Por Cândido Gomes e Marcelo Costa
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Para Madalena Nunes, advogado, servidora da Justiça Federal e ex-professora e representante do PSol na disputa pelo Governo do Estado do Piauí, a violência dentro da sociedade começa com o fato de centenas de pessoas não terem um lugar para morar, não tem trabalho para garantir o mínimo para a sobrevivência. “Daí, nossa avaliação de qual o caminho de como reduzir a violência no Estado”, diz. Em entrevista ao SERTAO.ONLINE, a candidata falou ainda a fundamental importância da participação da mulheres na política e em todos os segmentos da sociedade. Confira:
Sempre que entrevistamos candidatos ao governo do Piauí, iniciamos com a seguinte pergunta: qual o seu diferencial e o que lhe credencia a ser a governadora do Piauí? Ou seja, porque os eleitores devem votar na senhora?
Na questão da escolha, o que a gente convida é conhecer o nosso programa, porque não é votar em mim, é votar em uma proposta de transformação da sociedade piauiense. Nós temos hoje uma situação muito difícil, especialmente para a maioria da população. Mas qu de fato é chamado de minoria, porque tem menos direitos. Porque nós vivemos numa sociedade que garante o Estado máximo para um setor da sociedade, para a classe dominante, e o Estado mínimo que a maioria das pessoas e nós, do PSol, propomos inverter essa situação. Para nós, a maioria da população tem que participar do governo, tem que ter os seus direitos garantidos, porque de fato é quem sustenta o nosso país. A classe trabalhadora, em especial as mulheres, as mulheres negras, a juventude, a comunidade LGBT, as comunidades tradicionais. Essas pessoas é que sofrem com as consequências da concentração de renda. O nosso país é muito rico. É bom que se diga, é uma das maiores economia do mundo, e nós temos 33 milhões de pessoas passando fome. Mais da metade da população tem insegurança alimentar. Então, nós propomos uma política pública, o Estado entrando como fomentador de garantia de direitos, de inverter essa lógica da produção. Então, nós convidamos as pessoas a vim democratizar o poder e democratizar o Estado. Por isso, nossa candidatura é diferencial. Porque não é Madalena que vai resolver o nosso problema. Somos nós organizado. Nós convidamos essa organização, essa participação e o Estado tem que ser democrático. Então, para nós, os movimentos farão parte do governo e é construindo com os movimentos, dentro desses espaços que nós vamos transformar essa realidade com políticas públicas.
Não poderíamos também deixar de destacar a educação, já que a senhora tem quase 30 anos de experiência de atuação nesse setor. O que está acontecendo de errado com a educação do Piauí e o que precisa ser mudado, na sua opinião?
Nós trazemos, um dos eixos do nosso programa para transformar o Piauí é a educação, a educação libertadora, reafirmando o legado de Paulo Freire. Nós entendemos que a educação não pode ser uma fórmula, não é uma fórmula. A educação tem que considerar o ambiente das pessoas, tem que considerar a cultura, tem que considerar que as pessoas têm a sua própria construção social, tem a sua própria cultura. Então, não podemos permitir que que uma fórmula mágica venha a transformar a educação. Então, primeiro, como nós colocamos, não há prioridade para a educação. A educação é relegada. Tanto é que aqui o Piauí, por exemplo, é o quarto estado do país com mais pessoas analfabetos, o que é um absurdo, que é um escândalo. Nós temos escolas fechadas, o que é inaceitável fechar escolas. Temos escolas fechadas, inclusive das comunidades quilombolas, que devem ter prioridade numa pauta de governo da educação que se quer libertadora. Então, nós entendemos que o nosso Estado também é rico e se tiver uma política voltada para transformar a sociedade, vai garantir o funcionamento dessas escolas como atrativo das crianças e juventude. As escolas faltam laboratórios, não tem quadros, não tem esporte, não tem lazer, não tem cultura, não tem um projeto de educação que englobe a vida real das pessoas. Então, nós temos como proposta, exatamente, construir esses espaços atrativos. E isso só se resolve, só se será feito com investimento público. Nós defendemos o serviço público, defendendo as professoras, os professores com salários dignos. No nosso governo não acontecerá, por exemplo, de ter uma greve que durou mais de 120 dias e que não foi aberta uma mesa de negociação, que isso é costumeiro. E a gente tem um modelo de Estado que não respeita o direito da classe trabalhadora. Muito pelo contrário, são políticas que vêm no sentido de retirar direitos. O governo federal, por exemplo, não garantiu um reajuste nesses quatro dessas três, quase quatro anos que está aí. É um absurdo porque tem inflação e todo mundo que estamos assistindo sabe o quanto as coisas aumentaram, o quanto o quilo de feijão, de arroz, o quanto a conta a luz, água, enfim, gasolina, tudo aumentou, tudo aumentou. E não pode se conceber um salário congelado. A gente ter as pessoas não categoria, como foi o caso da educação, faz greve e não é negociado seu direito, que é um direito legal, que é um direito garantido na lei federal para respeitar esse direito com a categoria, com o sindicato, com a classe trabalhadora. A mesma coisa, por exemplo, é a política do prefeito. Então, você vê que há uma intenção, uma construção, um propósito de destruir, de desmontar o serviço público, começando pela educação e a saúde. A gente está vendo o governo federal promovendo inúmeros cortes na educação, na pesquisa, nas universidades e também na saúde.
E educação municipal?
A educação municipal é uma tragédia, porque a gente vê uma categoria que está em greve há mais de seis meses, ou seja, um ano letivo está comprometido. Até o momento, a prefeitura não chamou para a negociação. O que nós temos? Uma categoria com a maioria mulheres, que a gente sabe a dificuldade que é para as mulheres conciliar suas obrigações enquanto mãe, enquanto filhas, enfim, enquanto dona de casa, com o trabalho, e mais ainda com a greve, com um período tão longo. Então, pra nós é uma tragédia, é um desrespeito. É inaceitável que o prefeito não negocie com categoria tão importante como é a categoria da educação. Após seis meses de greve, onde prejudica as famílias, as crianças que estão sem escola, as professoras que inclusive tiveram seus salários cortados, o que é um absurdo e uma afronta à Constituição, à democracia também. Também a gente entende que não é só a categoria que é afetada, é também as famílias e a sociedade como um todo. Desrespeitar a educação está lhe desrespeitando, está me desrespeitando, está desrespeitando toda a sociedade. Então, o que nós fazemos é lamentar e repudiar uma postura autoritária, que não negocia e permite que uma categoria perdure por mais de seis meses numa greve, que é uma reivindicação legítima, uma reivindicação que é uma garantia legal de reposição salarial, tal qual está previsto na lei, que é 33,3%.
O PSol é um partido que traz em suas propostas temas como o combate à fome, geração de empregos, entre outras questões consideradas urgente. Por qual motivo a senhora acredita que o partido não recebe uma quantidade de votos capaz de chegar ao segundo turno, já que são questões cobradas por toda a população? A senhora acredita que nessas eleições será diferente?
Primeiro eu agradeço pela pergunta, porque é realmente que a gente precisa dialogar sobre essa situação, porque nós temos uma proposta de um programa socialista. Nós queremos construir o socialismo que valoriza a construção coletiva, valoriza a socializar as riquezas, valoriza a distribuição de renda, defende que as rendas dos mais ricos, que é quem concentra 80% das nossas riquezas, seja distribuído para que não haja a exclusão social. Então, o que é que a gente vê? Por que as pessoas não participam? Porque a postura dos políticos atual, e de muito tempo, desde a colonização do Brasil, de quem detém o poder, os governos, é afastar as pessoas da política. Dizer que política não se discute, é não querer que a pessoa se aproprie do conhecimento libertador, como defende Paulo Freire, o conhecimento a partir da sua realidade, que lhe considera sujeito e sujeita da história. Então, o que nós entendemos? Existe, além de toda uma estrutura que é criada para ser mantido exatamente a exploração de um sobre o outro, de uma classe sobre a outra, existe uma, digamos assim, uma organização de Estado que envolve todos os espaços de decisão de poder por essa classe dominante. As pessoas não têm conhecimento da maioria das coisas que acontecem no Brasil, por exemplo, a maioria das pessoas não sabe que o governo federal, mas também o estadual, congelou os investimentos públicos por mais de 20 anos, com a emenda constitucional de teto de gastos. A maioria das pessoas não sabe que a reforma trabalhista foi feita e foi aprovada e tudo isso aprovado no Congresso pelos deputados eleitos pela a maioria da população dessa sociedade que está sofrendo as consequências. A terceirização é restrita, à reforma da Previdência, então todas essas reformas atinge a sua vida, a minha vida, a vida da classe trabalhadora. E o que é que acontece? A gente tem um meio de comunicação que é também controlado e não permite que as pessoas tomem conhecimento do que aquela medida vai afetar, vai afetar a sua vida. A maioria das pessoas que hoje passam fome é por conta dessa política, que é, como eu disse, proposital, é um projeto da classe dominante de nos matar de fome, desempregados, sem direitos, sem escola, sem moradia. É um projeto. Por quê? Porque a lógica do capitalismo é essa. É acumular riquezas para uma pequena minoria e excluir a maioria das pessoas da divisão do bolo. A gente tem isso. A gente viveu na ditadura, inclusive dizendo vamos deixar o bolo crescer. Agora é a mesma coisa, então deixar o bolo crescer e eles abocanham o bolo todo para eles. Então, nós temos de fato, enquanto PSol, Partido Socialismo e Liberdade, nessa campanha, inclusive, trazemos a proposta da construção do Piauí para o Bem Viver. Sueli Osmarina, porque nós entendemos que é isso. Nós temos que construir o Piauí do Bem Viver, que é um Piauí que alcança as pessoas excluídas do sistema e nós só vamos conseguir isso de forma organizada. Nós não acreditamos no individualismo, no voluntarismo. Nós acreditamos que a classe trabalhadora, organizada nos seus sindicatos, nos locais de trabalho, nos locais de moradia, nos locais de estudo, a gente consiga a partir daí, e lógico, contestando a forma como o Estado é estruturado, a gente consiga transformar a realidade e fazer com que as pessoas percebam que votar no PSol, voltar na Madalena e ser governador do Piauí é votar numa lógica que inverte a prioridade, porque nós defendemos o serviço público, o direito das pessoas, o direito da classe trabalhadora, dos servidores públicos. Nós achamos que é com a nossa organização que nós vamos garantir. Por exemplo, a gente tem um salário mínimo de 1.200 reais. Isso é um absurdo, é um absurdo. De acordo com o Dieese, por exemplo, o salário mínimo para atender as necessidades básicas de uma família com quatro pessoas, por exemplo, seria de em torno de 6.000 reais. E é isso que a gente acha, e o Estado pode. O nosso Estado do Piauí é rico em terra, rico em água, rico em trabalho. As pessoas comprometidas com o Estado, comprometidas com sua vida, com o seu trabalho, com o seu bem viver. Portanto, o que a gente precisa é distribuir, porque enquanto você ganha 1.200 reais, um deputado ganha seus 100.000 reais, por exemplo, e o governador do Estado não tem despesa nenhuma, com nada e ganha sei lá quanto, por que muda né, eles que mandam no salário deles. Mas é isso, nós querem dizer que nosso país é rico e está concentrando cada vez mais riquezas nas mãos de poucos. Nós precisamos nos organizar e votar em propostas que propõem inverter essa política.
Um dos principais destaques da sua relação de propostas é o combate à violência contra a mulher e a igualdade de direitos. A senhora avalia que a participação na política é um dos principais caminhos para se combater esse tipo de preconceito. Na sua avaliação, muitos eleitores não votam em mulheres também por conta deste preconceito?
Sim, é porque nós temos uma estrutura social que se sustenta nos preconceitos, o capitalismo se sustenta em preconceitos, em exclusão, como a gente colocava há pouco. É a exclusão para acumular riquezas para algumas famílias tradicionais, que é o que pensa que a política, por exemplo, é uma herança, que é hereditário, que passa de pai para filho e pior que isso, vai se consolidando. E nós queremos quebrar com essa lógica porque entendemos que é diferente. Realmente é o que nós trazemos com muito cuidado e valorização, porque a mulher não pode ser violentada como é violentada nessa sociedade machista, em especial a mulher negra. Nós temos aí uma violência muito grande que nós não podemos aceitar. Não podemos aceitar porque na estrutura capitalista da sociedade, disseram que nós somos inferiores ao homem, disseram que as pessoas negras são inferiores às pessoas brancas. Disseram que as pessoas LGBTQIA+ são inferiores às pessoas heterossexuais, então cria um modelo que se você não seguir aquele modelo, você está fora dos direitos, lhe retira também um direito. Nós, mulheres, inclusive, somos vitoriosas a partir da nossa luta e da nossa organização, porque há algum tempo nós não podiam nem votar e erámos proibidas votar. E hoje nós estamos aqui concorrendo para governadora. São duas mulheres negras para governadoras do Piauí. Isso é um direito que nós não abrimos mão e um dos objetivos da nossa campanha é pautar a participação da mulher na política e nos espaços de poder e dizer que nós somos maioria da população e do eleitorado. E a outra metade são os nossos filhos, nós somos mais da metade e os 48% são nossos filhos, são filhos das mulheres, são os esposos, são os pais, são os maiores da eleição, é a nossa família. Então, nós podemos transformar, criar uma nova cultura de valorização da mulher, inclusive nos espaços de poder. Não vai ser fácil, porque isso é uma estrutura e isso faz parte, é um pilar que sustenta o capitalismo, o machismo, o patriarcado. Como eu disse, nós mulheres não podíamos votar, não podíamos estudar, não tínhamos direito à herança. Tinha que aparecer um homem para herdar, porque nós não podiam, tanto é que ainda hoje a maioria, a grande maioria dos riscos são homens brancos, porque tem sido construída toda essa estrutura de preconceito contra qualquer, digamos assim, diferença de que é o que é o natural do ser humano. Nós somos diferentes em vários aspectos. Só que neste estereótipo o que se criou para denominar a classe dominante, que eu chamo de estereótipo, que eles dizem que eles tentam nos estereotipar, que têm que ser homem, que tem que ser branco, tem que ser rico. Nós queremos dizer que não. Nós, mulheres, mulheres negras, podemos e devemos disputar na política o nosso espaço de construção de poder para a gente transformar essa sociedade numa sociedade igual, numa sociedade socialista, democrática, porque nós temos a proposta de democratizar a sociedade e radicalizar nessa democratização com participação popular, fortalecendo esse poder popular. Nós achamos que quando a sociedade se organiza, ela vence. Foi assim com todos os nossos direitos. Nós não tínhamos direito a jornada de trabalho. Nós conquistamos no organizando nos sindicatos e lutando por um salário, por uma jornada, por ter um dia de descanso. Então, tudo isso são conquistas que inclusive foram retiradas na reforma trabalhista. Nós chamamos a atenção porque quem retirou nossos direitos foram os governos, a partir de suas propostas, mas foi aprovado na Assembleia Legislativa do Piauí, foi aprovado na Câmara e no Senado. Então, o que a gente observa? Quais os partidos que se compromete com a pauta da classe trabalhadora, com a pauta das mulheres, com a pauta das pessoas, da população LGBT, da população indígena, dos quilombolas? Tem aí divulgado na internet, em várias páginas, como votaram os parlamentares nessas matérias. Então, é muito importante você saber. O deputado que você votou na eleição passada, votou contra você quando retirou o direito à educação, congelando o investimento na educação, por exemplo, congelando o investimento na saúde. Então, é importante ver isso. Então, a gente sabe os partidos que votaram a favor, esses desses partidos que dão sustentação ao projeto de destruição do Brasil, o projeto neoliberal que retira direitos. Esses partidos que estão dizendo que vão resolver sua vida hoje, procure, porque eles estão aí há muito tempo. Então, dá para você conhecer e saber se pode ou não acreditar se eles vão garantir o seu direito e, principalmente, se a gente vai conseguir transformar a nossa sociedade numa sociedade feminista, porque a sociedade feminista não mata, cuida. Todo mundo sabe que a mulher cuida, nós mulheres cuidamos de crianças, de idosos, cuidamos da juventude. Então, é isso. A gente quer transformar a nossa sociedade, desconstruir o machismo, construir uma sociedade feminista.
O PSol é um partido que surgiu por discordar de muitos pensamentos de partidos que naquela época ainda eram tido como de esquerda. Essa discordância ainda permanece ou o Psol já pensa em buscar aliados ou até mesmo formar alianças em um possível segundo turno?
Não, nós temos, por exemplo, nacionalmente, nesse momento uma posição de derrotar o fascismo, que quer se apoderar do nosso país. Então, nós tiramos uma posição para derrotar Bolsonaro no primeiro turno e a candidatura que se apresenta viável no país é a candidatura Lula. Então, nós do PSOL estamos apostando na eleição do Lula no primeiro turno. Fora Bolsonaro, porque nós entendemos que ele piorou. Se a gente vinha num processo de retomada de direitos, mas sofrendo ataques, mas pelo menos com espaços democráticos de debate, de construção de alternativas, esse processo foi estancado pela eleição do Bolsonaro e a partir de então só temos ataques à nossa classe e aos nossos direitos. Nós morrendo, as mulheres sendo assassinadas, seja dentro de casa, seja nas ruas, seja, enfim, nas festas. A juventude também sendo atacada, as pessoas que eles consideram excluídos desse processo todas e ele pregando o ódio, pregando o ódio, pregando, enfim, envenenando as pessoas, apostando no agronegócio e dizendo que, enfim, que as pessoas negras tem que morrer, mesmo que as mulheres não precisa, que é feia, que não vai ser estuprada porque é feia, é muita violência, que ele nos ataca todos os dias. Então, nós temos essa posição nacional e aqui no Estado nós estamos disputando para ganhar. Nós queremos é pedir apoio para nós no segundo turno. Essa polarização que eles criam, é criado porque é para manter os interesses da classe dominante, porque tanto uma candidatura polarizada de um lado conta do outro vão atender os interesses da classe dominante. Nós estamos aqui para dizer: olha, eleitora, eleitor, juventude, pessoas LGBTQIA+, mas nós temos alternativa de esquerda. É possível virar o jogo.
Alguns críticos colocam que questões como as que são levantadas pela senhora e seu partido, como combate à fome, falta de moradia e geração de emprego, são discursos vazios por não indicar como fazer tudo isso através da economia. Como a senhora vê essa crítica? Como seu governo vai tratar esse setor?
Então, para nós, é possível. Para nós é possível porque, como eu já disse, o nosso país é uma das maiores economia do mundo. O nosso Estado também tem pessoas muito ricas no Piauí, o que demonstra que é possível garantir a distribuição de riqueza. A questão da renda e do emprego tem que inverter a lógica. Porque o que acontece? As políticas neoliberais, que a gente chama de neoliberais, mas na verdade, é uma política de ataque a direitos da classe trabalhadora, ela tem a lógica de privilegiar um setor em detrimento do outro. A gente tem hoje, por exemplo, a agroecologia totalmente abandonada e não tem incentivo as pessoas. As pessoas trabalham por conta própria, sem nenhum incentivo do governo, sem empréstimo. A gente defende que o Estado fomente políticas públicas. O público que nós arrecadamos com o nosso dinheiro para retornar para nós não é para concentrar na mão de homens brancos e ricos que está no poder, digamos, desde que o Brasil foi invadido pelos europeus, pelos portugueses que chegaram matar a população indígena, que disseram que tínhamos dizimado, não dizimaram. Eles pensaram que tinham matado. Da mesma forma trouxeram as pessoas negras, as pessoas da África para escravizar aqui e querem continuar nos escravizando, dizendo que não pode atender nossos direitos. Continua o trabalho escravo ainda hoje e quando você trabalha só para comer, quando tem a comida, quando você não tem moradia, então isso tudo para nós é um direito. E o Estado do Piauí é muito rico, basta garantir a distribuição das riquezas, fomentar a construção de produção com as mulheres, especialmente, que são as mais afetadas e mais abandonadas por essa política que nos exclui. Mas as mulheres podem ser organizadas em cooperativas, assim como a juventude pode ser organizada em cooperativas, cooperativas de costureiras, de bordadeiras, cooperativas agrícola, com a agricultura familiar, mas não só isso, que respeite os direitos, de construção das comunidades, de uma nova cultura, com o fomento no esporte, o esporte também é a produção, entendeu? Aliás, tudo é produção, tudo é produção. Ainda que eles digam que o que a gente produz não vale, mas são riquezas. E nós queremos dizer que essas riquezas, todas as riquezas de todas as construções das comunidades, serão valorizadas no nosso governo. Então, nós acreditamos, nós apostamos numa por uma saída coletiva, construindo cooperativas nos vários setores de produção, incluindo as mulheres no trabalho e respeitando os seus direitos, respeitando o direito de quem trabalha, de quem vive do trabalho, fomentando a agricultura. Porque nós sabemos que o nosso Estado é muito rico em terra, em água. Não justifica a gente ter pessoas passando fome numa terra tão rica como o Piauí e basta ter uma prioridade do governo, investimento com políticas públicas. Inclusive a gente tem duas universidades, três instituições superiores que estão aí formando a juventude em agricultura, formando professoras, formando pedagogas, enfim, e que tão sem ser aproveitada porque não tem essa construção coletiva de cooperativas e não tem a assistência técnica, os pequenos agricultores, as pequenas agricultoras quebradeiras de coco estão abandonadas a própria sorte, porque não tem um fomento que priorize aquela construção coletiva, que garanta a produção e, ao mesmo tempo, respeite os direitos de quem trabalha. Então, o nosso Estado é muito rico. Se a gente quiser, a gente vai ser, inclusive referência, que é isso que nós trazemos no nosso programa. Nós queremos referência em produção da agroecologia. Nós defendemos um desenvolvimento ecossocialista.
Outro tema que chama a atenção na sua relação de propostas é o eco socialismo, que acabou de falar. A senhora poderia explicar melhor do que se trata e como pretende implantar essa mudança aqui?
É a realidade concreta que os nossos, digamos assim, os investimentos que chegam, chegam para as pessoas ricas. O agronegócio, para nós, não precisa de investimento público, porque já é rico. Os grandes empresários não precisam de incentivos fiscais, porque eles são o que eles têm que dar conta proposição deles, para garantir que as coisas que eles acumularam acumulado sejam distribuídos. Então, o que nós chamamos de ecossocialismo, e é um debate muito importante para o PSol, nós precisamos cuidar do meio ambiente. Nós precisamos cuidar da natureza, da Mãe Terra, que nos alimenta todos os dias, das águas, das florestas. Nós precisamos cuidar de quem sustenta, nos sustenta no mundo. Então, o ecossocialismo traz exatamente essa reflexão. Nós precisamos mudar, inverter as prioridades. A política hoje que está sendo implementada no Brasil com esse desenvolvimentismo, está destruindo a natureza, inclusive colocando em risco a vida das águas, das florestas e a vida da própria humanidade. Se não imediatamente não inverter a lógica de produção. Então, pra nós, o eco socialismo é aquela produção que respeita os direitos das pessoas e, ao mesmo tempo, respeita o meio ambiente, tirando da terra o seu sustento e cuidando da terra para que ela não seja atacada, que ela não seja destruída, porque a terra que nos sustenta, é o ecossistema que nos sustenta. Então nós temos que cuidar e o cuidado passa por inverter essa lógica. Nós temos que trazer as pessoas negras para usufruir das nossas riquezas, para ter os seus direitos garantidos. As mulheres têm seu direito garantido. Temos que trabalhar uma nova cultura, porque para nós, a produção não é só o produto em si. Esse produto passa por vários processos. Teve uma pessoa que foi cuidar de uma parte, foi trabalhar lá na roça, por exemplo, sem nenhum incentivo, sem nenhum trator, porque não tem nem um trator para ajudar aquele pequeno agricultor. Que cultura cuidar da sua terra e plantar. Então, ecos socialismo é também cuidar do meio ambiente e dizer que não existe superioridade, nós somos iguais. Não existe superioridade de nenhuma forma, nem do homem em relação à natureza, nem do homem em relação à mulher, nem do homem em relação à juventude. Então nós somos iguais e em busca dessa igualdade que nós queremos inverter a lógica da produção para uma produção eco socialista.
Para a senhora, o programa Minha Casa, Minha Vida foi eficiente no combate à falta de moradia? A senhora planeja trabalhar da mesma forma ou tem plano diferente para esse setor?
Não. Nós não vamos trabalhar da mesma forma. Mas nós achamos que é muito importante programas como o Minha Casa, Minha Vida, Luz para Todos, Internet para Todos, porque não faz sentido alguém ficar no meio da rua que não porque não tem casa, porque a gente tem muito casa. Tem inclusive muitos prédios abandonados. Tem inclusive conjuntos habitacionais que são construídos e que não são organizados para as pessoas ocuparem e vão lá se destruir, se auto destruir ou pela natureza ou pela depredação. Então, garantir moradia para todos, para nós, é possível. Aliás, bastava ter uma reforma urbana para garantir que todas as pessoas tivessem a sua moradia. Para garantir que todas as pessoas tivessem emprego, tivesse seus direitos mínimos, sua dignidade garantida. Então, a lógica que nós achamos de transformação é isso. Nós não vamos permitir, por exemplo, que se construa com dinheiro público, porque para nós isso é a pessoa, às comunidades, organizada, que tem de dizer que, como já disse para nós, é radicalizar a democracia, fortalecer o poder popular, trazer os movimentos para os espaços de decisão de poder. Então, as pessoas vão dizer em comunidade tal porque a gente tem uma lógica de jogar as pessoas lá bem distante do centro, que é para as pessoas ficarem abandonadas, não poderem nem se locomover ao centro. Porque é um absurdo deixar as pessoas nas comunidades isoladas sem ter um meio de transporte, com terras e estradas ruins, muitas vezes nem existem estradas, muitas comunidades de uma localidade para outro. Então não é essa lógica. Não é apenas construir casas, é construir a partir do debate daquela comunidade que pode ser feito para transformar e garantir direitos nas comunidades. Nós achamos que é possível e nem é tão caro, mas achamos que existe inclusive uma necessidade de ter um inter-relação na inter-relacionar estados, sociedade, movimentos sociais, poder popular em terra, inter-relacionar política pública, municípios, estado, União. Porque não é possível você trabalhar para atingir, por exemplo, nenhuma pessoa sem casa, nenhuma pessoa sem escola? Não é possível garantir isso sem um diálogo, sem trazer os movimentos, os espaços de decisão de poder.
Professora, é a crise da segurança pública. Como a senhora deve agir para corrigir esse problema? Acredita que uma maior participação da mulher também na polícia seria um bom caminho?
Sim, as mulheres têm que estar em todos os espaços. Como nós somos maioria da população, inclusive do eleitorado, não deveríamos ter maioria em todos os espaços também de produção, também de trabalho. Agora tem alguns espaços que nos exclui e isso a gente quer garantir que nós estejamos em todos os espaços agora em relação a segurança. Existe uma lógica no Brasil, e no Piauí também, de que a violência vai resolver o problema da violência. E para nós não é isso, para nós não é a violência que vai resolver. Para nós, a violência gera mais em homens, tanto que nós temos uma polícia que mais mata. E isso as pesquisas colocam. E temos a polícia que mais morre também em conflitos. Então é inaceitável. E aí, o que é que a gente propõe? Como primeiro a questão do emprego? Como é que? Como é que uma violência dessa, que a pessoa ficar sem emprego, que tem a maior violência, a pessoa você não ter sobrevivência. Essa é uma violência muito grande que o Estado e o sistema está promovendo contra você. Então, a violência já começa ai. Você não tem o que comer. 33 milhões de pessoas, boa parte dessas pessoas aqui no Piauí sem ter o que comer. Isso é uma violência muito grande. Então, o que nós achamos, como a gente coloca, é trazer os movimentos para construir. Quais as saídas? Por exemplo, numa comunidade, o que nós vemos dentro dessa comunidade, a gente chega lá, o Estado não alcança essa comunidade, não tem escolas, digamos assim, equipadas que têm uma atração, como já foi colocado de uma quadra de esporte, de cultura, que envolve as pessoas que trazem as pessoas, a juventude, para frequentar essa escola. Muito pelo contrário, o que tem lá essa escola fechando. A gente não tem um posto de saúde que atenda adequadamente. Se a pessoa precisa ir ali, não vai ser resolvido, até porque a saúde é centralizada aqui em Teresina, as pessoas têm que se deslocar de outros municípios para ser atendido. Na maioria das vezes nem conseguem o atendimento. Então, a gente a gente propõe que dentro dessa comunidade seja construída as condições de uma relação de cooperação, que garanta os direitos daquela comunidade, com emprego, geração de renda, inclusive a partir do esporte, mas a partir da cultura, a partir da própria produção. Qual a produção viável? Qual a afinidade daquelas pessoas para determinada produção? Porque todo mundo traz dentro de si o dom de construção, inclusive construção produtiva, que possa gerar renda e, ao mesmo tempo, garantir uma formação dos policiais, dos agentes policiais, uma formação comunitária. Nós defendemos um agente comunitário e não agente de polícia para matar as pessoas, a juventude nas comunidades. Então, nós entendemos que essa formação continuada de valorização da carreira também, porque quem é policial também tem que ser protegido pelo Estado. Você tem policial que morre em conflito ao mesmo tempo que mata também indica uma necessidade de proteção do Estado também aos policiais. Então, nós achamos que essa formação tem que passar por uma política continuada de defesa dos direitos humanos, de respeito à população LGBTQIA+, de respeito as mulheres negras, as pessoas negras, as mulheres em situação de violência, que são muito desrespeitada pelos policiais porque é uma construção machista e a polícia acaba reproduzindo o mesmo sendo machista, não é nem reproduzindo, sendo muito machista com as mulheres, inclusive em situação de violência. E para desconstruir isso, você precisa trazer a polícia para dentro da comunidade. A polícia não vai chegar para matar ela vai chegar para proteger, porque é esse o papel do Estado. É organizar um policiamento que para nós não tem que ser militarizado. Para nós tem que ser um policiamento que humanize as pessoas, humanize inclusive a polícia, que a polícia parece que chega como se fosse um ser diferente de um homem. Então, nós achamos que isso é uma polícia comunitária, com uma comunidade onde o Estado respeite os direitos daquela comunidade.
Como a senhora vê a relação atual do governo do Estado com os municípios e, principalmente, com a capital? Na sua avaliação, uma boa relação governo e prefeitura é fundamental?
Sim, é fundamental, não por interesse de prefeito ou de governo, mas por interesse da população. O Estado não pode ter políticas, inclusive a gente dentro do movimento de mulheres, a gente defende muito essa inter-relação, interseccionalidade entre os vários órgãos de defesa da mulher que nós temos muitos. Se eu tivesse essa rede que diz que é uma pretensão e nós lutamos muito para uma construção de uma rede onde haja essa, essa interseccionalidade entre os vários órgãos de proteção à mulher, mas também de proteção de direitos humanos, mas também de produção. Porque a gente sabe que se houvesse uma cooperação entre o Estado e o município, por exemplo, Teresina e o Governo do Estado, a gente tem aqui dois rios. A gente tem possibilidade de nos tornar referência em produção agro agroecológica, por exemplo, em produção orgânica, se a gente tiver como política pública superar essa situação que nós vivemos de fome. Produção orgânica é o que nós estamos apostando para sustentar o meio ambiente, para sustentar a terra que está sendo destruída pelo agronegócio, com envenenamento, pela mineração, as águas dos rios sendo destruído. Então, nós acreditamos que é o que o mundo inteiro está conclamando é isso, que retomemos as nossas origens, e a nossa origem lá no interior, quando onde a gente nasceu, eu, inclusive minha família do interior de Nazaré do Piauí, e existia esse cuidado com a terra, é nossa mãe. Então essa produção orgânica, o que a gente chama essa produção sem a ação humana interferir na terra, sem envenenar a terra, sem agrotóxico. Então, é nesse sentido que a gente acha que existe essa cooperação, mas também em relação à saúde. Não faz sentido a gente ter 12 regionais e não ter a estrutura para receber as pessoas nas regionais, a estrutura de saúde e se centralizar tudo aqui em Teresina. Então nós defendemos tanto a desconcentração do poder como desconcentração e descentralizar o poder, não pode ficar centralizada em Teresina e nem concentrada em Teresina por ser a capital, mas tem que desconcentrar, descentralizar inclusive trazendo o governo para os demais municípios na perspectiva de construir essas cooperativas. Essa ação coletiva do município na construção de Estado tem um problema do Estado. O município não tem condição de resolver sozinho. O Estado tem obrigação de ir lá e construir essa saída, pedindo também, claro, auxílio a União, porque nós achamos que a União é quem mais arrecada nossos impostos. Então, ela tem, inclusive, mais responsabilidade para resolver nossos problemas.