Um dos serial killers com o maior número de vítimas nos Estados Unidos rendeu quase duas décadas de investigação. A HQ Green River Killer: A Longa Caçada a um Psicopata conta a história do ponto de vista de Tom Jensen, investigador que conduziu a busca pelo assassino.
Escrita por Jeff Jensen, filho de Tom, e com ilustrações de Jonathan Case, a história em quadrinhos acompanha o extenso período de investigação, que culminou com a prisão do assassino e a confissão de dezenas de mortes. O leitor pode acompanhar o avanço das técnicas de investigação e também o aspecto mais humano da busca, com o desgaste dos policiais e as oscilações de interesse da opinião pública pelo caso.
Quem é o Green River Killer
Nascido na cidade de Salt Lake City, Gary Ridgway teve uma vida problemática desde cedo. Sua mãe foi descrita como “dominadora” e quando criança presenciou inúmeras e violentas brigas entre seus pais. Ridgway tinha dificuldades para ler na escola e teve problemas de incontinência urinária noturna até os 13 anos de idade – situações que alimentaram ainda mais os problemas de relacionamento com sua mãe.
Formado no ensino médio com 20 anos de idade, Gary Ridgway logo se casou com sua namorada de colégio e foi servir o exército no conflito com o Vietnã. Desde esta época ele mantinha relações sexuais com prostitutas sem qualquer forma de proteção e contraiu gonorreia, o que o deixou com muita raiva.
Seus familiares e amigos o descreviam como uma pessoa amigável, porém estranha. Seus dois primeiros casamentos acabaram em divórcio por causa de infidelidades mútuas. Sua segunda esposa, Marcia Winslow, alegou que ele a teria estrangulado em uma ocasião.
Religioso
Foi durante o casamento com Marcia que Ridgway se tornou religioso. Ele promovia sua religião de porta em porta, tinha o costume de ler a Bíblia em voz alta em casa e no trabalho – ocasiões que às vezes o levavam às lágrimas. Apesar de suas crenças, ele nunca deixou de solicitar o serviços de prostitutas.
As mulheres que conviveram com Gary Ridgway dizem que ele tinha um insaciável apetite sexual. Suas três ex-esposas e várias namoradas afirmaram que ele exigia ter relações várias vezes no dia, inclusive em locais públicos e em áreas de mata. O próprio assassino disse ter uma fixação com profissionais do sexo, com quem ele tinha uma relação de amor e ódio. Apesar disso, ele frequentemente se queixava da presença delas nas vizinhanças.
De Gary Ridgway ao Green River Killer
Acredita-se que entre os anos 1980 e 1990 Ridgway tenha assassinado pelo menos 71 mulheres e adolescentes próximo às cidades de Seattle e Tacoma. De acordo com o próprio, ele teria matado tantas que teria perdido as contas. A maioria das vítimas era de profissionais do sexo ou mulheres fugindo de casa, que ele abordava enquanto dirigia.
Em alguns casos, o assassino mostrou às mulheres uma foto de seu filho, para conquistar a confiança delas. Elas concordavam em ter relações com ele e, durante o ato, ele as estrangulava. A maioria das vítimas foram assassinadas na casa dele, no carro dele ou em um local escondido, como em uma floresta. A maioria dos corpos foi deixada em áreas de mata próximas à Green River, o que resultou no apelido do assassino.
Por vezes, Gary Ridgway retornava aos locais onde deixava os corpos e os violava novamente. Mais tarde, após sua captura, ele afirmou que não sentia prazer extra com necrofilia, mas que isso evitava que ele precisasse matar mais pessoas e, consequentemente, diminuiria sua exposição para ser pego.
No começo da década de 1980 o xerife de King County formou a força-tarefa para capturar o Green River Killer. Além da participação de Tom Jensen, a equipe contava com a ajuda de Robert Keppel e Dave Reichert, que periodicamente entrevistavam outro serial killer da região: Ted Bundy. Nas conversas, Bundy oferecia insights sobre a mente, as motivações e o comportamento do assassino que estava sendo investigado.
Quem também participou da operação foi John E. Douglas, um agente do FBI que desenvolveu o perfil do suspeito. Douglas serviu de inspiração para o agente Holden Ford, interpretado por Jonathan Groff, na série de TV Mindhunter.
Diversas vezes a polícia chegou perto de capturar Ridgway e de associá-lo às mortes do assassino de Green River. Em 1982 ele foi preso por solicitar serviços de prostituição. Em 1983 ele se tornou um suspeito do caso, mas em 1984 passou num teste de polígrafo. Em 1987 a polícia coletou amostras de DNA dele através de saliva e de fios de cabelo.
Em 1988 ele se casou pela terceira vez. Judith Mawson, a nova esposa, explicou aos policiais que Gary saía bem cedo de manhã para fazer hora extra no trabalho. Provavelmente a maior parte dos assassinatos foi cometida nestas saídas. Segundo o serial killer, o seu ritmo de matanças diminuiu consideravelmente após este casamento. De suas 49 vítimas conhecidas, apenas três foram assassinadas após ele ter conhecido Mawson.
Prisão e condenação
As amostras de DNA coletadas em 1987 foram mais tarde submetidas a análise e forneceram evidências para o mandado de prisão de Gary Ridgway. No dia 30 de novembro de 2001, ele estava trabalhando quando a polícia chegou para prendê-lo, cerca de vinte anos após ele ter sido considerado suspeito pelos assassinatos.
Dois anos depois, em 2003, ele se declarou culpado de 48 acusações de homicídio. A declaração foi parte de uma negociação que lhe pouparia da execução se, em troca, ele cooperasse em localizar os restos mortais das vítimas e fornecesse mais detalhes sobre as mortes.
Em dezembro daquele ano, foi condenado a 48 prisões perpétuas, sem possibilidade de liberdade condicional, que seriam cumpridas consecutivamente. Além disso, o juiz acrescentou dez anos de sentença por tentativa de adulterar evidências a cada uma das 48 condenações, totalizando 480 anos a mais nas prisões perpétuas de Ridgway.
O assassino de Green River confessou o maior número de assassinatos do que qualquer outro serial killer nos Estados Unidos até aquele momento. Apesar das 48 condenações, o assassino alega ter matado 71 pessoas. Hoje ele cumpre suas consecutivas penas de prisão perpétua em uma penitenciária do estado de Washington.
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