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Home Colunistas Rogério Newton

Fica o ranço das metáforas: 45 anos de tá pronto, seu lobo?

Rogério Newton por Rogério Newton
8 de julho de 2023
em Rogério Newton, Sem categoria
0
Fica o ranço das metáforas: 45 anos de tá pronto, seu lobo?

Assim que cheguei a Teresina, ia com frequência à Livraria Corisco, na Rua 13 de Maio, esquina com Elizeu Martins. Numa tarde, encontrei o poeta Paulo Machado, que me convidou para irmos a uma lanchonete. Enquanto matávamos a sede, ele retirou papéis da bolsa: eram os originais de Tá pronto, seu lobo?, seu primeiro livro de poesia. Não era estreante, pois já havia publicado poemas em jornais e coletâneas, dentro e fora do Piauí. Em verdade, há um livro anterior, Travessia, nunca publicado. Os originais foram extraviados na Secretaria de Cultura do Estado do Piauí.

O poeta passou então a falar com entusiasmo como havia sido o processo de criação. Para mim, que só via lirismo na linha do horizonte, foi uma das primeiras aulas que tive em Teresina sobre poesia. 

Um dos temas mais caros às reflexões de Paulo Machado era a existência do caráter épico na poesia, que parecia na época estar em desvantagem em relação ao lírico. Era fácil (ainda é) encontrar poetas líricos entre nós, mas não poetas épicos. 

Em Tá pronto, seu lobo?, certo “distanciamento” do autor em relação ao “objeto” ´poético está presente na obra, mas também no próprio ato de construir o poema, como atesta postulado (“fazer poemas é fácil / como amordaçar um lobo”). A inspiração, a efusão lírica, não desprezíveis, são ressignificadas e cedem espaço para sua contraparte, o labor, o suor, o esforço necessário para se fazer poesia, a mais radical e elaborada expressão de arte com a palavra.   

É claro que Tá pronto, seu lobo? não é um épico de escola. É mais apropriado dizer que o caráter épico está presente como concepção estruturante e como olhar poético sobre Teresina. Natureza morta, primeira parte do livro, é totalmente dedicada à cidade. Gerais, segunda parte, é constituída de poemas com temática variada, da qual fazem parte, por exemplo, o já referido postulado e mais dois poemas sobre poesia: esboço e poética. Libertinagem, poema final, é bastante épico, mas o lirismo está lá também. 

O épico convive com o eu lírico mitigado, sem prejuízo ou conflitos. Muito pelo contrário: a linguagem ganha em voltagem poética. A melhor prova disso é post card/57 e post card/77, que na primeira edição do livro (1978) aparecem como poemas consecutivos, mas na edição comemorativa de trinta anos não há margem a dúvidas de que é um poema único, agora intitulado post card 57/77.

Em post card 57/77, poema de abertura, Paulo Machado nomeia lugares, pessoas e episódios vinculados à História do Brasil e de Teresina, por exemplo, Pça. Mal. Deodoro, Bar Carnaúba, Rio Parnaíba, o louco Jaime, “os homens de casimira cinza”. Ao abordar “objetivamente” a cidade, o autor assinala ruptura com o lirismo primário, muitas vezes açucarado, de boa parte das produções ditas poéticas e de letras de canções sobre Teresina. Ao invés de louvar ou idealizar a cidade, o poeta retira de sua própria história e de sua paisagem elementos reais, conferindo valor poético ao histórico ou prosaico:

No mercado central pretas carnudas
Vendiam frito de tripa de porco
Fígado picado e caninha
No mercado central negrinhos descarnados
Catam laranjas e limões podres
Em plena manhã de maio

Seu olhar repousa muitas vezes sobre fatos aparentemente insignificantes e pessoas anônimas, pertencentes às camadas populares, como “jorginho da negra zulmira, / brasileiro, nascido no morro / da esperança, vinte anos, casado, / pai de gêmeos, tarefeiro / um taco de fazer inveja”, que na foto do jornal aparece com o rosto colado no asfalto da avenida. Em outro poema, arquivo, o poeta retira do esquecimento Adão, encontrado morto na Praça da Liberdade, “como um mamulengo esquecido”. Trata-se de um assassinato perpetrado pela repressão, que ficou por isso mesmo: “hoje adão é um número qualquer / arquivado / à espera dos cupins”.  Em cotidiano 2, como em outros poemas, o autor faz sua a voz dos esquecidos:

Nos calçadões da estação ferroviária
Homens aprendem a domar o medo.
(…)
estão desertos e frios
corações despedaçados,
exilados e repetidos dentro da noite.

Bem se vê que o autor escolheu a via participante. No panorama da época, final da década de 1970, o país vivia ainda mergulhado na ditadura, tingida pelas promessas de redemocratização. Havia uma intensa movimentação de poetas, escritores, dramaturgos, músicos, artistas em geral, com sede de participação, através da publicação de livros, performances, happenings etc.

Segundo Heloísa Buarque de Holanda e outros, organizadores do volume Poesia Jovem Anos 70, da coleção Literatura Comentada, houve um “boom poético” naquela década:

“(…) o que se verifica em meio à efervescência de poetas e poemas é a emergência de tendências, as mais heterogêneas, unidas apenas pela bandeira comum da postura anárquica e vitalista na defesa do direito de se agitar a poesia como forma de resistência ao ‘sufoco’ do momento”.

Paulo Machado viveu ativa e intensamente o espírito da época. Tá pronto, seu lobo? é também fruto disso. Mas não se pode dizer que o livro é uma obra datada, restrita à conjuntura da época. Nada disso! Não se encontrará na poesia dele o protesto panfletário da poesia denominada impropriamente “engajada”. Sua poesia funde a preocupação com a realidade e o esforço de construção de uma linguagem poética, cujo aprendizado deu-se a partir da leitura dos autores modernos do século XX, filiados à “tradição dissidente”, como a chamou Paulo Leminski, no posfácio de Poesia Sem Fim, do poeta beat Lawrence Ferlinghetti.

Em um dos melhores poemas do livro, dedicado ao Rio Parnaíba, parece haver a ressonância do poeta russo Vladimir Maiakovski, para quem o primeiro dado indispensável ao trabalho poético é a existência, na sociedade, de um problema cuja solução só é concebível por uma obra poética: 

preciso urgentemente escrever um poema!
que os versos sejam vorazes,
lembrando o rio de minha cidade, 
comendo as pedras do cais.

Em herança, o épico e o lírico se fundem num texto plasmado na memória familiar, do tempo em que os avós maternos moravam em uma das ruas originais do Centro de Teresina. É um dos melhores poemas não só desse livro, mas de toda sua obra poética. O avô, os primos, a gripe espanhola, o tio que tosse dentro da noite, o perigo do “naufrágio nas tradições de há séculos” se misturam com lagartixas, “a mudez das pedras e do vermelho do barro”, o quintal, onde a erva-cidreira “cresce por entre as rachaduras das lajes, / sussurrando boatos de revolta”. O desfecho do poema assinala a vitória da poesia sobre o desgosto: 

há um poema que rói o tédio, 
na senador pacheco, 1193.

Em Gerais, os temas variam: a poesia, o ator decadente, a prostituta, o futebol… A linguagem é a mesma: enxuta, precisa, substantiva. Ousado é o poema final, em dois movimentos, libertinagem, o mais longo do livro. O autor usa fatos históricos desde o achamento do Brasil, para mostrar feitos e defeitos da nação, até chegar ao ponto em que um dos personagens do poema se perde no labirinto de arranha-céus, em meio a uma gente que não é a sua. 

os estilhaços de sonhos do meu povo
estão cravados nas entranhas da província.
(…)
nascido do tempero das raças
– do sumo, do suco, do sangue latino –
pensa na caminhada de tombos,
nas sementes de aço plantadas no peito,
na não sabida hora da morte.

O projeto poético de Paulo Machado continua em A Paz do Pântano, lançado em 1982, em que Teresina, “ancoradouro de fúrias invisíveis” é “uma loba no cio”. Somente um poeta do seu nível e com seu amor poderia cantar a cidade com essa voz:

Conheço minha cidade,
como conheço meu corpo.
Meu corpo propõe insurreições
e persiste, insubmisso, entrincheirado
nas ruas da cidade ensolarada.

Tags: metaforaPaulo Machadopoetateresina

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