“Quando eu comecei a fazer a minha cajuína meu marido tinha mais de 60 pés de cajus e eu via que os cajus não tinham utilidade para ele. Aí comecei a indagar porque tantos cajus eram jogados fora… Porque poderia ser feito algo com eles. No ano seguinte eu perguntei se ele podia me dar os cajus e em troca eu daria as castanhas limpas, aí disse a ele que aprenderia a fazer cajuína”, diz Rosângela Fagundes.
A produtora começou a se dedicar ao ofício e tentar aprender como produzir a bebida, então empreendeu seu tempo e recurso nesse projeto. Depois das primeiras aulas ela conta que fez alguns testes que não deram certo, mas com muitas tentativas e erros, depois de 4 anos Rosângela conseguiu aprender a receita.
Esse tempo foi dividido entre experimentação de técnicas e pesquisas, além das suas incursões para saber se o seu produto estava finalmente agradando o paladar das pessoas. Com isso, ela conta que foi uma trajetória complicada, mas que valeu a pena.
“Não existe uma cajuína que eu faça que não passe pelas minhas mãos.”
Segundo Rosângela, o processo de fabricação da cajuína começa com a colheita dos cajus que se inicia às cinco e meia da manhã, pois nenhum caju pode ser pego do chão já que uma vez no chão não tem como fazer uma limpeza e ele só pode ser lavado com o próprio suco do caju.
Depois de retirar os cajus a produtora conta que vem a hora de tirar as castanhas, sempre com o cuidado de preservar o produto. Rosângela inicialmente usava um moinho de mão, mas atualmente usa uma forrageira. Depois disso, quando todo o caju é triturado, ele é colocado em uma mesa com três planos onde será sovada a massa do caju. Depois tudo é espremido e é retirado todo o suco do caju que estava retido na massa, essa massa é descartada.
Obs: Segundo, a massa poderia ser usada para a feitura de doces, rapadura, etc, mas ela usa para adubagem das plantas por não ter como fabricar outros produtos.
Posteriormente, todo o suco é colocado em recipientes onde será feito a corte da cajuína
“O processo da cajuína é muito parecido com o queijo. O queijo nós colocamos o coalho para poder coalhar o leite e fazer o queijo. Então, nós tiramos a coalhada. mas no nosso caso não, nós tiramos a coalhada, jogamos fora, nós fazemos a cajuína com o suco que seria o soro do caju. Quando fica o soro do caju ele fica bem branquinho. Eles vão para coadores, tipo de café, mas bem grandes com aproximadamente 50cm de comprimento e 60cm de largura. Aí nos colocamos de dois a três baldes dentro do soro do caju e ele vai saindo branco, cristalino. Aí nós vamos olhar num copo de vidro que apareça bem a cor que é para não ter pó. Aí quando ela fica brilhando colocamos no engarrafamento. Aí colocamos elas nas garrafas, tampamos e colocamos nos galões crua para tampar. Aí ela vai passar uma hora para chegar no ponto de ebulição e mais duas horas para chegar no ponto de cozimento. Ela só vai estar pronta no outro dia quando esfriar… Depois que lavamos elas, etiquetamos e está no ponto de ser vendida.” Rosângela Fagundes de Morais, produtora de cajuína.
Para Rosângela, a cajuína é um vinho sem álcool, sem agrotóxicos e sem açúcar, feita com caju e gelatina. A cajuína, para a produtora, é motivo de orgulho e prazer, pois é mais que um ofício já que acaba se tornando um símbolo para a cultura piauiense.
Fonte: https://www.geleiatotal.com.br/2020/10/17/o-modo-de-preparo-da-cajuina/