Se chegar na capoeira procurando a Teresinha de Jesus ninguém vai saber quem é, mas se procurar pela contramestra Têra, todo mundo conhece. Com seu sorriso largo e alegria que lhe é característica, além de ser hoje a maior referência feminina dentro do esporte, muito em breve, se tornará de maior respaldo para as mulheres na capoeira do Piauí: Mestra Têra. Título desejado por muito tempo e que finalmente será recebido. E que orgulho! Será no dia 19 de agosto, às 17h, no Theatro 4 de Setembro. Mas a programação começa dia 17 com muitas comemorações.
A formatura será dentro do V Intercâmbio Cultural Feminino de Capoeira do Grupo Raízes do Brasil. “Esse título significa muito não só para mim, mas para todas as mulheres capoeiristas do Piauí. Da época que eu entrei em 1991, eu sou a única mulher que ainda estou na capoeira. Todas as outras pararam, por conta da casa, filho para cuidar, trabalhar fora. Para mulher é muito difícil. Então, é muito importante essa maestria para mim. Esse título dedico a todas as mulheres do meu estado que fazem capoeira, que lutam todos os dias”.
Tudo começou em 1991
Sua trajetória no esporte começou há bastante tempo. “Nasci em Timon e vim para Teresina em 1979. Foi quando conheci Mestre Tucano, Chocolate, John, mestre Bob na divulgação na capoeira. Eu não fazia capoeira ainda naquela época, mas me despertava muito ver uma roda de capoeira. Fizemos amizade, mas só comecei a capoeira em 1991, com Mestre Tucano. Foi aí que me despertou. Entrei na capoeira com 24 anos de idade”, relembra.
Primeira Mestra de Teresina
Nessa caminha cheia de muita dedicação, ela encontrou o apoio de grandes mestres, mas um em especial, não deixa de destacar um. “A minha trajetória o Mestre Tucano foi mestre mais importante e meu professor. Eu peguei a minha corda crua, a primeira, com Mestre Tucano e vou pegar a maior graduação de mestra, que é a corda vermelha, com ele. Foi uma das pessoas que mais acreditou em mim e para nós mulheres sempre foi muito difícil na capoeira. Imagine chegar a esse título de primeira Mestra de Teresina e a primeira Mestra Negra do Estado”, destaca.
Família na capoeira
“Quando eu me batizei, na capoeira a gente se batiza e pega a corda crua e vai passando de corda. Com o passar dos anos, você vai conhecendo mais o esporte, desenvolvendo o que você aprendeu dentro da capoeira. E isso leva cinco a seis anos para cada corda. Só nas graduações mais altas como professora na corda marrom, eu passei dez anos. Onde eu estou agora como contramestra e vou mudar para mestra passei sete anos”.
A capoeira, segundo Têra, lhe proporcionou muitas coisas boas. Construiu uma família. Seu companheiro é capoeirista tendo se tornado contramestre como ela. Morada, como é conhecido divide com a capoeirista a convivência nas rodas de capoeira e na vida. Os dois tem um filho juntos, João Gabriel, de 21 anos.
Mulher na roda e fora dela!
E chegar a essa conquista lhe trouxe muitos aprendizados e mostrou que é sempre possível buscar seguir seus objetivos. Seu papel na capoeira foi e continua sendo muito importante. “O preconceito sempre existiu contra a mulher e no esporte e na capoeira não poderia ser diferente. Eu fui a primeira mulher, eu sou, a fazer um evento de capoeira no Estado e sou a primeira mulher no Nordeste a inserir a capoeira na caminhada do Outubro Rosa. O Piauí é o primeiro do Nordeste. Existe muito preconceito a contra a mulher não só na capoeira, mas na vida, mas a gente já conseguiu quebrar muitos tabus. Imagine você eu vou me formar mestra de capoeira com 57 anos.
E eu consegui quebrar alguns tabus como eventos que eu fiz e faço, como a Integração Feminina e o Movimento Capoeira com Ela. São muitos eventos que eu lutei para colocar a mulher em evidência, mas a gente ainda tem muita coisa para conquistar. A maior conquista é a minha formatura de mestra onde eu tenho certeza que a gente vai abrir muitas portas para as mulheres da capoeira do Piauí”.
Reconhecimento
Através do evento Intercâmbio Cultural Feminino da Capoeira, ela conseguiu receber a maior comenda do esporte piauiense que foi o Troféu Carlos Said, em 2014. Foi um marco em sua trajetória, pois através deste evento que realizou alguns anos no Piauí, a contramestra Têra foi convidada para ir dar palestra e falar da sua vivência no esporte em nove estados brasileiros. Ela, também, a há dez anos ministra aulas no projeto Pelotão Rone Mirim, em Teresina, fazendo um trabalho voluntário com meninos de 7 a 14 anos.
Informações
Quem quiser saber mais informações sobre o evento que acontece de 17 a 19 de agosto dá uma olhada nas redes sociais do Raízes do Brasil que é @raizesdobrasilpiaui e confere toda a programação lá. Não perca este grande evento!
