Por que o Piauí ainda não se desenvolveu?

Olá, espero que você esteja bem!

Primeiro os princípios, vamos pensar no Piauí como um sistema: conjunto de elementos, estes se organizam dentro de algumas leis básicas que vou enumerar aqui:

  1. Ordem: essa lei está diretamente relacionada à “causa e efeito”, toda reação é consequência de uma ação anterior. Perceba que tem uma hierarquia aqui, o que vem primeiro determina o que vem depois.  Existem sistemas que não obedecem à essa lei? Sim, sistemas desarmônicos.
  2. Equilíbrio: essa lei observa o equilíbrio que precisa haver entre os elementos. É uma sincronicidade, é como uma orquestra composta por diferentes instrumentos, mas regulados pela mesma frequência ditada pelo maestro, que dá harmonia à canção.
  3. Pertencimento: os elementos precisam fazer parte desse sistema por meio de uma conexão profunda. Quando um elemento fora do sistema entra, causa problemas: nicotina no organismo humano pode causar câncer…

Sendo assim, o Piauí tem uma formatação de elementos históricos, sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais que se organizam dentro destas leis sistêmicas, citadas acima e nos tornam o que somos.

Olhe só isso, o crescimento acumulado do PIB do Piauí (Produto Interno Bruto), registrado entre os anos de 2002 e 2020, que foi da ordem de 82,3%, equivalente a uma taxa anual de 3,4% (dados apurados pela Superintendências Cepro/Seplan).

Um detalhe merece destaque, mesmo performando tão bem como mostram os dados acima, no ano de 2002 em que participávamos na composição do PIB nacional na ordem de 0,5%, vinte anos depois, elevamos nossa participação no PIB nacional para apenas 0,7%.

Muito trabalho, muitos recursos humanos, materiais e financeiros, mas resultado insuficiente para o que precisamos…

Na prática, somos um dos Estados da federação mais vulneráveis do ponto de vista econômico e social, apesar de termos crescido 82,3% em vinte anos!

Você pode me indagar: “como depois de 20 anos de um crescimento de 82,3% de crescimento, a 4ª maior taxa acumulada do país, ainda somos considerados um Estado pobre”?

 A resposta é sim, isso acontece porque o Estado do Piauí enquanto sistema que observa as três leis sistêmicas básicas de ordem, equilíbrio e pertencimento, está organizado (calibrado) para ser pobre!

Somos uma orquestra, temos instrumentos de primeira qualidade, tocam música clássica, mas está “desafinada” para o desenvolvimento…

Um outro exemplo disso são nossos números referente à PIB per capita (Produto Interno Bruto dividido pela população), na mesma série temporal, entre os anos de 2002 e 2020, o PIB per capital do Estado apresentou maior crescimento acumulado do país.

Foi registrada uma alta de 604%, pois passou de R$ 2.441,00 em 2002, para R$ 17.185,00 em 2020 e mesmo assim, no ranking nacional somos o penúltimo Estado em termos de PIB per capita, ficando à frente apenas do Maranhão!

Vou entregar agora a hipótese que é a bússola que guia o texto: Esse fato decorre do baixo grau de complexidade da economia piauiense…

Vejamos, um arranjo de elementos históricos, econômicos, sociais, políticos, culturais e ambientais fazem com que o Piauí tenha uma economia simples, pouco diversificada e por isso considerada pobre, se comparados os indicadores econômicos e sociais com as demais unidades da federação.

Isso acontece porque o grau de complexidade econômica está diretamente relacionado ao nível de desenvolvimento de um país, de uma região, de Estado ou município e o nosso grau é baixo…

Por exemplo, uma parte expressiva de estudantes piauienses sonham com concurso público, os cursos mais demandados no ensino superior são medicina e direito, que pouco contribuem para fazer avançar cadeias produtivas como agronomia, zootecnia, as engenharias, Tecnologia da Informação, já que dão suporte à indústria prestando serviços sofisticados e por isso bem remunerados.

Prestação de Serviços simples que remuneram pouco…

Sendo assim, esse conceito de complexidade econômica precisa ser observado tanto do ponto de vista de econômico, como social e uma atenção especial para a educação, já que se relaciona com PIB, PIB per capita (renda) e com grau de escolaridade da população.

A complexidade econômica tem muito haver com as redes que se formam entre as cadeias produtivas que geram produtos e serviços com maior valor agregado (sofisticados) ou menor (simples).

Um espaço geográfico (país, região, estado), capaz de atrair fluxos produtivos e humanos dinâmicos, tem uma complexidade econômica maior, tende assim a se consolidar como polo, são cadeias produtivas que giram em torno de atividades industriais. Por exemplo, uma indústria motriz (automobilística), quando expande sua operação, ela puxa outras cadeias produtivas como autopeças, pneus, siderúrgica etc.

Você pode me perguntar: Ahh, mas e se a indústria motriz contrair a sua operação, derruba toda a cadeia junto!

Sim, é verdade, mas recorro aos princípios da macroeconomia pra te responder, mas veja, um dos objetivos macroeconômicos básicos é a busca através de políticas econômicas, fiscais e monetárias do: crescimento econômico como parte de um Plano de Desenvolvimento…

Voltando, o entorno desses polos dinâmicos, por terem uma rede de conexões produtivas mais simples, ocupam a posição de “periferia”.

É assim, por exemplo, que se desenham as relações de poder entre os países: centrais (minoria) e a periferia (maioria dos países) e suas influência políticas econômicas, militares etc…

Polos econômicos complexos tendem a produzir tecnologias, novos conhecimentos, produtos, serviços sofisticados e inovações.

Indústria

Por sua vez, regiões periféricas são consumidoras desses produtos e o que vendem?

Matérias-primas, no máximo produtos com pouco valor agregado…

Uma condição para que haja complexidade econômica em uma região é a multiplicidade de conhecimentos incorporados à estrutura produtiva da economia, através de uma rede construída a partir de compartilhamento, de colaboração e criatividade com foco no desenvolvimento.

Foi publicada pela Revista Eletrônica do Departamento de Ciências Contábeis e Departamento de Atuária e Métodos Quantitativos da FEA-PUC/SP um Índice de Complexidade Econômica que mede a complexidade econômica dos Estados brasileiros.

O índice usa como variáveis:

  1. Empregos formais em cada estabelecimento na base de dados RAIS, entre 2010 e 2019;
  2. Salários dos trabalhadores de cada estabelecimento na base RAIS, entre 2010 e 2019;
  3. Total de estabelecimentos das classes pertencentes a CNAE 95, para todos os estados e entre o período de 2010 a 2019, que engloba 561 categorias de atividades produtivas, passando por simples, chegando a complexas;

O que o estudo nos diz:

São Paulo é o Estado com economia mais complexa do país, seguido por Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Amazonas, respectivamente.

Quatro da região sudeste, com exceção do AM, isto acontece, por conta da Zona Franca de Manaus como política de desenvolvimento regional, mas comum a todos um parque industrial diversificado.

Na parte inferior, onde se constata a baixa complexidade econômica, estão Estados do norte, nordeste e centro-oeste, onde se destacam atividades econômicas com foco em agropecuária e extrativismo. Estes ainda possuem os mais baixos indicadores econômicos e sociais do país.

Sobre a realidade piauiense:

O estudo da complexidade econômica reforça o que já é percebido pela nossa pauta de exportação: somos exportadores de matérias-primas para o exterior com uma participação de 0,7% dentro da pauta de exportação nacional, ou seja, somos uma economia simples, pouco diversificada e o que há de mais moderno, vêm de fora…

Abaixo uma tabela que mostra lista de principais produtos produzidos e seus respectivos municípios como parte da pauta de exportação piauiense, publicação Conjuntura Econômica, que foi publicada pela Seplan/Cepro em 2021.

Já que o Piauí tem uma formatação de elementos históricos, sociais, econômicos, políticos, culturais e ambientais que se organizam e nos tornam o que somos, um Estado de economia simples que produz matérias-primas, para exportação, que tem elevada taxa de informalidade no mercado de trabalho, que remunera pouco por exigir baixa escolaridade, é preciso no presente refazer essa rota.

  1. Captar investimentos públicos em infraestrutura, fortalecem nosso agronegócio, turismo, mineração e geração de energias renováveis, esse é nosso dever de casa inicial;
  2. Olhar para os territórios de desenvolvimento a partir das muitas potencialidades e estimula-las;
  3. Aumentar a participação da indústria em nossa economia em sinergia com as vocações produtivas dos territórios;

É possível que assim, criemos um novo sistema, uma reorganização daquelas leis sistêmicas que mencionei no começo no texto:

  1. Ordem;
  2. Equilíbrio;
  3. Pertencimento;

Só que agora um sistema calibrado para ter tração e arrancar rumo ao desenvolvimento, ajustado à realidade piauiense.

Uma orquestra com diferentes instrumentos, tocados na mesma frequência (desenvolvimento), agora “afinados”, que tenha muito mais a nossa cara, com uma sanfona, um triângulo e uma zabumba tocando forró!

Até a próxima…

Fontes:

Cavalcante, L., Araujo Monea, G. K., & Ferreira, F. F. (2021). RANKING DE COMPLEXIDADE ECONÔMICA DOS ESTADOS BRASILEIROS. Redeca, Revista Eletrônica Do Departamento De Ciências Contábeis &Amp; Departamento De Atuária E Métodos Quantitativos7(2), 143–157. https://doi.org/10.23925/2446-9513.2020v7i2p143-157

SEPLAN/CEPRO. PIB Piauí, 2020. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/http://www.cepro.pi.gov.br/download/202212/CEPRO15_380031a52b.pdf;

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