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A HISTÓRIA ÚNICA DE OEIRAS. Por; Rogério Newton

Rogério Newton por Rogério Newton
14 de novembro de 2025
em Brasil, Cultura, Nordeste, Piauí, Rogério Newton
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A HISTÓRIA ÚNICA DE OEIRAS. Por; Rogério Newton

A escritora nigeriana ChimamandaNgoziAdiche alerta para O Perigo de Uma História Única, título de uma palestra, depois transformada em livro de mesmo nome. Ela afirma que o conhecimento é formado pelas histórias que escutamos. Quanto maior a diversidade de narrativas, mais completa se torna nossa compreensão.

Lembrei-me imediatamente que Oeiras incorre há séculos nesse perigo, pois sua história é contada, quase sempre, com os contornos de uma narrativa, se não única pelo menos hegemônica: a de que a cidade é fruto da colonização luso-cristã, representada por autoridades, clérigos, potentados, consistindo até hoje em uma glória civilizatória invicta, na qual sobressaemhomens brancos ilustres de bravura inexcedível.

De uma forma bem genérica, esse é o resumo da história única de Oeiras, repetida a gerações, às vezes com pequenas variações aqui e ali, que não alteram sua essência. Sempre essa narrativa começa com a penetração de bem-intencionados e destemidos desbravadores, que estabelecem fazendas-criatórios dentro do sertão. Boa parte dos exploradores, senão todos, eram devotos. Ressalta da narrativa a famosa reunião ocorrida em 1697, na Fazenda Tranqueira, que definiu o lugar para edificação do templo em honra a Nossa Senhora da Vitória. Essa a síntese da gênese civilizatória predestinada à vitória heroica, guiada por homenstementes a Deus.

Possibilidades de narrativas diversas podem ser intentadas a partir dos habitantes primitivos das terras e das águas superficiais. Antes da espada e do arcabuz chegarem aqui pelas mãos de portugueses e espanhóis, sete nações indígenas viviam no território posteriormente denominado Piauí. As pessoas humanas que formavam tais nações foram executadas em guerras de extermínio, entre elas, as que viviam no vale do Rio Canindé. A tribo Canindé, cujo nome é o mesmo do rio e de uma espécie de arara nativa, foi também extinta em guerras de perseguição e extermínio, preparadas para matar os indígenas e deixarem o território “limpo” para possibilitar a ocupação pelos exploradores. O genocídio e o etnocídio indígenas, que estão na gênese da formação do Piauí e de Oeiras, são invisibilizados na narrativa heroica. Os algozes são apresentados na história única de Oeiras como heróis, embora tenham matado milhares de inocentes e se apossado das terras e das águas superficiais onde imemorialmente viviam os habitantes nativos, considerados no discurso etnocêntrico como “bárbaros”, “pagãos”, “selvagens” e “primitivos”. Muito desse discurso era baseado no “racismo de raça” e no “racismo biológico”.

ChimamandaNgoziAdiche afirma que é “impossível falar sobre a história única sem falar sobre poder”. Assim como o mundo econômico e político, as histórias também são definidas pelo seguinte princípio de poder: “ser maior do que outro”. Por isso, “como elas são contadas, quem as conta, quando são contadas e quantas são contadas depende muito do poder”. E o que é poder: “é a habilidade não apenas de contar a história de outra pessoa, mas de fazer que ela seja uma história definitiva”.

É exatamente o que ocorre em relação à história única contada sobre Oeiras, alçada ao “status” de história definitiva: é o poder que a define, umbilicalmente ligado ao patriarcado capitalista de supremacia branca. E quem a conta, nos livros, nas escolas, nos parlamentos, nos discursos, nas sessões solenes, são homens e mulheres (muito mais homens que mulheres) que expressam a voz do poder econômico, político, racial e eclesiástico.

Não por acaso, na história única de Oeiras, a exploração do Piauí deu-se do sertão para o litoral. Evidente que sesmeiros e/ou prepostos, provenientes da Bahia e Pernambuco, entraram no sertão do Piauí, chegaram e se estabeleceram nos vales do Rio Canindé e de outros cursos d’água e lagoas. Isso é um fato histórico. Mas é preciso lembrarque a primazia dos exploradores e do sertão para o litoral desconsidera outras formas simultâneas de penetração no território, como as que ocorreram pelo litoral e pela transposição da Serra da Ibiapaba em direção ao Maranhão e Grão Pará. Nesse caso, a primazia ou exclusividade, como narrativa, empobrece a história, pois invisibiliza narrativas outras, que, se devidamente consideradas, ampliam o espectro de compreensãodos fatos históricos, econômicos e sociais e das etnias, personagens, grupos e classes sociais neles envolvidos.

 A história única afirma que a obra civilizatória no Piauí, cuja narrativacorrespondente coloca Oeiras no centro do processo, é fruto da ação de homens crentes. Essa noção é acriticamente aceita, sem considerar a complexidade que moveu todo o processo econômico e político que determinou a ocupação violenta do território, na qual houve conflitos, contradições, exclusões, crimes, injustiças sociais e raciais. Por essa narrativa, a história de Oeiras é um conto de fadas, uma história para a vaca mocha dormir, obra de autoridades, clérigos e potentados. Índios, negros, mestiços, escravidão negra e vermelha, racismo e latifúndio são meros detalhes, quando muito, lembrados de passagem, de modo a não macular a “história dos vencedores”. Latifúndio e racismo, por exemplo, são palavrasimpronunciadas nessa história única.

Essa mesma história única afirma que Oeiras nasceu em volta da Igreja de Nossa Senhora da Vitória. De fato, um conjunto de edificações foi erguido no entorno daquele templo. O problema reside menos no conteúdo informativo da afirmação do que no que ela deixa de dizer. O que é omitido implica, no mínimo, em perda de problematização dos fatos e das personagens históricas. Por exemplo: não está explícito na afirmação, mas a Igreja Nossa Senhora da Vitória é a “igreja dos brancos”. Em volta dos outros templos históricos de Oeiras, a cidade também se desenvolveu, quais sejam: Igreja Nossa Senhora da Conceição (“dos homens pardos”) e Igreja Nossa Senhora do Rosário (das negras e negros). Na história única, os templos dos pardos e dos negros são inferiores ao templo dos brancos. A história única constrói hierarquias, invisibilizações e eufemismos. Essa hierarquização é manifestamente racial, embora seja também econômica, política e social.

O fato de se afirmar que a cidade nasceu em volta de um templo religioso constitui consolidação de um marco civilizatório da Igreja Católica. De um modo geral, a história única de Oeiras não faz uma abordagem crítica da participação da Igreja no âmago do jogo de poder que presidiu o processo de colonização do Piauí e a ocupação do território, onde imemorialmente viviam sete nações indígenas, extintas pelas guerras de extermínio, e onde foi estabelecida à força, primeiro a escravidão vermelha, depois a escravidão negra e por vezes ambas simultaneamente.

No campo das invisibilidades que a afirmação ora questionada traz em seu âmago, mencionamos aqui que a cidade não teria sido plantada ali, não houvesse água superficial de boa qualidade, representada pelo Riacho Mocha, que fornecia “água abundante o ano inteiro”, nas palavras de George Gardner. É possível imaginar uma cidade sobreviver sem religião, mas sem água potável isso é uma impossibilidade. Entretanto, a fundamentalidade do Riacho Mocha na gênese de Oeiras é propositadamente silenciada na história única, para que sobressaia a participação da Igreja e de outros símbolos representantes do poder, consolidando a “vitória” da civilização sobre a natureza, “vitória” essa que ainda hoje persiste, atualizando o colonialismo.

Outro exemplo evidente de narrativa de conto de fadas é a de Manuel de Sousa Martins, Barão e Visconde da Parnaíba, personagem histórica importante, mas alçada pela história única ao “status” de mito e herói de bravura inexcedível. Ainda hoje, autoridades,clérigos e intelectuais prestam-lhe culto anual defronte de seu busto em Oeiras. Dir-se-á que tais pessoas têm direito a render-lhe homenagens. Ocorre, porém, que a apologia ao Barão da Parnaíba invisibiliza a problematização dos fatos históricos dos quais ele foi partícipe, para análise dos quais o espírito crítico (e o espírito público) são necessários. Fazer-lhe somente elogios é uma forma de atualizar aquiescência aos problemas que ainda hoje afligem as pessoas situadas na base da pirâmide social: patriarcalismo, latifúndio, autoritarismo, racismo, sistema político, econômico e social excludente dos mais vulneráveis. Nem mesmo o avanço que a historiografia piauiense passou a experimentar a partir da década de 1980, com abordagem mais crítica e consulta a outras fontes, tem sido suficiente para lançar luzes na história única de Oeiras. No caso do Barão da Parnaíba, não são poucos os que ainda leem, como uma bíblia, o livro O Visconde da Parnaíba, do senadorEsmaragdo de Freitas,

Embora não faça uma abordagem propriamente histórica, a escritora ChimamandaNgoziAdiche faz duas sugestões que considero bastante saudáveis para quem se interessa por história: além de recomendar que sejamos cautelosos ao ouvirmos uma versão dos fatos, ela propõe uma diversificação das fontes do conhecimento. Afirma: “A história única cria estereótipos, e o problema com os estereótipos, não é que sejam mentira, mas que são incompletos. Eles fazem com que uma história se torne a única história”. De minha parte, digo apenas que há estereótipos que são mentira, o que amplia a necessidade de mais cautela ante a uma versão de fatos e pessoas.

Além de haver o problema do “ser maior que o outro” na história única, há também a resistência de se aceitar a própria sombra pessoal e o que é repulsivo na história coletiva. Estou falando de sombra aqui como as características “negativas” do ser humano, como crueldade, medo, ganância, dominação, exploração. É muito difícil reconhecer que as possuímos, seja do ponto de vista individual, seja dos pontos de vista histórico e coletivo. Nem sempre é fácil, mas é melhor aceitarmos os defeitos pessoais, porque só assim poderemos mudar para melhor. Da mesma forma, é melhor reconhecer os erros, crueldades, crimes e injustiças da história do que negá-los ou fingir que não existem e construir a ilusão da história única, que os rejeita porque os veem como ameaças para sua hegemonia, que sacraliza a supremacia do domínio colonial do passado e do presente.

Aí talvez resida a razão psicológica pela qual a história única de Oeiras tenta silenciar e apagar características obscuras e violentas do seu processo histórico, como racismo, escravidão, latifúndio, genocídio e etnocídio, entre outras. Ao mesmo tempo, essa mesma história única tenta silenciar e apagar tantos quantos procurem apresentar outras narrativas históricas que se aprofundam na pesquisa e na reflexão e bebem em fontes não manuseadas pela história única.

* Rogério Newton é escritor

Tags: canindechimamandaOeiras

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