“Fizemos uma gestão aprovada até pelos adversários”, conta o ex-prefeito Silvio Mendes

"Governar é cuidar das pessoas", diz Silvio Mendes/Foto: GP1

Marcelo Costa e Cândido Gomes
Da editoria

Dando sequência a nossa série de entrevistas com os pré-candidatos ao Governo do Estado do Piauí, o SERTAO.ONLINE conversou desta vez com o ex-prefeito de Teresina, o médico ortopedista Silvio Mendes, do PSDB. “As pesquisas apontaram que de cada 100 teresinenses, 92 aprovaram a nossa gestão, ou seja, até os adversários”, lembra. Mesmo assim, Silvio Mendes deixou a prefeitura em 2010 para disputar o governo do Estado pela primeira vez e foi derrotado. Segundo ele próprio explica, faltou representatividade do partido em municípios do interior do Piauí. O médico retoma o desafio agora tendo nas mãos um “plano de governo das oposições”. Uma das propostas deste plano é descentralização das ações. “Se a população aprovar, vamos fazer”, garantiu. Confira a entrevista:

Uma das perguntas que temos feito a todos os candidatos é quais suas características e desejos que o senhor acredita ter que lhe credenciam a ser o próximo governador do Piauí?

Você, como homem experiente, sabe que é preciso ter esperança, é preciso confiar, olhar para o futuro! Ter as lições do passado, viver o presente, mas olhar para o futuro. Como você tem experiência em marketing político, atuando em campanhas há muito tempo, sabe que têm estilos diferentes. Você participa de um processo político, tem regras, leis, e é comum neste período você ficar simpático, ficar sorridente, bem arrumadinho e repetir promessas que a maioria faz, isso de forma repetitiva e afasta a esperança e a confiança na classe política em regra geral. Acho que política é um caminho de servir! É uma oportunidade que um cidadão ou uma cidadã tem de servir se você tiver esse propósito. Ela exige dedicação, a política exige responsabilidade, a política exige experiência também. Não se faz política, e principalmente gestão pública para aprender a cuidar das pessoas. Então, em última análise, governar é cuidar das pessoas, seja o mais humilde, seja o mais importante, o empresário que gera riqueza, que gera renda, que gera emprego. Todos têm direitos, porque afinal de contas nós nascemos iguais, mas não crescemos iguais. A desigualdade é característica de qualquer cultura, de qualquer sociedade, no mundo inteiro. Veja que nós todos tivemos a nossa origem na África e é o continente mais pobre por várias razões, culturais principalmente! Eles não se uniram, não entenderam que a união gera força, gera futuro. Eles próprios, nas suas castas, nas suas aldeias, se vendiam. Quem mais vendeu escravos foram os próprios africanos. Então, tem consequência. Como tem consequência o voto. O voto é um das poucas atividades igual às pessoas, como a praia, como o mar. O voto, como disse Petrônio Portela, iguala a prostituta da Rua Paissandu com a Madre Superiora. Muito forte essa afirmação, mas foi dita pelo maior líder político da história do Piauí. E é verdade. Ninguém é mais ou menos, o voto não vale mais ou menos para quem quer que seja. Então, governar é cuidar das pessoas, seja carente dessa ou daquela necessidade, seja de botar comida na mesa, seja de gerar emprego e renda lá na outra ponta. Só precisa ter essa compreensão larga. De que população, de cidade ou estado você se propõe a cuidar. Respondendo a sua pergunta agora: nós tivemos a oportunidade de ser gestores públicos lá do tempo do professor Wall (Ferraz). Passei 18 anos na gestão pública, 12 anos como secretário de saúde, depois eleito prefeito de Teresina, reeleito, e ai já é uma característica de reconhecimento que nem sempre vem. Nos 12 anos fizemos muitas coisas, e é preciso continuar fazendo mais, mas na saúde nós conseguimos nesse período fazermos o HUT, que atende o estado inteiro, é o hospital de urgência mais importante do Estado, temos construído três maternidades, uma em cada quadrante da cidade, no Promorar na zona Sul, no Dirceu na Sudeste, na Cidade Satélite na zona Leste e ampliamos a maternidade do Buenos Aires, que é a melhor maternidade da cidade de Teresina. Não tem nenhuma maternidade tão bonita quanto. Fizemos um laboratório de análises clínicas. Há muitos anos você não vê uma pessoa reclamar que precisa fazer um exame de laboratório e não teve a oportunidade. Ele hoje faz uma média de cerca de 10 mil exames por dia, são aproximadamente 300 mil exames por mês. Atende as 92 unidades básicas de saúde, os 12 hospitais que nós, de qualquer forma, fizemos ou ampliamos, e incluindo a zona rural. Então ninguém deixa de fazer exame porque não tem vaga, nenhuma mulher de Teresina tem filho no corredor em cima de maca, como se ver no Brasil a fora. Fizemos até mais do que foi prometido. E como prefeito, em qualquer área que você procurar, fizemos, e isso é um processo contínuo, do tempo do professor Wall, do Chico (Gerardo), do Firmino, principalmente, que ficou quatro mandatos, mas nós fomos reeleitos prefeito de Teresina com 72 de cada 100 votos dos teresinenses, isso foi uma coisa extraordinária. E deixamos a prefeitura, lá naquela época, por discordar da forma de cuidar do estado, deixei uma prefeitura sem dívida, até os precatórios foram pagos, com mais de 100 milhões de reais na conta bancária, sem tomar empréstimo, e tínhamos de cada 100 teresinenses, 92 aprovava a nossa gestão, portanto até mesmo os adversários. Porque isso? Porque foram feitas as coisas necessárias, atendendo uma população que apontava as suas necessidades. E cabe ao gestor, seja ele quem for, entender isso e fazer, procurar os meios e realizar aquilo que a população reclama como direito dela.

Quais as principais diferenças da época em que deixou a Prefeitura de Teresina para concorrer a vaga de governador e as eleições deste ano? Os desafios são os mesmos?

Se você olhar a história política de Teresina, não do Estado do Piauí, de Teresina… Teresina sempre teve bons prefeitos, de qualquer partido. Nunca teve um prefeito irresponsável que comprometesse o equilíbrio fiscal ou financeiro. Claro que, cada um na sua época, fazia aquilo que era possível fazer. A década de 90 foi a década que se caracterizou pela descentralização da gestão. O SUS passou para os municípios, a educação no ensino fundamental, a assistência social, a infraestrutura, o trânsito, e muitos recursos que antes eram concentrados em Brasília, foram descentralizados para os municípios. E qual foi o resultado? O resultado é que no Brasil inteiro os municípios fizeram melhor com o mesmo dinheiro. Na saúde todos os indicadores, especialmente a taxa de mortalidade infantil, caiu. Isso é um dado surpreendente. É o maior indicador da saúde pública de município, estado ou país. Infelizmente, a taxa de mortalidade infantil do Piauí é maior que a média nacional, nós sabemos qual é a situação da saúde pública no interior do estado, mas Teresina é mais baixa. A de Teresina é abaixo da média nacional. Porque nós temos uma rede de atenção primária à saúde, estamos com 262 equipes de saúde da família, em 92 unidades básicas da saúde, portanto, em tese, a população de Teresina inteira poderá ser assistida pela saúde da família. É claro que regiões mais ricas, como aqui na zona Leste, com poder aquisitivo maior, com uma população com mais planos de saúde, é natural que não seja necessário. Mas se precisar tem essa cobertura.

O senhor é uma pessoa conhecida na capital como médico, como pessoa e como personalidade da política. Isso não acontece da mesma forma no interior do Estado. Como o senhor pensa em equacionar isso?

Esse ano ficou claro, pra mim em particular, porque que nós que participamos, vamos dizer da turma ou do grupo, do professor Wall, depois do Chico Gerardo e do Firmino, porque não conseguimos ganhar uma eleição no Piauí para o Governo do Estado. Porque não tínhamos representação proporcional no interior, nos outros municípios, seja grande ou pequeno. 16 municípios do Piauí possuem mais da metade da população do estado, então não tínhamos representantes do PSDB. Um dia o Firmino nos chamou e achou que para nós termos essa oportunidade e essa presença, que alguns membros do PSDB, fossem para o Progressistas. E assim fizemos, e nós fomos. Voltei por conta da eleição do Luciano. Discordava, já naquela época. Desde 2010 que eu tinha uma posição muito confortável na prefeitura. Deixei para ser oposição, para oferecer como alternativa, e depois com o Luciano. Então, eu não faço reparo disso. Faria novamente.

Do mesmo jeito?

Faria!

Outro questionamento que estamos fazendo a todos os candidatos é como o próximo governador do Piauí deve agir para implementar uma retomada de crescimento após dois complicados anos de pandemia?

A oposição tem um documento que o Piauí não tem. Nós temos um plano de governo para propor aos piauienses. Está pronto. O Governo do Estado não tem, nunca teve. Nós temos um plano feito por áreas temáticas, educação saúde, segurança pública, infraestrutura, cultura, esporte, juventude, enfim. O plano está concluído. Está ouvindo críticas até o próximo dia 15 para ele ficar, vamos dizer, terminado. Plano das oposições, o plano não é meu. Foi feito por mais de 60 pessoas, professores da universidade do estado, federal, gestores, ex-gestores, então tem uma contribuição à muitas mãos. É bem consistente. Está disponível e esse vai ser o norte.

Como estão as formações de alianças até o momento? Sua parceria com a Deputada Iracema Portela está totalmente definida? O senhor deve receber apoio do presidente Jair Bolsonaro?

A questão nacional continua muito confusa sobre a possibilidade de ter aliança, que nem sei como é o nome, a cada eleição tem um nome diferente, regras diferentes. Esse ano não pode ter aliança proporcional, partidos podem se unir numa federação, eu não entendo bem. Enfim, é preciso que isso fique claro. Tem o que eles chamam de janela, agora no mês de março, quando os parlamentares poderão mudar de partido, numa, vamos dizer, rearrumação preparatória para a eleição. Então, é preciso primeiro que se esclareça isso, que se defina o que é isso. Tenho alguns pensamentos muito próprios. Eu sou contra a reeleição. Acho que o mandato do executivo deveria ser de cinco anos. Segundo, acho que voto é absoluto, não deve ter voto relativo. Como eu disse, voto é voto. O meu é igual ao seu, e o seu é igual ao do seu funcionário. Não compreendo a lógica de um candidato, seja ele quem for, como é que você tem mais voto do que eu e você não é empossado no cargo? Isso é para fortalecer partido? Acho que não, acho que isso é um grande equívoco. Afinal de contas a representação é popular, é a representação das pessoas.

Como o senhor ver as críticas que dizem que sua candidatura é somente para tentar fortalecer o PSDB após a derrota para o MDB e o Dr Pessoa?

Isso é bobagem. Não perco tempo com bobagens.

Uma das principais críticas ao Governo do Estado hoje está relacionada a falta de segurança. Como o senhor planeja resolver esse problema?

Você tem sua experiência de fazer marketing político, de acompanhar as eleições, já lhe conheci nesse meio. Acho que a crítica pela crítica não constrói nada. Ficar reclamando, pior ainda. É melhor propor, tenho um problema, como é que se resolve? E quando você cuida do que é dos outros, então é obrigação. Você não está brincando com o que interessa a população. São algumas questões muito simples. Começa com o crescimento da violência, e a violência política é uma das piores, e a impunidade para quem pode contratar um bom advogado. Você tem a violência moral, física, familiar, da droga, enfim, são várias formas de violência e a cada uma o seu tratamento específico. As causas primeiro. Segundo, os seus efeitos. Segurança pública não é repressão, ou não é só repressão. Tem que compreender e combater as causas, como a miséria e a fome, isso é uma violência das maiores. A educação, enfim! O Piauí tem hoje menos da metade do que a lei determina na quantidade de policiais militares. E essa lei existe há quantos anos? Então, o próprio governo não cumpre a lei. Mas exige dos outros que se cumpra a lei porque tem o poder de multar, de isso e daquilo. Você botar a culpa da violência no cara que rouba teu celular, que rouba tua moto, botar a culpa no soldado é uma distância muito grande. É preciso ter essa compreensão melhor. A polícia civil não é diferente. Então, em véspera de eleição se abre um concurso para a Polícia Militar, e estão dizendo que também para polícia civil, é bom que seja. E ai uma das vantagens de ter eleição, porque se não tivesse eleição com certeza esses concursos não seriam abertos. Acho que as pessoas perdem a esperança e pensam que não adianta reclamar. Vou me adaptar e viver desse jeito, ficar em casa, como se também a violência não entrasse em casa.

O senhor falar as vezes que o poder público é arrogante. O que o senhor quer dizer com isso?

Existe uma lei chamada lei de mercado, que ela quer dizer que existe concorrência. Vamos comparar dois hospitais. Um hospital privado, que não ofereça bons serviços, ele fecha. E um hospital público, mesmo prestando serviço ruim, de má qualidade, ele não fecha. Como agora, hoje, em Corrente PI as pessoas estão sem atendimento porque falta água. Mais de 20 cidades não têm água para beber. Isso é violência. Um estado que se furar sai água, que tem um dos maiores lençóis freáticos do Brasil. Tem água em superfície abundante, com pequenas adutoras se resolve. Se usasse um pouco do dinheiro que o Estado tomou emprestado, em torno de R$ 7 bilhões, com tipo R$ 500 milhões se resolveria isso. E essa conta é sua. Pode achar que não é, mas você está hoje devendo por conta desse empréstimo, mais de dois salários mínimos, mesmo com reajuste agora que o governo deu, você, eu, o cinegrafista aqui, quem tá nascendo hoje, o velho, o desempregado, está devendo mais de dois salários mínimos. E vai pagar, vai sair da nossa conta porque ele vai ser tirado da saúde, da educação, sei lá da onde.

Também no tocante a pandemia, a saúde do estado sofreu diversos abalos durante esse tempo. Pelo fato de ser médico o senhor tem algum receio de ser muito cobrado neste segmento?

Não. Porque nesse período eu não era gestor. Discordei de muitas medidas, que agora, depois de mais de dois anos, se verifica que foram muitos equívocos. Tem muito criminoso ai que ganhou dinheiro que nunca imaginou ganhar. A indústria farmacêutica, por exemplo. Existe hoje no mercado mais de 20 vacinas. Esses laboratórios nunca ganharam tanto dinheiro. E colocaram vacinas sem o cuidado necessário e agora começam a questionar. Primeiro que ela não dá a imunidade prometida.

O senhor se vacinou?

Vacinei. Mas ela te dar quanto tempo… por exemplo, eu me vacino contra a febre amarela e tenho a certeza que vou passar 10 anos sem pegar a febre amarela. A do covid não. A criança, já se tem evidências, e estão querendo obrigar as crianças a serem vacinadas, e o que se descobriu – para quem merece crédito, não estou falando de fofoca, de parte da imprensa que tem interesse político ou sei lá o que. Experiências da Inglaterra, do Canadá, da França, da Espanha, mostrando que nas crianças essa vacina dá uma imunidade média de dois meses e meio. Ora, seria necessário, então, que você vacinasse as crianças a cada três meses. Isso não faz sentido. Segundo, são os efeitos colaterais. Hoje se questiona, inclusive, que uma mulher que deseja engravidar que tenha cautela e não tome a vacina pelas consequências que poderá ter no seu filho que será gerado porque alguns anticorpos permanecem no corpo por pelo menos um ano e meio. Isso é um negócio maluco, é preciso ter muito cuidado. Muita gente discute um assunto que ele não tem conhecimento. Foi muito politizado, tem muitos interesses no meio. Então é preciso muita cautela. Na questão da assistência à saúde do Piauí, qual o desejo maior de um prefeito cansado de pedir e não ter? Uma ambulância nova. Uma, duas, três… Para poder trazer pacientes para Teresina porque mesmo as cidades regionais, as chamadas polos, que são 11, não têm hospital que seja resolutivo. Hoje vi a matéria de um casal que foi agredido fisicamente pela segurança de um hospital em Picos, que fez um boletim de ocorrência na polícia. Então, é preciso ter um limite, um ponto final nessa história. O que o nosso plano propõe? Descentralização dos serviços. Garantir que os médicos, as enfermeiras, os profissionais de saúde, possam resolver os problemas de sua população. Essas cidades polo terão essa condição mínima, digo assim, tem que ter as especialidades que de cada 100 problemas vão resolver 90. Ter a tomografia, a ressonância lá na sua cidade. Até porque sai mais caro você deslocar pacientes. É tão óbvio, é tão claro isso que não consigo entender porque ainda não fizeram. Mas alugam um avião por dois milhões de reais. Mas tem que olhar pra frente. Se a popular entender isso e aceitar a gente muda.

Sair da versão mobile