“Precisamos focar nos interesses dos cidadãos e não da classe política”, diz Washington Bonfim

O pré-candidato disputará a vaga ao Governo do Piauí em 2022 pelo Cidadania/Foto: Elias Fontinele/O DIA

Marcelo Costa
Editor

Dando o passo inicial da nossa série de entrevistas com os pré-candidatos ao Governo do Estado, o professor Washington Bonfim, do Cidadania, fala porque decidiu se candidatar e como pretende resolver problemas relacionados a economia, segurança, corrupção e outros, caso seja eleito. Segundo conta, sua trajetória como educador, secretário municipal e diretor de órgão do Terceiro Setor o credencia a disputar a vaga. “Decidir me candidatar não foi fácil, mas foi uma decisão bem pensada. Vejo esse caminho que trilhei como uma preparação para o que assumi agora”, lembra. Washington Bonfim lembra também porque não é candidato por seu antigo partido, o PSDB, e com quem tem conversado em busca de parcerias. Confira a entrevista:

Tomar a decisão de disputar o Governo do Estado é, certamente, sempre muito difícil. O que motivou o senhor a fazer essa escolha? Quais as características e desejos que, na sua avaliação, lhe credenciam a ser o próximo governador do Piauí?

Realmente, a decisão de concorrer ao Governo do Estado do Piauí foi difícil, mas foi uma decisão bem pensada. Tenho uma trajetória de administração pública, fui secretário municipal de Educação, secretário municipal de Planejamento, depois diretor de uma organização do Terceiro Setor em São Paulo, que trabalha com a melhoria da administração pública no país, tenho uma trajetória acadêmica. Consegui durante minha vida acadêmica participar de diversos fóruns nacionais de política pública. Ajudei na Universidade Federal do Piauí a formar os mestrados de Meio Ambiente e Desenvolvimento e de Sociologia, tenho acompanhado a vida no nosso Estado e sei que tenho muito a contribuir. Minha motivação, entre outras coisas, é isso, quer dizer, fazer diferença na vida do nosso povo. Andei muito, vi muito, e quero destinar parte do meu tempo para ajudar aquelas pessoas que mais precisam. Olhando para o futuro. Acho que essa é uma grande questão da nossa política atual. Ela não olha para o futuro, olha para as questões dos cargos, para emendas parlamentares. Não que não sejam importantes, mas a gente precisa ter um olhar diferente. Nossa população sofre com o desemprego, com a carestia, com a desesperança, com a violência, e nós precisamos, de uma maneira muito cuidadosa, construir alternativas. E há alternativas para o Estado do Piauí, para ele realmente acontecer.

É inevitável fazer uma ligação do seu ao nome às administrações do PSDB em Teresina. Qual o motivo de nunca ter disputado um cargo eletivo durante esse tempo? E qual a razão de ter buscado outro partido para ser candidato e não o PSDB?

Creio que nunca ter disputado um mandato eletivo fez parte desse meu processo de aprendizado. Venho da área acadêmica, depois fui para a política, mas muito mais para a questão administrativa. Num terceiro momento continuei na área pública, mas a partir de uma organização do terceiro setor. Em algum momento do tempo, inclusive, criei uma instituição para tratar com a questão de alfabetização no interior do Estado do Piauí. Então, fiz uma trajetória de serviços, de trabalho e de aprendizado. Vejo agora a oportunidade de ser candidato por um partido que não é o PSDB porque ao longo dos últimos meses percebi na trajetória do PSDB um alinhamento muito forte com o atual governo federal, algo que julgo inadequado para as circunstâncias políticas que o Piauí vive atualmente e penso que essas questão, da carestia, do desemprego, da violência, da falta de perspectiva da juventude, precisam ser endereçadas e precisam estar na pauta da eleição do ano que vem. Por isso sou candidato. Não via condições de fazer esse debate dentro do meu antigo partido e fui muito bem acolhido pelo Cidadania e estamos construindo esse caminho de um novo Piauí através do Cidadania.

O senhor também tem forte ligações com a educação, inclusive sendo um professor muito elogiado! Caso seja eleito, o senhor pretende colocar a educação como o principal destaque da sua administração?

Não tenho a menor dúvida. Por militância na sala de aula, por ter sido secretário de Educação municipal de Teresina, por contribuir tecnicamente com instituições do porte do Todos pela Educação, que é uma instituição do terceiro setor que faz a defesa da educação pública no nosso país, que a Educação é uma bandeira importante de desenvolvimento, é uma bandeira importante para qualquer iniciativa, qualquer proposição política de um candidato em 2022. E do ponto de vista do governo estadual nós temos muito a contribuir. A gente tem uma experiência extremamente bem sucedida aqui do lado, no Estado do Ceará, que conseguiu através do protagonismo, da liderança do governo estadual, montar um sistema público de Ensino Médio que vem avançando de maneira muito interessante e chamando a atenção de organismo internacionais, como o Banco Mundial, de revistas, como a britânica The Economist, que recentemente publicou uma matéria sobre o desempenho de destaque do setor educacional do Estado do Ceará. O Cidadania, por exemplo, governa o Estado da Paraíba. E a Paraíba, ano passado, recebeu da Fundação Getúlio Vargas uma avaliação como a melhor experiência de ensino remoto para o nível médio e para os jovens do país. Então assim, a gente tem muito a aprender. Acho que o Governo do Estado do Piauí deixa muito a desejar na área da Educação, e a gente tem, além disso, duas janelas de oportunidade. Primeiro: a mudança do Ensino Médio, que é uma janela importante porque abre espaço para que a gente tenha mais profissionalização, mais carga horária, torne mais interessante a sala de aula para os nossos jovens. E a segunda janela de oportunidade é que se a gente melhora a qualidade do Ensino Médio, se a gente melhora as condições dos alunos e dos professores, a gente, indiretamente, cria uma política de prevenção a violência. Hoje nossos jovens são muito atraídos para o tráfico de drogas, isso gera a violência, gera a realidade das gangues, e não há nenhuma outra política pública mais eficiente e mais desejada pelas famílias do que o Ensino Médio Integral com profissionalização para tirar os nossos jovens das garras do tráfico de drogas e para tranquilizar as famílias em relação ao futuro dos seus filhos.

O Piauí, hoje, assim como grande parte do país, enfrenta sérias crises de segurança. A população se sente cada dia mais ameaçada! Como o senhor pensa em resolver esse problema?

A questão da segurança pública precisa ser encarada como prioridade, mas precisa ser encarada com um problema complexo que será resolvido através de múltiplas ações do governo estadual. O primeiro deles é aumentar o efetivo da Polícia Militar, da Polícia Civil e usar mais e melhor a questão da inteligência e da tecnologia em prol da segurança do cidadão. A gente tem muito pouca investigação. Recentemente a gente teve uma reportagem de impacto sobre as condições, por exemplo, de investigação de homicídios na cidade de Parnaíba, em que a maior parte dos homicídios se quer é acompanhado pela Polícia Civil pela falta de condições do aparelho policial civil naquele município, que é a segunda maior cidade do Estado e tem uma importância fundamental para o Piauí. Daí você tira as dificuldades que a gente tem. A gente precisa contratar pessoas e precisa também do apoio da inteligência. Criar uma política de observar os dados e tentar prevenir os crimes a partir do que os dados nos dizem. Ver horas de crimes, colocar o policiamento naquele horário, que mais provável possa haver delitos, colocar o policiamento naqueles locais em que existe a maior incidência de delitos e fazer com que os dados orientem as decisões de políticas públicas. Uma outra questão extremamente importante, e que já mencionei, é aumentar a qualidade e a capacidade de fazermos investigações, ou seja, reduzir a impunidade. Não podemos ter uma situação em que alguém comete um homicídio, não é investigado e, portanto, sai absolutamente impune. Isso é uma situação inaceitável. E a gente precisa, enquanto Governo do Estado do Piauí, trabalhar na direção de diminuir o índice de impunidade, e diminuindo a impunidade, certamente a gente diminui a criminalidade. E uma outra questão importante é tratar a segurança pública como um aspecto técnico. Nos últimos anos no Estado do Piauí ela tem sido objeto de troca política. Isso é grave porque compromete o serviço que é oferecido ao cidadão, e principalmente compromete a capacidade do aparelho policial de resolver os problemas de violência. Citaria ainda uma articulação importante com os órgãos federais, especialmente a polícia federal na investigação sobre o tráfico de drogas. O Piauí desponta hoje como um corredor de exportação de drogas, como se fosse um entreposto, um lugar de distribuição de drogas, e isso alimenta essa situação que a gente vive hoje, basicamente em todas as cidades do estado relacionada a questão das gangues. Então, essas ações precisam ser coordenadas, precisam de vontade política, e para ter vontade política a gente precisa usar mais da técnica, mais dos objetivos do cidadão e menos os objetivos da política na condução daquilo que a gente faz de segurança pública no Estado do Piauí.

A pandemia de Covid-19, provocou diversas modificações econômicas e sociais. Como o senhor acha que a próxima administração deve se comportar para tentar devolver ao estado parte da normalidade existente no período pré-pandemia?

Pergunta super importante. Ao contrário de vários estados como São Paulo, Ceará, Maranhão, nós não temos aqui, não vimos aqui uma política dedicada a recuperação econômica do Estado a partir de iniciativas do governo estadual. A gente tem um programa de investimentos que mais parece um programa político para turbinar a candidatura do atual governador a sua própria sucessão, esquecendo de olhar para os setores econômicos com um cuidado maior. A gente precisa de um plano de recuperação econômica. A gente precisa de um plano de infraestrutura para o estado e a gente precisa, principalmente, de uma visão nova sobre as potencialidades do Estado. Estamos diante de uma revolução importante do ponto de vista do abandono dos combustíveis fósseis, portanto da gasolina, óleo diesel, em muito pouco tempo não serão mais a mola propulsora da energia que alimenta os nossos carros, as nossas industrias. Estamos passando para uma era de energias renováveis e nisso o Piauí tem muita potencialidade, e essa potencialidade precisa ser melhor explorada. A gente já tem o primeiro lugar de energia solar no país, a gente já tem uma posição importante do ponto de vista de produção de energia a partir do vento, a energia eólica, a gente precisa transformar isso em oportunidades concretas de redução de desigualdade, de aumento da renda e do desenvolvimento do nosso Estado. A gente está diante de um novo petróleo e precisamos ter isso como horizonte. Focar o estado. Eu conversava recentemente com um empresário da área, grupos nacionais têm interesse em apostar investimentos de até R$ 15 bilhões no nosso estado. Isso não está acontecendo. E precisamos desses recursos, a gente precisa sair dessa situação de desigualdade, de pobreza, e a gente tem uma enorme potencialidade. O Governo do Estado precisa estar preparado para enfrentar esse desafio, algo que a gente não ver nas administrações que vem se sucedendo no nosso Estado.

Nesse momento de pré-campanha a maioria dos políticos está articulando parcerias e acordos para ampliar a chance de vencer a eleição. O senhor também está se movimentando dessa forma? Vem recebendo propostas de possíveis parceiros?

Temos feito nosso dever de casa político. Temos conversado com o Podemos, temos conversado com o DEM, na perspectiva de uma eventual aliança a União Brasil, com o PDT, recentemente abrimos um canal de diálogo com o PSDB em face da possibilidade de uma federação nacional entre o PSDB e o Cidadania. Temos conversado com lideranças individuais, no Norte, no Sul do Estado em busca de formação da nossa chapa de proporcionais, tanto para deputado estadual, quanto para deputado federal, e isso tem nos animado muito. A receptividade com o nosso nome é concreta. Há um interesse da população de mudança, há um interesse do setor político de mudança, e há principalmente o interesse de, digamos assim, mudar o rumo da prosa. Sair dessa coisa da política pela política e passar a discutir temas como estamos discutindo aqui. O tema do desenvolvimento sustentável para emprego e renda, tirar as pessoas das dificuldades. O tema da segurança pública que precisa deixar de ser politizada, precisa ter técnica, precisa de aparelhamento, precisa de tecnologia, de inteligência no ponto de vista de mapear os riscos de crimes e delitos no nosso Estado, precisa de uma educação que seja focada nos verdadeiros interesses da nossa juventude, para tirar nossa juventude do tráfico de drogas, precisa de uma saúde melhor estruturada, em parceria com os municípios. Então, tenho observado em cada diálogo que tenho, seja com presidentes de partidos, seja com lideranças individualmente para a formação da nossa chapa proporcional, uma grande receptividade para esse modo novo de pensar, esse modo que foca nos interesses verdadeiros do cidadão, e não nos interesses da classe política.

Outro mal histórico de nosso país é a corrupção. O senhor tem ideia de como vai lidar com esse problema, que medidas pensa em tomar para barrar a entrada deste “veneno” na sua administração?

O remédio para o que você chama de “veneno da administração” é a transparência.  Acho que temos que fazer um governo transparente. A população, desde a campanha, vai ter a oportunidade de participar da formulação do nosso plano de governo, seja presencialmente, seja através de plataformas eletrônicas. Precisamos arejar a política brasileira, especialmente a política piauiense a partir disso que venho insistindo o tempo todo: precisamos olhar para os interesses da população, fazer isso é tomar decisões baseadas em evidências, na melhor técnica, no resultado que é interessante para a população e não naquele resultado que é interessante apenas para os políticos. E nesse caso ter um compromisso claro com transparência reduz muito a margem para a corrupção. E obviamente que a gente vai poder contar com a fiscalização dos órgãos de controle para poder fazer com que cada centavo do dinheiro público que será aplicado em prol da população piauiense chegue ao seu destino, chegue àquelas pessoas que mais precisam, que precisam da escola funcionando, que precisam da saúde, do hospital funcionando, que precisam da assistência social, que precisam da estrada, que precisam de uma oportunidade de emprego e renda. Esse é nosso compromisso. Compromisso com a transparência como método fundamental para barrar esse veneno da administração, como você chamou atenção.

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