O vice prefeito de Teresina e ex-secretário municipal de Finanças, o delegado Robert Rios Magalhães, inicia a entrevista com o SERTAO.ONLINE dizendo que nunca teve vontade de disputar a vaga de governador do Piauí, mas que se precisar, se o partido assim disser e for a vontade do prefeito Dr. Pessoa, assim o fará. Durante a conversa, Robert Rios se diz equidistante dos principais grupos políticos do Piauí, o que ele chama de “bolhas”, e apresenta seus argumentos do que é preciso ser feito para melhorar a segurança, o transporte público e a saúde do estado. Confira a entrevista:
Todas as nossas conversas com os pré-candidatos a governador do Estado do Piauí têm início como uma mesma pergunta? Na sua avaliação, o que credencia o senhor a ser o próximo governador do Estado do Piauí, e quais seus atributos que o diferenciam dos demais pré-candidatos?
Primeiro dizer que eu nunca tive vontade de ser candidato a governador. Pertenço a um grupo político, grupo do Dr. Pessoa. Nós recebemos há menos de um mês os republicanos, e montamos uma chapa de estadual, e uma chapa de federal. E eu era secretário de Finanças, acumulando com a vice prefeitura, e o Dr. Pessoa me pediu que eu saísse das finanças para ficar desimpedido, caso precise ser candidato a governador ou a senador. Então, eu estou ali, de stand by. Eu sou aquela reserva, se precisar, se o Republicano precisar do meu nome… Nós temos hoje duas bolhas no Piauí, uma comandada pelo ex-governador Wellington Dias, que são os petistas e aliados. Outra comandada pelo senador Ciro Nogueira, ele o Sílvio Mendes, e outro grupo. E nós não pertencemos a nenhuma das bolhas, e como não pertencemos a nenhuma das bolhas, estamos aqui no meio, equidistante dos dois, e se precisar, nós vamos lançar. Já lançamos chapa estadual, de federal, e se precisar vamos lançar governador e senador, e o meu é um dos nomes que estão sendo reservados para isso.
A imprensa tem veiculado que estaria praticamente certo um acordo seu com o pré candidato ao governo Rafael Fonteles, do Partido dos Trabalhadores. O senhor afirma isso? E, nesse caso, faria parte deste acordo o senhor ser o vice ou não?
Conversei com o candidato Rafael algumas vezes. Primeiro dizer que o vice lá já está sacramentado. É o deputado Themístocles, um deputado que tem muito serviço prestado ao Piauí. Ele foi meu colega de faculdade de Direito. Conheço o Themístocles há 40 anos, no meio da faculdade de Direito. É um homem de bem e trabalha para o Piauí, que engrandece o Piauí, e é o vice do Rafael. E eu jamais tentaria desalojar o meu amigo Themístocles Filho de uma situação dessas. Se tiver que ser é candidato, vice, jamais.
Também estaria nas cláusulas do acordo subir no palco do ex-presidente Lula? O senhor pretende se envolver também na campanha presidencial?
Volto a história das bolhas. Você pega o presidente Lula, que é uma bolha. Você pega o presidente Bolsonaro, que é uma bolha. Dr. Pessoa tem dito que vota no presidente Bolsonaro. Eu nunca ouvi dele dizendo que faz campanha para o presidente Bolsonaro. Ele nunca disse eu vou fazer campanha, eu vou segurar a campanha, eu vou comandar a campanha. Eu ouvi ele dizendo que o voto dele seria para o Bolsonaro. O voto é uma questão pessoal, individual e unitária. Eu digo para você, até o momento não tive nenhum desejo nem de votar, nem em Bolsonaro e nem Lula. Reconheço que o presidente Lula fez muita coisa pelo Brasil e, principalmente, pela classe mais pobre do Brasil. Mas eu acho que ele cometeu pecados, e pecados que talvez não possam ser perdoados. E tem que reconhecer o seguinte: ele foi presidente do Brasil duas vezes. Eu acho que chega. Eu acho que o homem que é presidente duas vezes não tem mais que tem ambição política, certo? Ele tem que andar o Brasil, dando palestras, conversando em universidades, nas faculdades, e viajando para o mundo inteiro. Não precisaria… Nos Estados Unidos, que é uma democracia mais antiga do que a nossa, lá ninguém é presidente mais que duas vezes. Fora o caso daquele presidente que foi presidente na Segunda Guerra Mundial, que precisou ficar no cargo. Mas eu acho assim, é um pecado grande. É uma ambição grande ser pela terceira vez. E o presidente Bolsonaro, embora tenha muita gente no Brasil que goste dele, e eu votei nele na eleição passada, mas ele peca, quando ele peca contra a Constituição. Eu acho que a maior qualidade que pode ter um político é o amor à democracia e o respeito à Constituição. E esse respeito à Constituição não pode ser rompido nunca.
Ainda falando de apoio, o senhor espera receber o apoio do prefeito Dr Pessoa e dos secretários da sua administração?
O Dr. Pessoa e Robert Rios, nós somos muito amigos, muito unidos. Qualquer coisa dele tem meu apoio. Tenho certeza que eu só vou para uma coisa se tiver o apoio dele. Se eu não tiver o apoio dele, eu nem tento. Eu só vou se tiver o apoio dele. Eu só vou se for a vontade dele. Eu só vou se for ele me chamando. Se ele não me chamar eu estou muito bem quieto no meu canto.
Muito provavelmente a concorrência fará referências ao período em que o senhor esteve vice prefeito de Teresina, e inevitavelmente fará ataques colocando situações como a do transporte público e outros temas. Como começou a responder a esses ataques?
Veja bem, recebemos transporte público das mãos do prefeito Firmino, em greve. Como recebemos a educação em greve. A crise do transporte público é uma crise nacional. Está nos 27 estados da Federação. Esse desenho do transporte público tem que ser refeito, reexaminado. Esse desenho não existe mais. Olhe, imagine só você ter um transporte público em que você diz: policial não paga para andar em transporte público, nem o civil, nem o militar, nem o penitenciário, oficial de Justiça não paga. O presidente da República faz uma lei nacional e diz: deficiente físico não paga, idoso não paga. Veja meu caso, eu sou idoso e não pago transporte público. O idoso não paga transporte. Então, você imagina se não paga, alguém paga, certo? Então, para pagar tem que aumentar o preço da passagem. Se fosse praticar o preço real para subsidiar tudo isso, era 10 reais uma passagem. Como não tem passagem de 10 reais, que se tiver a massa trabalhadora não pode pagar, aí as empresas exigem que a prefeitura pague. Devia exigir do Governo do Estado que pague as passagem do policial civil, militar, penitenciário, e o pessoal do Tribunal de Justiça. Devia exigir do Governo Federal que pague pelo idoso e pague pelo deficiente. E ficaria a prefeitura apenas tão somente com o pagamento dos alunos matriculados na rede municipal. Não teria nenhum problema. Mas jogaram tudo nas costas da prefeitura, tudo! Certo? E a duras penas. Recebemos transporte público em crise e em greve, a duras penas colocamos o transporte público para funcionar. Está andando normalmente hoje em Teresina, mas essa crise vai ser permanente. Enquanto não for redesenhado o sistema de transporte público. Olha, eu conheço, posso dizer, metade dos países do mundo. Em nenhum país do mundo o transporte público é a podridão que é aqui no Brasil. Não digo só do Piauí, não! Piauí, São Paulo, Recife, tudo é a mesma coisa. Rio de Janeiro, tudo a mesma coisa. Ônibus velhos, sucateado, ônibus superlotado, ônibus lentos, pessoas uma empurrando a outra. E passagens caras, digo cara além do que pode pagar a massa trabalhadora. E ainda, para piorar, remunerando muito mal o motorista, o cobrador. Às vezes numa jornada de trabalho quase de escravo.
Um dos pontos que certamente será questionado também durante sua campanha é com relação à falta de segurança no Estado, principalmente por ser um profissional da área. Esse é um problema fácil de resolver?
É não, é difícil. Problema de segurança é difícil no mundo todo. Não é só aqui não. Os Estados Unidos é um país que tem um policial bem treinado, um policial bem remunerado, e de repente alguém entra numa escola e puxa um fuzil e mata 15, 25 pessoas numa escola. Você chega em Londres, o policial é bem treinado e bem remunerado, e de repente as pessoas, os pais de família, as famílias vão andando no metrô de Londres e uma bomba explode. Então, a violência é do ser humano, o ser humano é que é violento. Agora, o Estado tem que responder essa violência. A segurança pública no Piauí vem degradando há muito tempo, muito tempo. Nós precisamos contratar e formar mais policiais militares, mais policiais civis. Temos que dar melhores condições para os policiais trabalharem. Você chega numa cidade do interior, o pior prédio da delegacia. Eu, quando eu assumi a segurança pública, nós tínhamos zero perito médico legista, zero. Nós fizemos o primeiro concurso para médico legista. Imagine uma segurança que não tem médico legista. Nós não tínhamos peritos na polícia. Fizemos concurso para perito. Os nossos delegados não era concursados. Muitos deles tinha apenas o segundo grau ou não tinha o segundo grau. Nós fizemos um concurso em série para a polícia. Quase cem por cento dos delegados, hoje, são bacharéis em Direito. Você vê de paletó e gravata trabalhando, foram concursados pelo Robert Rios. Nós fizemos concurso em massa para agente de polícia, para escrivão de polícia, mas faltava dinheiro para fazer essa máquina andar. Essa máquina não andava. Quando não tinham carro, não tinham combustível, quando tinham combustível, não tinha um carro. Na segurança pública falta muito dinheiro. É uma política caríssima e que precisa de investimento. Nós temos que imaginar no Brasil como sustentar a segurança pública. Nós temos que imaginar no Brasil que recurso vamos buscar. Todo mundo sabe que recurso se gasta na educação. Vinte e cinco por cento exige a Constituição na educação. Como se investe na saúde, a Constituição manda investir 15 por cento na saúde. E a segurança pública é uma política pública tão importante quanto a educação, tão importante quanto a saúde, mas a Constituição não diz quantos por cento da receita corrente líquida irá para a segurança. Então, depende da vontade do governador, da vontade do presidente. E enquanto for assim, não vai funcionar.
Como o senhor avalia sua experiência como vice prefeito de Teresina? Conseguiu realizar tudo o que pretendia? Se não, quais os principais barreiras que o senhor teve?
O vice prefeito geralmente não tem função. Se você pegar os dois últimos vice prefeitos do prefeito Firmino, realmente eram eminências pardas. Não tinha nenhuma função, nenhuma função. Um foi o ex-reitor da universidade, o último, e o outro foi o nosso queridíssimo Marco Silva. O prefeito Firmino nunca deu uma atribuição a ele, nunca deu uma tarefa para ele, nenhuma missão. E eu, quando eu assumi como vice prefeito, Dr. Pessoa me chamou e me deu uma missão importantíssima. Ser secretário de Finanças, reorganizar as finanças de Teresina, e eu acho que me saí muito bem. Diziam que a prefeitura não conseguiria pagar nem o primeiro mês. Nós nunca atrasamos o mês, pelo contrário, adiantamos alguns meses. Nós, pela primeira vez há muito tempo, demos um aumento para todos os servidores do município, um aumento superior ao Governo Federal e superior ao governador do Piauí. Nós fizemos a promoção dos professores e de todos os profissionais de saúde que estavam com mais de dez anos que não eram promovidos. A Orquestra Sinfônica de Teresina tinha mais de oito anos que não recebia um aumento no contrato. Então, nós melhoramos o contrato pagando melhor em 20 por cento a orquestra sinfônica. Nós melhoramos o salário dos servidores, nós pagamos as contas em dia. Não tem ninguém na porta da prefeitura cobrando dinheiro, as finanças organizada. E agora nós estamos prontos para fazer os investimentos. Teresina é uma cidade que precisa de muito investimento. O nosso asfalto de Teresina é um asfalto que, em média, tem mais de 40 anos. Então é só buraco. Quando vem o período invernoso, como o que passamos agora, esses buracos viram crateras, e as pessoas se revoltam e reclamam. Nós estamos com 15 equipes montadas só para tapar buraco em Teresina. Nós estamos com cinco equipe montada só para fazer asfalto em Teresina. Nós vamos fazer o maior investimento em asfalto na cidade de Teresina, em todos os tempos. Nunca um gestor vai investir tanto em asfalto na nossa capital, como vai investir o Dr. Pessoa. Agora, nós estamos trabalhando muito para isso. Hoje mesmo o Dr. Pessoa está em Brasília. Foi à Brasília conversar com o relator do orçamento, o senador Marcelo Castro, com o ministro Ciro Nogueira. Vai conversar com banqueiros lá em Brasília, buscando dinheiro para a cidade de Teresina.
Como o senhor avalia as primeiras pesquisas que estão sendo divulgadas pela imprensa?
Pesquisa para qualquer gosto. Na pesquisa você faz o que quer. Se você começar a analisar a pesquisa nesse período, agora, faltando quatro meses para as eleições, pegue quatro meses para as eleições passadas. Eu e o Dr. Pessoas estávamos massacrados. Aí quando chega na semana da eleição, eles começam a ajustar a pesquisa. Então, pesquisa é o maior crime que se pratica contra a democracia. Na pesquisa cada um tem o paga pra ter. Se você pagar, tem o que quer. Então, nós fazemos pesquisa de vez em quando, a prefeitura, mas para consumo interno, para medir o saber que o povo do Piauí precisa, que Teresina precisa, o que o povo mais quer, para interpretar as aspirações do povo de Teresina.
O senhor avalia como boas relações do Governo do Estado com a Prefeitura de Teresina nos últimos anos em benefício da capital? O que poderia ser melhorado para que o governo contribua mais com Teresina?
Falando a verdade aqui para você: nós estamos com um ano e seis meses, quase, de administração. Fizemos um único convênio com o Governo do Estado, um convênio de seis milhões, e desse convênio de seis milhões até agora recebemos dois milhões. Então, acho que o governo tem mais convênio e mandou mais recursos para Pavussú do que para a capital Teresina.
No interior do Estado, quais as carências o senhor apontaria como relevantes, e que merece uma atenção mais urgente do Governo do Estado?
O Piauí é um Estado pobre ainda. Tudo no Piauí é importante e relevante. Nós temos que repensar o nosso modelo de saúde do Piauí. As pessoas pobres às vezes precisam de uma cirurgia e espera 4, 5 meses. A pessoa recebe um diagnóstico de câncer, que é como levar uma facada no peito, e leva mais de um ano para começar o tratamento. Então, a saúde é uma coisa gritante. A saúde é uma coisa ofensiva. A saúde é uma coisa violenta. Se você pegar a tabela SUS vai ver que está com oito anos sem reajuste. Então, os hospitais não têm interesse em atender ninguém pelo SUS. Dão preferência aos planos de saúde, dão preferência ao particular. Então, quem só faz tratamento pelo SUS é o pobre, e a pessoa pobre, é o desempregado, é o subempregado, é pobre. E esses pobres geralmente ficam para morrer na fila.