, amigos feitos em suas andanças pelo país e em seus exílios no exterior. Elas são complementadas por cartas, livros, objetos pessoais, reportagens, artigos, entrevistas e matérias publicadas em jornais, entre outras peças.

Logo na entrada da Ocupação, em uma espécie de boas-vindas, é exibido um audiovisual sobre o homenageado, animado por imagens do crítico, manuscritos seus e depoimentos sonoros de personalidades ligadas à arte. Ente elas, a curadora Aracy Amaral. “Não existe crítico de arte como Mario Pedrosa, mais”, diz ela. “Ele era cultura como um todo, seja política, seja arte, seja arquitetura. E ele se comovia especificamente com a população brasileira”, finaliza Aracy. É neste espaço inicial que começa a se tomar contato com o princípio da vida de Pedrosa, com a exibição, neste entorno, de fotos desde sua infância e documentos resgatados.

Na sequência, entra-se em um nicho no qual se ressalta a sua atuação política e, sobretudo, como crítico de arte. Um painel de quatro metros se estende por uma das paredes, indicando a extensão internacional da sua atuação em uma linha do tempo. Entre os diferentes materiais exibidos nesse espaço, encontra-se farto material, como uma carta aberta, em francês, assinada pelos artistas internacionais Alexander Calder, Henry Moore, Pablo Picasso e Edouard Pignon, para o então presidente da República do Brasil, General Garrastazu Médici, nos anos de 1970. Eles protestavam contra a ordem de prisão de Mario Pedrosa e responsabilizavam pessoalmente o mandatário da nação pela sua integridade física e moral.

Outro ponto da Ocupação é dedicado à luta de Pedrosa pelo fortalecimento das instituições culturais. Encontram-se documentos como uma missiva assinada por Tarsila do Amaral que, ao declarar seu voto acerca da transferência do Museu de Arte Moderna à Universidade de São Paulo, sugeriu que Mario Pedrosa, então diretor do museu, seguisse no cargo. Há outras cartas, como as que ele trocou com a curadora Aracy Amaral e os artistas Hélio Oiticica, Lygia Clark, Antonio Dias, Miró, Picasso.

Além de livros e artigos assinados por Pedrosa, matérias de jornais e textos sobre sua atuação na Bienal e nos Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro e de São Paulo, neste espaço tem, ainda, o original da Planificación General Museo de la Solidaridad. Trata-se de um esboço manuscrito sobre como seria composto este museu que ele implantou em Santiago do Chile a pedido do então presidente Salvador Allende, deposto dias depois em um golpe de Estado que deu lugar a Augusto Pinochet. Há, também, só para citar alguns, os discursos em espanhol, pronunciados por Allende e Pedrosa, quando foi recebida a primeira obra doada a este museu. O acervo desta instituição é composto de doações e mantém as portas abertas na capital do Chile até hoje.

Logo ao lado deste nicho, o público encontra a reconstituição cenográfica do apartamento de Pedrosa, em um convite para o visitante sentar e aprofundar a leitura em textos completos do crítico. Este é um espaço altamente emblemático, uma vez que a residência de Mario Pedrosa e sua mulher Mary Houston, era um centro catalizador de artistas, intelectuais e políticos para encontros, conversas e debates.

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