Com mais de 150 peças, entre fotos, audiovisuais, textos e livros de autoria do homenageado, depoimentos dele próprio e de personalidades de sua convivência e objetos pessoais, a Ocupação Milton Santos abre no dia 19 de julho e segue até 8 de outubro. A mostra revela o caminho deste brasileiro considerado um dos mais importantes intelectuais do século XX e responsável pela renovação da geografia no país a partir da década de 1970. A curadoria, concepção e realização é da equipe Itaú Cultural, com consultoria de Flávia Grimm e Manoel Lemes e projeto expográfico de Francine Moura e Davi Brischi. Toda a exposição contém recursos de acessibilidade.
Milton Almeida dos Santos nasceu em maio de 1926 em Brotas de Macaúbas, na Bahia. Morreu em junho de 2001, em São Paulo, aos 75 anos. Além de renomado geógrafo, que inovou o pensamento sobre o tema, ele foi escritor, cientista, jornalista e professor universitário. Por 13 anos, de 1964 a 1977, viveu em exílio. Começou essa itinerância, forçada durante a ditadura militar brasileira, pela França para depois seguir para Toronto, no Canadá; Cambridge, nos Estados Unidos; Lima, no Peru; Caracas, na Venezuela; e Dar-es-Salaam, na Tanzânia.
Passados 22 anos de sua morte, as ideias de Milton Santos seguem circulando para além das universidades, impactando e influenciando todo o país e alimentando novos intelectuais, artistas e ativistas, em especial nas periferias. Ele se engajou em debates sobre política e educação pelos jornais; discutiu práticas de movimentos sociais e a questão racial.
Este é o percurso que a Ocupação acompanha, começando pelo seu processo criativo até chegar ao legado intelectual que ele deixou, passando por seus livros, objetos, conceitos e biografia.
A mostra
Ao entrar no espaço expositivo, o visitante encontra a imagem e Milton Santos e um vídeo com conteúdo introdutório da sua visão sobre a geografia. Na sequência, chega-se no percurso de seu processo criativo, formado por documentos originais expostos em pequenas vitrines. Elas contém manuscritos, textos datilografados por ele e livros de sua autoria. Uma mesa de leitura recebe aqueles que queiram se aprofundar no universo de Santos, lendo os pensamentos que publicou.
Ao lado, uma grande projeção traduz, em desenhos criados pelo Coletivo Coletores, conceitos elaborados por Santos. São ilustrações de temas como espaço geográfico, economia urbana, globalização e o lugar do cidadão na ótica dele. Estabelece-se, aqui, um diálogo de suas teorias com a vida cotidiana do século XXI.
Em uma parede de mais de 10 metros de comprimento, um painel biográfico conta a história de Santos por meio de fotos, depoimentos em vídeo dele e de outras pessoas com participação importante nessa trajetória, objetos pessoais e matérias de jornais. Em seguida, um espaço é dedicado à apresentação do ponto de vista de Milton Santos sobre a questão racial, com depoimentos em vídeo e publicações.
Por fim, chega-se ao núcleo que apresenta o seu legado. Com um vídeo mapping projetado em volumes que representam um mapa da cidade de Brotas de Macaúba, é possível ver a relação da obra do homenageado com a cidade e a periferia, a forma como ela tem sido apropriada pelas novas gerações e a importância de suas teorias para construir um futuro melhor para todos.
Entre os vídeos exibidos na exposição, um deles traz fala do próprio Milton Santos sobre a importância da geografia em palestra que deu no Encontro internacional: lugar, formação socioespacial, mundo, realizado na Universidade de São Paulo (USP), em 1994. Em outro, a francesa Marie-Hèléne Tiercelin Santos, com quem ele foi casado por mais de 30 anos, desde 1972, conta episódios sobre o exílio do casal. Ainda, Maria Adélia Souza, geógrafa planejadora e professora que foi sua aluna e depois trabalharam juntos na volta dele ao Brasil revela as dificuldades que ele enfrentou neste retorno.
Em mais um audiovisual, o geógrafo e educador Billy Malachias, também seu ex-aluno, fala sobre as questões raciais que envolveram a vida e o legado do mestre. O escritor Itamar Vieira, autor de Torto Arado, entre outros livros, também fala sobre o assunto, assim como a neta Nina Santos, que comenta a importância da representatividade do avô como intelectual negro. Veja alguns trechos das falas de Marie-Hèléne, Maria Adélia e Malachias.